sábado, 20 de outubro de 2007

Porque hoje é Sábado e ontem foi sexta feira de Peruada

Foi Peruada... Oba? Nem tanto.

Pra quem não sabe, a Peruada é uma festa da Faculdade de Direito da USP (São Francisco, conhecida como Sanfran) e ocorre toda terceira sexta feira do mês de outubro. Há várias teorias sobre como surgiu essa "micareta" que ocupa o centro de São Paulo.

Uma é que quando os calouros entravam na Sanfran, a festa de "alforria" ou algo que o valha era regada a cachaça, assim como faziam com os perus antes do abate - enchiam as pobres aves de pinga - e eles andavam pelo centro da cidade "comemorando" ou whatever.

A segunda teoria é que um professor possuía perus muito bons, premiados em feiras agrícolas e que os alunos mataram, assaram e ofereceram os perus ao professor em um banquete e que ele se fartou com as aves sem saber que eram os seus animais.

Com teoria "a" ou "b", a peruada começou lá pelas 10h30, em um local restrito para os estudantes que adquiriram os convites, um estacionamento vazio no Largo do Paissandú. Lá dentro, o open bar rolava solto e a pegação já tinha começado.

A Partir das 13h o pessoal sai atrás de um trio elétrico pelas ruas. O trajeto passou pelas avenidas São João, Ipiranga, praça da República, São Luiz, viaduto 9 de Julho, rua Maria Paula, viaduto Brigadeiro Luis Antônio, rua Cristóvão Colombo, largo São Francisco, rua Libero Badaró, viaduto do Chá, praça Ramos e rua Conselheiro Crispiniano, até voltar ao estacionamento.

Coisas que vi durante a Peruada: um boquete, sexo explícito, umas esfregadas que um cara deu por trás de uma mina que ele não conhecia, muito beijo na boca e em outros lugares, homens fazendo xixi no canteirinho da Av. São Luis na frente dos policiais, dentre outras atrocidades.

Isso aconteceu (achar que são atrocidades) porque meu nível etílico estava muito baixo pra tudo aquilo fazer sentido. Odiei a Peruada esse ano. Odiei. É uma farsa: deveria ser uma festa política, mas é um circo. Deveria ser diversão, mas no fim é só um porre. Pra quem não está bêbado, não tem graça nenhuma andar atrás de um caminhão com som alto, música ruim e pessoas fantasiadas trombando e derrubando vinho em você. Vinho ruim, ainda por cima.

Não quero ser a reclamona que porque não bebeu e não beijou odiou a festinha que todo mundo adorou. Mas é que quando se olha bem de perto, tudo aquilo parece estúpido. Beijar pessoas que você nunca viu na vida, ou tentar beijar a mina vadia porque vai conseguir alguma ação, ou beijar a mina mais bêbada porque é mais fácil. Ninguém curte ninguém, ninguém gosta de ninguém, é tudo plástico e nonsense.

Olha, não entendo mesmo o "modus operandi" da peruada e dos homens e das mulheres e dos ohni's (objetos humanos não-identificados). Não faz sentido nenhum aquela contabilidade competitiva tipo "quantos você beijou? Três? Ah, eu beijei cinco!". Eu beijei ZERO. Talvez seja mesmo porque, pra mim, beijar é bom demais pra ser desperdiçado em quem eu nem conheço ou não gosto nem um pouco (ou não sei por onde a boca andou)...

Quem mandou ficar sóbria?

12 comentários:

salvaterra disse...

julinha, continue sóbria. caímos na cultura da cana ultimamente... ninguém escapa dessa "felicidade". quem bebe tem o que contar. quem não bebe tem mais um pouquinho.
eu também não entendo esse placar "beijei quinhentos desconhecidos"... vou pensar assim: é um fetiche essa coisa de beijar um desconhecido... esse negócio de chegar bem vagabo e vagaba e conquisteiros e soltar a língua... mas e aí, overdose, e ainda por cima caçar caçadores que só querem números no placar.... fica tudo muito fácil e onde fica a graça? sei não... pra mim perde toda o tesão que tinha na primeira idéia, a do fetiche de se "conquistar" um desconhecido e já ir enfiando a língua.

ah, sei lá.

Anônimo disse...

Nunca entendi direito esse negócio. Acho que, mesmo como fetiche, cansa. É como jogar a mesma fase do mesmo jogo milhões de vezes. Na cidadezinha do interior onde morava, se havia uma festa e minhas amigas não "pegavam" ninguém, a festa havia sido um desastre. Como se todo o divertimento possível em uma festa se resumisse em beijar alguém, conhecido ou desconhecido (claro que os forasteiros tem um valor especial nas cidades pequenas... tsc). Conversar, rir, trocar idéia pra quê? Temos que fazer jus ao calor tropical corrente em nossas veias que gostamos tanto de alardear lá fora pra chamar turistas e depois ficar com aquela cara de "garota-esperta-que-catou-o-gringo". Sexo e pegação são bons? Ô! Mas tudo assim tão "plástico e nonsense", como falou a Julia, ao menos pra mim não dá.

Tio Vinix disse...

aiaiai...
a gente cria, a gente copia, a gente chora. Depois a gente reclama que sempre foi diferente disso.
Não perco tempo nesse tipo de festa. E não me espantaria com nada disso se tivesse tempo a perder.

Carol M. disse...

Bem, eu não curtia essas epifanias etílicas desde a época em que, teoricamente, eu deveria gostar. Agora, depois de alguns anos vividos, minha tolerância já não existe, de modo que sequer me atrevo a ir num lugar desses.

Glu, glu, glu, assim faz o peru!

Ministro Puskas disse...

Festa de peru... oras... depois vem a degola

Julia disse...

Valeu, Salva, seguirei teu conselho...

Vinix, nem acredito que perdi tempo com isso também. Tempo e dinheiro, o que é pior...

Acho que to ficando velha, Marocas...

Tatu disse...

Classe Média (autor - Max Gonzaga)

Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal

Sou classe média,
compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos” e
vou de carro que comprei a prestação

Só pago impostos,
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um
Pacote CVC tri-anual

Mas eu “tô nem aí”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “tô nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda

Mas fico indignado com o Estado
Quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado
Que me estende a mão

O pára-brisa ensaboado
É camelô, biju com bala
E as peripécias do artista
Malabarista do farol

Mas se o assalto é em “Moema”
O assassinato é no “Jardins”
E a filha do executivo
É estuprada até o fim

Aí a mídia manifesta
A sua opinião regressa
De implantar pena de morte
Ou reduzir a idade penal

E eu que sou bem informado
Concordo e faço passeata
Enquanto aumento a audiência
E a tiragem do jornal

Porque eu não “tô nem aí”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “tô nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em Itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda

Toda tragédia só me importa
Quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar
Quem já cumpre pena de vida


-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

é peruada oba? Sou classe média oba!

bom post julia, bom!

Elton disse...

Muito bom, mesmo, Julia.

Elton disse...

O álcool tem o incrível poder de deixar as outras pessoas mais interessantes. Só que no caso da peruada, antes disso você estará em coma, dada a quantidade necessária para ficar "no grau".

Julia disse...

Nem me fala, não há vodka que consiga fazer com que eu me interesse por certos indivíduos... Por exemplo, estudantes de Medicina da UNIFESP que deram uma cabeçada e quebraram o nariz de um amigo meu...

salvaterra disse...

eu mantive um relacionamento focado no alcool uma vez. a ressaca se estende até hoje.

Elton disse...

"A ressaca se estende até hoje." SENSACIONAL. hahahahah