sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sexta Literária: Moçambique

Ufa...Respirando um pouco, após playcenters, casas amarelas, aulas, alunos e aniversário do elton inicio essa sexta literária cantando parabéns pro meu amigo-irmão dos tempos do cursinho.
Tenho muita história pra contar por essa semana, mas isso deixo pra domingo.
A linha Família foi suspensa por algum tempo e resolvi comentar um pouco mais sobre uma discussão que tivemos na aula de Literatura Africana de Língua Portuguesa (Moçambique). Aproveito o momento para convocar para discussão Carol Marossi (escreve na terça-mochilão), afinal estou dando uma volta pela África.
Aproveito também para convocar meus amigos historiadores e filósofos de plantão inclusive todos os interessados em tal discussão.
Foi colocado na sala a seguinte afirmação pela Profª Regiane que em outro momento foi confirmada como verdadeira pelo Prof. Mário Lugarinho:
"Em Moçambique não houve síntese, os moçambicanos resistem diariamente pela sua identidade e língua. É fato que as pessoas que se comunicam através do português não fazem a maioria no país."
Uma senhorita sentada na ponta da sala questiona a professora com ideias de Gilberto Freire e dos estudos da FFLCH - História. A moça por sinal cursava história..Dizia que os professores de seu curso acreditavam fielmente que houve síntese em Moçambique e ela aprendera assim. Logo interpelei dizendo a ela que quem escreve a história é o branco e principalmente a história que os alunos aprendem na usp...assim como a literatura etc etc...O burburinho causado foi genial.
Prefiro permanecer imparcial, tenho minha opinião mas quero abrir o debate antes de engambelar qualquer opinião. Aproveito para ilustrar a questão com passagens do conto Godido de José Dias (1926-1949) escritor Moçambicano autor de vários contos de resistência, participante da formação da elite intelectual de Moçambique que resiste as imposiçãos e começa a discussão sobre a questão de indentidade no país através da literatura.
José Dias inicia o conto de resistência Godido resgatando a oralidade do povo moçambicano:
"era uma vêgi um dia. Barranco chigou no nosso terra. Parota tinha degi. E patrrão ficou falar assi": - "Agora machamba não é de prreto. "
e prossegue...
"O senhor Manoel Costa veio à povoação e assentou seus projetos ao lado dos negros. Trazia máquinas, autoridade, réguas. Espalhou dinheiro e panos de fantasia pelas gentes, trazendo à sua quinta os braços do setor. trabalhar para o senhor Costa era mais seguro porque se abrigavam dos maus tempos que destroem os cultivos. Os brancos até lutam vantajosamente contra Natureza."
"(...) Quatro meses andados, no lugar o senhor Costa se tornou um verdadeiro soba. Até fazia de juiz entre os indígenas."
outra passagem:
"Os produtos seguiam para grandes cidades. Na aldeia, fome.
'Di modo qui prreto trabaia, trabaia e, às vêzi, fica fome no barriga dele. Não tê comida para o gente'
Um feiticeiro disse uma vez que a fome que começava nascendo era praga dos antepassados "
No fim das contas descobre-se que Godido é filho de escravo e que a mãe incentiva e arma sua fuga. A cidade é a nova vida do menino negro, livre menino negro e agora solitário. Sempre seria negro...sempre seria visto como tal.
"(...)Godido precisava outros rumos. A vida realizava-se sempre certa onde quer que seja, mas nós não somos suficientemente fortes para compreender e executar"
vocabulário:
barranco= branco
degi = dez
vêgi = vez
chigou = chegou
machamba = campo de cultivo
parota = casebre
soba =transmissor de história, respeitado
indígenas= negros
A discussão que se faz a partir do conto é esta, sabemos que a literatura moçambicana é construída através da resistência, mas e a questão da síntese então? A história de branco é construída pra inglês e português ver?

CAI MAL comemora 2 anos e os maloqueiristas fazem evento na vila


C.A.I-MAL / D.E.Z
Centro de Ação In-formal- Espaço de Proposição do Caos Cultural-
Diferentes Estados da Zona - II Anoz

Palco I
Família Madá & Nova versão / O quarto das cinzas /Sarabudja / Encantadeiras

Palco 2
Lei di DAi & seletor Stranjah - moa ambessa sound system
Groove de RuaDesfile de moda performático TRAPO & CORA CORAL

Experimento ProsótypoOA+Récita:

Marcelino freire / Ana Rüsche / Ivan Antunes / Daniel Minchoni / Mavot Sirc & Prof.Lú / Sônia Pereira / Nando Poesia / Tula Pilar & Pedro Lucas + palco aberto

Performances:

Juliana Barros / Tiago Mine & Rafael Menta / Carlos Galdino e o candeeiro incendiário

Instalações:

Karol Pinheiro / Rômulo

AléxisFêra:

Indumentária / Artesanato / Lanches Naturais / Sucos & Chás / Banca Literária - Revista Não Funciona / OCAS / O Casulo / Autores Vivos

Sábado - 29 / 09, a partir das 14 h
Beco- Rua Belmiro Braga, s/n,
Vila Madalena- SP

ENTRADA FRANCA

Infs: cai_mal@yahoo.com.br
www.poesiamaloqueirista.blogspot.com


Eu vou, e você?

