sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Réplica

O ministro manda, chicote na secretária :-(

Lá no deserto enquanto meditava me chegou, via Corvo-Correio a última ação do meu querido amigo Czar. E como não é de costume, fui obrigado a replicar o argumento do Ministro.

Espero que minha secretária possa publicá-lo a tempo.


Osso Duro de Roer



Acho totalmente justo o Ivan invadir a minha seara pra falar do “Tropa de Elite”. Eu já tinha dito a ele que não ia comentar sobre o filme, porque já havia tantas polêmicas e analises por aí que mais uma choradeira aqui do Tio-Esquizolunático (segundo o Czar), não ia fazer muita diferença. Mas em vista do post do colega sobre o filme, aliado ao desnecessário comentário da minha secretária, vou responder.

Sim, pra mim a análise do Ivan está totalmente errada, pois existe uma diferença gritante entre Facismo e realismo e o filme do José Padilha é realista. Ele não forma em momento algum um herói, ele delineia, ou melhor, ele apenas caracteriza o policial do Brasil. O grande mal dos patrulheiros de plantão é exatamente não olhar para isso. O já mítico Zé Pequeno não é um herói; ele é vítima de um sistema opressor que tem a violência como válvula de escape a pobreza dilacerante. O capitão Nascimento por sua vez, é tão vítima do sistema quanto o bandido-herói de “Cidade de Deus”. Ele é o retrato do policial que não condições de atuar, não tem formação para entender a violência que o cerca, e sofre cobranças psicologicamente pesadíssimas de todos os lados da sociedade. De um lado, os mesmos patrulheiros que se horrorizam com o filme cobram da polícia uma atitude mais humana, mais sensata. Do outro lado a elite do Rolex, aliada a enorme massa desencefalizada, vulgo Classe Média, cobra uma polícia mais ativa e violenta, que elimine essas “anormalidades” que tanto podem ameaçar o seu paraíso de consumo. Imagine-se agora na pele de um policial como o Capitão Nascimento. Como se julgar errado? Como não ter fé que o método que propõe a “matança com motivo” não é o mais correto, o que trará o melhor futuro para os seus filhos? Aquilo que é mostrado no filme, posso garantir, é só a ponta do Iceberg do que a polícia realmente faz na periferia do Rio, de São Paulo e no resto das metrópoles do Brasil. Mas é acima de tudo REALISTA. Cabe a nós vermos o resultado do suposto heroísmo do Capitão: A violência no Rio acabou? Diminuiu, pelo menos? Não. A Própria personagem tem essa consciência durante o filme. O Capitão sabe que não vence a guerra, mas considera o seu método o mais correto para vencer. Agora, desçamos um pouco do pedestal das nossas supostas intelectualidades e pensemos: O que não pode ser mais coerente do que em vez de panfletar contra a polícia, mostrar o que ela realmente faz e como ela pensa em relação a isso? O modo como o Padilha traz a sociedade esse problema da violência urbana e suas malfadadas soluções é importantíssimo, urgente e inteligente. Vejam que ele tem a visão de um documentarista, e não de um ficcionista, e é por isso que o filme gerou toda essa polêmica nos meios intelectualóides. Começa que ele é muito bem feito, o eu gerou o adjetivo “Hollywoodiano”. Nada mais preconceituoso que isso! Quer dizer que pra um filme ter conteúdo ele tem que ser mal feito??? Haja paciência...O filme é muito bem feito sim, e méritos pro cinema nacional, que começa a encontrar o caminho entre técnica e arte, finalmente. Agora o que me dói mesmo, não é ver a classe média e as crianças aderindo aos modismos do Capitão Nascimento (isso só reforça como o filme é bom e como a atuação do Wagner Moura é excelente), me mata ver que quem deveria mostrar o quão realista é o filme e como o seu grande objetivo é mostrar a ineficiência do trato com a violência no Brasil, se debruçar sobre mesquinharias a respeito da ideologia do filme.

Tenho pena de todos nós.

4 comentários:

Carol M. disse...