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Política pra quem?

E não é que o primeiro turno da Câmara aprovou a CPMF! Aprovou até 2011 e sem dividir com os estados! O Lula usou o argumento de que não era um poste e parece que colou com a base aliada. Também, com uma oposição daquelas... Um tal de “Jesse Bezerra” comentou na Folha Online (matéria intitulada “Câmara conclui 1º turno de votação da CPMF e da DRU; governo sai vitorioso” de 27/09) uma coisa legal sobre a oposição: “Quando a CPMF foi criada pelo governo do PSDB e pelo malhado PFL (DEM), foi uma maravilha, a salvação. Agora estes mesmos senhores acham que se trata de uma grande injustiça.” Mas a coisa ficou por aí. Seu texto prossegue numa cruzada a favor do Lula e seus programas sociais. Eu não vou responder a ele sobre as reformas previdenciárias que o presidente tem proposto, ferrando ainda mais o trabalhador; muito menos irei apontar os desvios de verba da CPMF para pagar mordomias dos servidores. Acho desnecessário isso. Mas seu ponto sobre a oposição me chamou atenção para outra coisa: a política do Planalto serve pra quê? Digo isso porque deve ter sido hilário os parlamentares, no meio da madrugada, ligando para seus nobres companheiros e pedindo para comparecerem à votação. Imaginem a cena, o “Deputado A” ligando para o “Deputado B” que estava dormindo em sua caminha king size, e dizendo:
- Ou fulano, precisamos de você aqui no plenário!
- Pra quê?
- Pra aprovar a CPMF!
- Ah! Deixe-me dormir! Passar bem!
- Ou fulano, pelo Brasil!!!!
- tuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu...
Não duvido que tenha ocorrido isso! Afinal, segundo o “jesse” quem paga mais CPMF são os ricos, então por que aprová-la? Aliás, o imposto seria justo pelo fato de que “cobra de todos, até daqueles que lavam dinheiro”. Realmente, cobra 0,38% do mais pobre correntista até o mais rico banqueiro, muito justo hein? Essa política continua servindo a interesses particulares e não ao Brasil. A oposição tenta tirar o imposto para conseguir simpatia popular e ao mesmo tempo travar a maquina estatal, pouco se importando com as conseqüências disso. O governo tenta manter o imposto para abastecer seu caixa, contribuir com os auxílios sociais e ampliar sua rede de cargos públicos. Ambos trazem benefícios a quem? A eles mesmos, às classes a que representam, aos grupos dominantes. Que raio de representatividade é essa? Eu quero ver o circo que vai ser para o Governo acalmar a base aliada no Senado (por conta dos cargos da Petrobrás), quando a votação chegar lá. Vai ser uma distribuição de cargos como jamais se viu antes! Mais uma ciranda política em cima do povo. E eu que cheguei a comentar com os outros ministros sobre a possibilidade de escrever um texto com teor positivo sobre a política. Assim fica difícil. O Planalto pede pra apanhar. Mas, quem tem imunidade diplomática precisa temer o que?

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Mito da Cassandra


A nova alcunha do Czar...


Cassandra é uma personagem da mitologia grega, filha do rei Príamo e da rainha Hécuba de Tróia.

A mitologia grega conta-nos como quando Cassandra e o seu irmão gêmeo, Heleno, ainda crianças, foram brincar para o Templo de Apolo. Os gêmeos brincaram até ficar demasiado tarde para voltarem para casa, e assim, foi-lhes arranjada uma cama no interior do templo. Na manhã seguinte, a ama encontrou as crianças ainda a dormir, enquanto duas serpentes passavam a língua pelas suas orelhas. A ama ficou aterrorizada mas as crianças estavam ilesas. Como resultado do incidente os ouvidos dos gêmeos tornaram-se tão sensíveis que lhes permitiam escutar as vozes dos deuses.

Cassandra tornou-se uma jovem de magnífica beleza, devota servidora de Apolo. Foi de tal maneira dedicada que o próprio Deus se apaixonou por ela e ensinou-lhe os segredos da profecia. Cassandra tornou-se uma profetisa, mas quando se negou a dormir com Apolo, ele, por vingança, lançou-lhe a maldição de que ninguém jamais viesse a acreditar nas suas profecias ou previsões.

Cassandra passa então a ser frequentemente considerada como louca ao tentar comunicar à população troiana as suas inúmeras previsões de catástrofe e desgraça.

A gravidade da incredibilidade das previsões e profecias de Cassandra levaram à queda e consequente destruição de Tróia, quando esta viu frustradas as suas sucessivas tentativas de implorar a Príamo que este destruísse o cavalo de madeira (Cavalo de Tróia) divisado por Ulisses para a conquista de Tróia pelo seu interior.

Antes de mais nada...

PARABÉÉÉÉÉÉÉNS ELTON!!!!!




Um sujeito bacana até deitado na cozinha!

Muitos anos de vida, muitos textos pra todos nós!!!!!!
Esse aí é o cara!!!!!!

Meditação

Caro leitor, antes de seguir uns conselhos:

-Respire fundo
-Esfregue os olhos(só um pouquinho)
-Estique os braços pra cima; se espreguice, jogue a cabeça pra trás e respire fundo novamente
-Diga em voz alta as seguintes palavras: "Senhor, dai-me paciência para ler um texto comprido na tela do meu computador. Ele é enorme, mas valerá a pena, assim seja"

Continue...

Quarta MeiaEntrada - O Dia da Marmota





O tempo é oficialmente meu inimigo. Está contra mim em quase todos os momentos em que eu preciso dele, e nos momentos em que ele não me é necessário faz questão de não fazer a menor diferença ma minha vida. Enquanto eu escrevo aqui no blog sobre filmes e música, sempre vejo que, com um pouco de tempo a mais sempre poderia ter feito algo melhor, poderia ter desenvolvido um tema de um modo mais inteligente, poderia ter resolvido de forma mais concisa algumas questões que eu mesmo coloquei e me traí pela prolixidade dos meus textos. Por outro lado, as vezes quando o tempo nos parece ser todo o do mundo para fazermos as mesmas coisas, é lógico que acabamos de entrar no Inferno, porque o inferno é a repetição. Se você, pobre leitor, tem alguém que possa chamar de “Amor da Sua Vida” imagine essa pessoa declarando que você também é o amor da vida dela. Agora imagine isso nas mesmas circuntâncias sob os mesmo aspectos sempre do mesmo jeito, com exatamente a mesma medida de amor, nem um pouco a mais para nos gabarmos, nem um pouco menos para nos preocuparmos, somente a mesma coisa sempre, rotina. É o Inferno.

Eu, já há um bom tempo tenho inveja do meu amigo Phil Connors (Bill Murray, em “Feitiço do Tempo”), o cara que tem uma chance com o tempo, não para fazer a mesma coisa sempre todos os dias, mas para REFAZER o mesmo dia sempre de um jeito diferente. Ele tem uma epifania em camera lenta( se é que isso é possível), pois com o tempo totalmente ao seu favor( ou seja: acordando sempre no mesmo dia terrível onde ele tinha que cobrir o enfadonho Dia da Marmota) pode discernir o que realmente é importante pra sua vida e como ele pode e deve mudar o que nela há de errado, e assi mais adiante, quando ele abandona o materialismo e deixa de desejar o que quer de forma individualista, ele tem o que merece(essa é uma interpretação budista desse filme que eu vi num site chamado Saindo da Matrix...doidera). Com isso, ele também tem a chance de conquistar a mulher da sua vida, e com a vantagem do tempo ele pode ser tudo o que ela espera em uma pessoa num único dia. Enquanto apenas ela se repete, vítima do tempo inimigo, o meu amigo Phil pode aprender sobre ela, conhece-la, conquista-la superficialmente e depois verdadeiramente, mas isso só depois de enfrentar os seus demônios, de ser inconsequente, de desistir da suposta peça que o tempo lhe prega e tentar se matar N vezes. O que ele não vê a princípio(olha a interpretação budista de novo) são as facilidades que o tempo lhe proporciona com a oportunidade de refinar as suas próprias ações(como se os dias que se repetem fossem reencarnações) enquanto os outros estão apenas presos a mesma rotina, de forma metafórica. Por exemplo, nesse tempo de repetição a amada de Phil, a Rita, (Andie Macdowell no filme) não conhecerá niguém que possa ser aquilo que ela queria num homem, enquanto o Phil se torna esse homem pra ela. E por que ela se apaixona por ele? Porque pra ela, o meu amigo se torna o que ela esperava a primeira vista e não na verdade uma sucessão de erros até encontrar a afinação certa pra tocar o seu coração (eeeeeeeeeeita cafonice!). Olha que vantagem, marmanjos: Aquela mulher que você acabou de conhecer e tá pagando uma madeira, de repente pausada, sem que nenhum outro Mané venha lá e enquanto você sozinho sofre pra encontrar o melhor jeito de chegar e quebre o seu serviço. Sem aquele terrível arrependimento que depois virá quando você imaginar “nossa, se eu tivesse sido mais ágil, mais rápido, eu poderia ter conseguido”.

Para nós, pobres mortais, todo o dia é Dia da Marmota.