Só podia ser meu Tio Vinix mesmo: é de família a afinidade intelectual!
É exatamente isso: acabei de comentar o post do Ivanito e disse que não há nada de fascista no filme. O problema é a leitura que a galera está fazendo dele- como se o Capitão Nascimento fosse a salvação da lavoura de alguém!


Duas coisas: há infinitos capitães Nascimento por aí e nem por isso a coisa melhorou; essa política de 'tolerância zero', coisa do Giuliani em New York, não funciona nada bem por aqui e, pra ser bem honesta, não funcionou direito lá também. As estatísticas melhoraram, mas adivinha só quem foi pra cadeia? Ninguém de Wall Street, Greenwich Village ou Tribeca, meu bem.
A coisa pegou mais pro West side, Bronx, Harlem.
Qualquer semelhança não é mera coincidência.

P.S: Tio, aproveite o exílio e traga pra sua amantíssima sobrinha umas caixas de prozac, além das mariolas, claro.
Estamos ferrados. Tem jeito não.

salvaterra disse...

já viu as piadas que circulam por e-mail? capitão nascimento é candidato a entrar no folclore nacional?

aí vai uma:

soltaram o coelho no mato pra ver quem era o mais "fodido" - capitão nascimento, mcgiver ou o jack bauer.

o mcgiver colheu uma moeda, um lápis e um barbante e entrou no mato onde fez um detector de coelhos e voltou dois dias depois com o dito cujo.

o jack bauer voltou com o coelho só 24 horas depois e pediu desculpas pelo atraso, já que no caminho teve que desarmar cinco ogivas nucleares, duas minas terrestres, desmantelar três células terroristas e fugir de um cargueiro que ia em direção à china.

então foi a vez do capitão nascimento:

- caçar coelho no mato? seu idiota imprestável, você acha que eu tenho tempo a perder caçando coelho no mato, seu desgraçado? você é um moleeeque! seu filho da puta! você é um moleeeque!!

então ele foi até a beira do "mato" e começou a gritar:

- pede pra sair!! pede pra sair!!

nisso saíram uns vinte coelhos, um guará, uma onça, três jacarés etc.

- tem neguinho cagão que não quer sair do mato mesmo né?

ele engatilhou a doze e nisso sai também o bin laden...

afe... tem outras ainda, mas já parei de encher o saco, pronto.

Tatu disse...

Marossi e Vinix,
na minha opinião o filme não é fascista (leiam o post direito), mas o personagem nascimento é!
Assim como o maluf assim como outros camaradas que acham que matar ou morrer é a mesma coisa.

Não precisa fazer leituras de heróis e anti-heróis para perceber que estes caras que vc citou não foram pra cadeia, mas devem ter cometido atrocidades tb.

O filme é muito bom, e se tiver efeitos de hollywood melhor para o cinema brasileiro realmente.
Mas trata-se da visão da polícia e esta visão já sabemos qual é, essa é minha opinião, talvez eu não tenha dito isto corretamente e claramente no post.

O que me chateia realmente, é o que as crianças de 11 anos estão repetindo sem saber (algumas), e esse lance de matar bandido e de bandido matar pessoas e de matar polícia parece que ficou algo normal e que não há saídas.

Discordo.
Deve haver saídas como por exemplo "tratados de paz", o estado parar de medir forças com o tráfico...Talvez seja uma das saídas realmente.

O que me deixa um pouco pensativo tb são as pessoas aplaudindo o "herói-nascimento", num filme que não há heróis e nem bandidos...
Portanto, acho que quase estamos falando das mesmas coisas.


ivan

Julia disse...

Vinix, vc fez a análise mais perfeita e lúcida do filme. E disse algo que eu venho dizendo a todos que comentam sobre "Tropa de Elite"... O Padilha é quase um documentarista, me lembrou muito o Truman Capote quando começou o jornalismo literário... É uma nova forma de retratação da realidade pela arte, e não há nada de fascista nisso, apenas realismo (infelizmente, não?)...
E sobre o Nascimento, ele é tão vítima quanto o bandido, o traficante, até o Huck (sei que vão me xingar por isso, mas ele também foi vítima, sendo rico ou não...)