Título Original: Groundhog Day
Gênero: Comédia
Tempo de Duração: 97 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1993
Estúdio: Columbia Pictures Corporation
Distribuição: Columbia Pictures
Direção: Harold Ramis
Roteiro: Danny Rubin e Harold Ramis, baseado em estória de Danny Rubin
Produção: Trevor Albert e Harold Ramis
Música: George Fenton
Direção de Fotografia: John Bailey
Desenho de Produção: David Nichols
Direção de Arte: Peter Landsdown Smith
Figurino: Jennifer Butler
Edição: Pembroke J. Herring

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Terça mochilão

Jena six


Jena, Lousiana, sul dos Estados Unidos. Nessa cidadezinha de 4.000 mil habitantes, coisas estranhas têm acontecido desde o final de 2006. Na verdade, coisas muito estranhas têm acontecido: ao que tudo indica, a Ku, Klux, Klan voltou à ativa depois de romper ruidosamente a fina camada de gelo que cobre a América, a terra da democracia e da liberdade, onde todos os sonhos podem ser realizados.
Em Jena, somente 10% dos alunos matriculados na escola local são afro-americanos, jeito politicamente correto utilizado para denominar os negros ou 'black people' por lá. Os outros, mais de 80% dos alunos matriculados, são brancos e costumeiramente têm como ponto de encontro uma certa árvore, bem no centro da área de conivência da escola (vejam a foto lá embaixo): a 'white tree'.
Em setembro do ano passado, um adolescente negro, em plena assembléia estudantil, pediu a permissão do Conselho Escolar para sentar-se sob a 'white tree', o que foi imediatamente aceito pelo diretor da escola: 'sit wherever you want'. O adolescente então, juntamente com mais amigos, sentou-se sob a tal árvore.
No dia seguinte, porém, três forcas apareceram penduradas nos galhos da árvore. Três estudantes brancos foram identificados e o diretor recomendou a expulsão deles da escola. O Conselho Escolar, porém, achou a punição excessiva e determinou somente três dias de suspensão, afinal, crianças adoram piadas e não há nada de ameaçador nisso.
Foi o suficiente para os conflitos raciais se intensificarem. Os alunos negros, em minoria, protestaram contra a medida e sentaram-se todos sob a 'white tree'. Por esse motivo, o defensor público de Jena, um branco cuja mentalidade parece ser a mais sulista possível, foi chamado ao local. Dizem que ele ameaçou os alunos negros que, segundo ele, estavam fazendo baderna devido a uma piadinha inocente: 'innocent prank...I can be your best friend or your worst enemy. I can take away your lives with a stroke of my pen'.
A partir disso, a situação ficou ainda mais tensa. No início de dezembro de 2006, um aluno negro foi espancado por alunos brancos em uma festa igualmente 'branca'. No dia seguinte, a vítima, que estava acompanhada por seus amigos negros, encontrou em uma loja de conveniência um dos brancos que o tinham espancado no dia anterior.
Resultado: o branco foi até seu carro e voltou armado, no que foi rendido pelos negros, que ficaram não só ficaram com arma, mas também registraram uma queixa no distrito policial de Jena. Nova arbitrariedade: o agressor branco foi liberado e os jovens negros foram presos pelo furto da arma.
Na segunda-feira após a prisão, também em dezembro do ano passado, o estudante branco Justin Barker foi agredido por um grupo de estudantes negros após insultá-los verbalmente e defender as forcas que foram penduradas na 'white tree'. Imediatamente, Barker foi levado ao hopital, sendo liberado no dia seguinte. Seis alunos negros foram presos, acusados de tentativa de homicídio em segundo grau e premeditação. Na seqüência, eles foram imediatamente expulsos da escola e as fianças, altíssimas, foram arbitradas da seguinte forma:
  • Robert Bailey Junior, 17 anos: US$ 138.000,00
  • Theo Shaw, 17 anos: US$ 130.000,00
  • Carwin Jones, 18 anos: US$ 100.000,00
  • Bryant Purvis, 17 anos: US$ 70.000,00
  • Mychal Bell, 16 anos (único acusado judicialmente como adulto): US$ 90.000,00

Um menor também fazia parte do grupo, mas não foi identificado. O fato é que dois desses rapazes devem ficar presos até o julgamento, especialmente porque suas famílias não conseguiram a quantia necessária para o pagamento da fiança e, convenhamos, na terra da liberdade ser negro também é, na esmagadora maioria das vezes, sinônimo de economicamente marginalizado, tal e qual acontece nessas bandas de cá.

Por falar em julgamento, espera-se que os jovens negros sejam condenados em até 100 anos de prisão, enquanto absolutamente nada foi feito com relação aos adolescentes brancos que penduraram as malditas forcas na 'white tree'. Somente o estudante branco que portava a arma na loja de conveniência foi acusado e preso por porte ilegal de arma, mas por ter levado um rifle contendo 13 balas para a escola de Jena. Porém, foi liberado após o pagamento de uma fiança de US$ 5.000,00.

Em face de tantas injustiças, a cidadezinha recebeu cerca de 60.000 mil manifestantes na semana passada. Vindos de todas as partes dos EUA, eles exigiram a revisão do caso (inclusive novos julgamentos) e a libertação de dois dos rapazes, que ainda permanecem presos. Na ocasião, um abaixo-assinado com cerca de 410 mil assinaturas foi entregue à Comissão de Direitos Civis do Departamento de Justiça norte-americano, em Washington, exigindo a revisão do caso e libertação do 'The Jena Six'.

Espera-se que o caso seja revisto, mesmo porque foi notícia no mundo todo e é forte a pressão da população norte-americana. O incrível é que grande parte dos juristas, inclusive o procurador-geral do Estado da Lousiana, dizem enfaticamente que o preconceito de raça não está presente no caso e que não houve nenhuma arbitrariedade. Ah, tá, mas eles são brancos, é sempre bom lembrar.

Fico a me perguntar o que podemos esperar desse mundo pós-moderno. Inacreditável como as pessoas não conseguem conviver com a diversidade e, por isso, acabem alijando desse sistema capitalista execrável qualquer indício de que isso aqui vai de mal a pior. 'Racismo? Imagina. Somos a sociedade mais democrática do mundo' (isso que não menciono o que acontece por aqui). Como disse o Orwell no seu 'Revolução dos Bichos', somos todos iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

Na falta de palavras mais contudentes, deixo a Billie Holiday cantar 'Strange Fruit' (Southern trees bear strange fruit/Blood on the leaves and blood at the root/Black bodies swinging in the southern breeze,/Strange fruit hanging from the poplar trees) e aquele poema que postei aqui há umas semanas atrás, justamente sobre esse assunto.

*** Para quem quiser se manifestar em favor dos rapazes de Jena:

The Jena Six Defense Committee

PO Box 2798

Jena, LA 71342

jena6defense@gmail.com






segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Questão de prioridade

Em sua coluna de 19 de setembro, Clóvis Rossi menciona um ensinamento que aprendeu na faculdade de jornalismo: "é mais importante um cachorro que morra na esquina de casa do que 100 indianos que morram na Índia".
Só que nesse mesmo dia, em que saiu nos jornais o levantamento do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade) de que em 2006 a pobreza no Brasil alcançara o menor índice em 20 anos, as manchetes principais da Folha e do Estadão foram referentes à queda de 0,5% nos juros praticados pelo Fed (Federal Reserve, o BC norte-americano).
Compreende-se a importância e o alcance da política econômica dos EUA; contudo, ao relegarem a queda da pobreza a uma chamada minúscula em suas capas, Folha e Estadão reafirmam a idéia de que nossa elite econômica e a classe média têm os pés fincados em solo pátrio, mas a cabeça e os hábitos orientados pelo império. Privilegiou-se uma informação que interessa mais a um punhado de especuladores do que uma que afeta a todos no país de forma direta – sejam os pobres, que vivem menos mal; sejam a classe média ou os ricos, que passam a ter menos pedintes e assaltantes em seus calcanhares.
O Estadão ainda conseguiu a proeza de não mencionar o aumento real do salário mínimo nem as transferências assistenciais, como o bolsa-família, que, apesar de distantes do ideal, foram fatores importantes que contribuíram para a queda na pobreza.

domingo, 23 de setembro de 2007

Modernização Conservadora Ludopédica



Uma característica permeia a história do São Paulo Futebol Clube, o conservadorismo. Apesar de ter nascido de um racha de um dos clubes da elite de São Paulo - o Paulistano - o tricolor paulista não renegou as origens, afinal “suas glórias vêm do passado”. Só que a herança não se resume apenas a um passado digno de memória, pois também permaneceu o elitismo e principalmente o conservadorismo, que se manifestou recentemente numa cartilha elaborada para os jogadores de base. O conteúdo é de fazer inveja à Opus Dei, e talvez nem Ratzinger produziria uma bula com um conteúdo tão antiquado e moralista. O Manual Disciplinar do Atleta proíbe bonés e revistas eróticas. A proibição ao uso de bonés não dá pra entender, mas a de revistas eróticas deve ter o intuito de, além de poupar energia dos jovens jogadores, lembrá-los de que viverão do trabalho de seus pés, não de suas mãos...
"A prioridade é formar pessoas de bom caráter, e a educação é o principal ponto", disse Zé Sérgio, técnico do sub-17, ao bravo Tiago Leme, do "Agora". (Coluna do Xico Sá, Folha de S.Paulo, 14/09)
De fato, embora o time tenha se popularizado bastante, basta analisarmos sua história recente para percebermos uma equipe moderna nos gramados, e conservadora fora deles – com toda a carga ideológica que esses termos possuem.
Pegue-se, por exemplo, o maior técnico da história do clube, Telê Santana, adepto do futebol arte, técnico da seleção brasileira derrotada nas copas de 1982 e 1986. Encontrou a redenção e o solo fértil para seu estilo de jogo e de vida no tricolor paulista. Apesar da década de 90 ter sido marcada pelo estilo Dunga-Lazaroni, continuou fiel à sua filosofia: ousado dentro das 4 linhas, e conservador notório fora delas. Se em 1982 o haviam acusado de ser leniente com os jogadores, a partir de 1986, ao cortar Renato Gaúcho da seleção por ter chegado tarde à concentração, passaria a impor disciplina rígida e até a dar conselhos aos boleiros sobre questões financeiras e familiares.
Um craque com o temperamento comedido e religioso como Kaká só poderia ter despontado no Morumbi. Ato contínuo, tornou-se ídolo num dos clubes mais elitistas da Europa, o Milan, cujo presidente e acionista majoritário é ninguém menos que Silvio Berlusconi.
Ex-auxiliar de Telê Santana e atual técnico do clube, Muricy Ramalho impõe um estilo de jogo hierárquico, burocrático, padronizado - e extremamente eficiente. O time avança e recua em bloco, à maneira de um pelotão, semelhante a o que fazem os europeus. Quando marca o adversário no campo inimigo, promove uma espécie de blitzkrieg que obriga o outro time a rifar a bola ou a sair jogando com os becões. O setor defensivo é sólido, e o meio de campo composto por volantes que sabem marcar e tocar a bola o suficiente para não fazer feio. O time é homogêneo, não tem nenhum craque e seu ídolo, o goleiro Rogério Ceni – o único fora de série do elenco – certa vez, comentando um quebra-pau entre torcidas, afirmou que o brasileiro não está preparado para a democracia. Um estilo de jogo e de jogadores totalmente adaptado à ausência de craques e de contestadores que presenciamos nos gramados pátrios. Foi-se o tempo que um Reinaldo – que já fora comandado curiosamente por Telê Santana - mesclava genialidade e contestação, ao comemorar seus gols pelo Atlético Mineiro erguendo o braço com o punho cerrado em alusão ao símbolo socialista. Ou do próprio Muricy, que, quando aspirante, mesmo proibido pelo técnico Poy de ter cabelos compridos, não cortou as madeixas, foi punido com gancho e ainda assim acabou estreando no São Paulo, com 17 anos de idade e pinta de bicho-grilo - graças à sua técnica; não à tesoura.
Assim é o São Paulo, o símbolo futebolístico da modernização conservadora brasileira. E o time do meu coração. Ó tricolor...

sábado, 22 de setembro de 2007

Porque hoje é Sábado

A história da Maria

Não sei o que leva uma mulher a vender o corpo pra sobreviver (ou se divertir, quem sabe... e quem sou eu pra julgar?). Nunca conversei com uma prostituta pra saber a razão pela qual ela faz o que se pede com quem paga o preço acordado. Mas há sempre as justificativas comuns: dinheiro “fácil” (ênfase nas aspas); necessidade de sustentar uma casa; gosto/vocação pra coisa.

A Maria Porto, rapariga que eu introduzi no post anterior, foi ser prostituta por uma confluência de fatores. Aos 14 anos de idade foi trabalhar num bar na "zona"onde obviamente ofereceram-lhe dinheiro por atos sexuais, e assim que ela começou. Após ter engravidado, saiu de casa, aos 15 anos. O bebê ficou com seus pais e ela partiu da cidade onde morava aos 16. Criou um site de serviço de acompanhante e está nisso até hoje (creio que tem 20 anos).

Não quero ficar com puritanismos sobre se deve a mulher ou não se “rebaixar” a essa condição, se devem os homens procurar prostitutas, se deve o governo proibir, punir, legalizar. Eu, particularmente, acho bobeira homem procurar puta, uma vez que sempre há quem queira dar e que não cobra por isso. Por outro lado, existe a fantasia, a possibilidade de se pedir e fazer tudo o que se quer (ou quase tudo), a baixa auto-estima masculina e talvez até preguiça.

O que me intriga na verdade é aquele momento em que uma mulher decide que vai virar prostituta. Diz o que? Mãe, quero ser puta? Não que deva nem não deva, mas porque vai? Como vai? Acho que, normalmente, elas se encontrem nessa profissão meio sem saber como chegaram ali. A própria Maria Porto, por exemplo... de garçonete a acompanhante tripeira.

A Maria, meu exemplo para análise, é uma mulher comum. Pode ser de beleza incomum, mas é uma mulher como eu ou como você. Adora ler, é fã d’Os Simpsons, joga The Sims, tem MSN, vai ao supermercado, cria a filha, come pizza, assiste DVD, tem senso de humor apurado, apaixona-se e sofre. Com uma diferença: ela faz tudo isso com o dinheiro ganho fazendo sexo (ou não).

Acho que pra conseguir abstrair a relação física nesse ponto, tornando-a ex offício, a Maria Porto (não é o nome verdadeiro da tripeira, claro) criou esse personagem que ela “veste” quando tem de ser Maria. E volta a ser Andréa (nome de batismo) quando está com a filha, com o namorado (que é casado, by the way), com a mãe. Isso deve requerer um nível de consciência, uma sanidade e um equilíbrio quase sobrehumanos. Porque imagino a confusão que deve ser na cabeça de uma pessoa ser duas! E a “nossa amiga” não se identifica nem com a Maria nem com a Andréa.

Imagino que as prostitutas em geral "entram" num personagem mesmo pra viver a vida que vivem. Porque fácil não é mesmo. Ainda mais quando se tem filhos, casa, comida pra fazer, cama pra arrumar, uma vida inteira pra se organizar em paralelo à profissão clandestina. E tudo meio que escondido, porque duvido que ao buscar a filha na escola a prostituta comente com as outras mães-donas-de-casa sobre o cliente da noite anterior...

Mas a razão mesmo eu ainda desconheço Cada uma deve ter a sua. E digo que nunca seria porstitua, mas porque a vida é/tem sido fácil e boa pra mim. Só que nunca sabemos o que pode acontecer, não? Não sei o que seria capaz de fazer pra sobreviver, pra sustentar um filho...

Vejamos o que a nossa prostituta-fonte diz no blog:

Dia muito estúpido. Hoje á noite tenho encontro marcado com o Velhote. O Velhote é um Apaixonado. Estive com ele uma vez (a mãe dele estava a dormir no quarto ao lado).
Estivemos juntos cerca de 15 minutos, e, passados cerca de 10 minutos depois de ter saído de casa dele (um apartamento minusculo), recebi uma sms dele, que dizia algo do genero "Amo-te para sempre!".
Devo ter passado mais de meia hora a rir-me. Ah, a propósito, o meu nome é "Maria", tenho 18 anos, modelo fotografico (eh eh), vivo no Porto, e sou Acompanhante de profissão; ou seja, faço sexo em troca de pasta. Muita pasta (sou das caras).
Gosto disto, embora nem sempre tenha pachorra para aturar os Chatos e os Apaixonados. Mas é o que mais há...
Perguntaram-me como, quando e porquê decidi ser Acompanhante. Pá, para explicar tudo direitinho precisava de uns bons dias...
Resumo: vivo sozinha desde os 15 anos. Sim, é verdade, há contas, contas monstruosas na caixa de correio todos os meses para pagar, renda, água, luz e merdas do género. Vivo no Porto -façam as contas a uma renda média no porto, e juntem-lhe o resto das despesas adicionais. É só para quem Pode (é que escrevo mal os F's).

Acho que no fim das contas, a maioria das razões a ser “acompanhante” são mesmo as contas que chegam pelo correio. Será que a greve aqui no Brasil não ta prejudicando a oferta de “amigas”? Sem contas, sem necessidade de trabalhar!

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Gau Ferreira Cartunista no Paço Júlio Guerra - Santo Amaro


Paço Cultural Júlio Guerra (Casa Amarela)
Praça Floriano Peixoto, 131
Fone: 5548-1115
Grátis, até às 18h.
Estacionamento no local.

Sexta Literária ainda...

Sarau no Sábado:
"Até que os leões possam contar suas próprias histórias,
as histórias de caça sempre irão glorificar o caçador"
Agende-se!!
No dia 22 de Setembro acontece mais um Sarau Griots.
Além da poesia, música e arte, contaremos com a exibição do Documentário Zumbi Somos Nós, produzido pela Frente 3 de Fevereiro , grupo que aborda o racismo na sociedade por meio de intervenções artísticas e apresentações audiovisuais.
"Zumbi Somos Nós" propõe uma reflexão sobre questões raciais na sociedade brasileira contemporânea e a criação de estratégias artísticas para responder a estas questões, inscrevendo na vida cotidiana novas formas de olhar, pensar e agir.
Entrada Gratuita
* Rua Inocêncio Preto Moreira,nº08 - Jd. das Oliveiras - Itaim Pta - Zona Leste - São Paulo(Próximo ao Osem e Parque Santa Amélia)
* Das 19h às 23h
9714-9088 (Ana Paula Bezerra) + 6568-1670/8162-0683 (Ana Paula Correa) + 85118419 (Ana Claúdia) + 7326-4310 (Leandro)

Sexta Literária: Louca Sexta...Louca

Dando continuidade a linha família de acordo com o Vinix iniciada semana passada, hoje comento um romance realizado por um de nossos amigos da Letras, Del Candeias. O Del faz mestrado em semiótica e recentemente lançou A Louca um livro de ficção em que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, como o próprio autor comenta no fim do livro.
Um alter-ego do autor de nome DEL perambula pelos ambientes da conhecida balada paulistana "A Louca" situada na Frei Caneca nas proximidades da Avenida Paulista e juntamente com personagens como Fofolete, Fábio, Fiori, Amorphis, Amboolev, Gabi dentre outros inicia a trama como um personagem heterossexual num momento de descobertas e curtições.
Ao experimentar uma carreira de cocaína apresentada por uma de suas amigas no "banheeeeeiro" da Louca (ambiente de acordo com o livro em que aconteciam as cheiradas e os encontros sexuais dos mais variados), DEL acostumado a ser tímido e fracassado em suas investidas amorosas nos ambientes da balada, entra num estado de libertação e êxtase tal que passa a realizar pegações com Travestis (no livro chamados carinhosamente de travas), levando a cabo o discurso de ser heterossexual mas curtir travestis e homens efeminados.
Experimenta curtições diversas nos ambientes da Louca, regadas a flertes e vodka com groselha. Interessante é perceber como o plano de expressão mistura-se ao conteúdo, Del Candeias disponibiliza isso no texto de forma criativa: quando o personagem faz uso de cocaína e alucina-se, as consoantes embaralham o texto, novas palavras surgem, encontros consonantais irreconhecíveis no português aparecem, o texto não comunica mais para o leitor este que se desespera para entender em algum momento o que se passa e é tudo alucinação...Tudo viagem. Melhor que não se saiba então.
O prefácio é do Professor José Augusto Pasta Jr. do Departamento de Teoria Literária da USP que humildemente ontem me perguntou "ah você gostou do prefácio?", imagina...Grande mestre.
O livro inicia-se com a famosa frase do Ateneu de Raul Pompéia "Vais encontrar o mundo" e "coragem para a luta" de acordo com DEL isso ocorre na porta da balada e tais palavras são proferidas pela hostes gostosa.
A graça do livro está também nas colagens de outros autores. Inclusive nos momentos de alucinações, adivinha de quem?


Confere um trecho genial em que o DEL enfrenta uma trava no banheiro da Louca, nesta parte houve uma treta e depois só lendo para ver o que ocorre...entre tapas e beijos? Ficou um pouco grande, mas é algo de cinema a tal descrição.

"fui reclamando até o banheiro, onde parei junto de Amorphis, esperando Fofolete mijar, recuperando a sanidade roubada de modo fácil pela travesti, que, repentinamente, entrou, e eu, segurando os cães atrás de mim, pedi em silêncio para que ela não se atrevesse a me abordar outra vez, quase rezando, pois, senão, iria quebrar aquela cara, mas ela se aproximou dando "oi" cujo tom de amizade fez o estômago ranger como porta cheia de cogumelos, então, nem olhei, nem esbocei resposta, a não ser manter a expressão mais severa e tornar meu ódio aparente por meio da rigidez do corpo ereto, o que preocupou Amorphis, que sugeriu "ele está bravo", mas a sugestão não serviu de nada, e a travesti destemida passou a mão no meu cabelo, feito irmão mais novo, dizendo "está nada, é charminho", e eis que a violência a trôpegos , alçou-se feito vômito, e eu, sentindo minhas roupas rasgarem e a carne fermentar, agarrei seu pescoço com as mãos, grudei-a na parede, sussurrando feito Roberto Zucco "olha você nunca conheceu um psicopata antes", esperando ver pavor naquele rosto, querendo que ela se encolhesse e fugisse com o rabo entre as pernas e minha contundência esfarelou novamente...pois ela disse "hum...eu quero conhecer agora...", e isso era a gota d'água, num impulso joguei-a no chão, caindo por cima para despejar socos, aos quais ela reagia muito bem, defendendo as costelas e o fígado com os cotovelos, e eis que tomei um soco na cara, tentei um mata-leão, mas não consegui, pois ela era muito mais forte do que eu pensava, e acabávamos apenas rolando no chão, sujando nossas roupas de mijo e guimbas de cigarro, enquanto, entre socos e tapas sem grandes efeitos, percebíamos a plateia que se formava para assistir-nos (...)a briga física era exatamente a reprodução do que havia sido no plano verbal (...)quando acertei um soco em suas costelas, ela gritou de dor (...)tirava meus braços e fui numa dessas que senti a densidade de seus peitos de silicone, lembrei que estava batendo numa mulher, lembrei-me também que estava batendo num homem, e fomos interrompidos pelos seguranças que nos levaram para fora, fazendo, impacientes e protocolares, um curto questionário."
págs. 110 e 111

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Higiene brusca


As sujas ruas de São Paulo. Merecem limpeza, é claro. A Avenida Paulista maculada. Livrem-se dos ambulantes! É a prefeitura ajudando a cidade a ficar mais bonitinha. A bola da vez foi o Humaitá. Não conhece? Deve ser por isso que foi escolhido. É alojamento de gente pobre, ali na Vila Leopoldina. Bairro nobre com pobre? Pode não! Desocupa, desocupa! Faz uma praça no lugar! São Vito nos proteja! Já caiu! Caiu na mão da polícia militar. Jogou criança pela janela, velho pela escada. Lacrou e mandou pro morro. Corre pro Prestes Maia! Maior ocupação da América Latina! Que chic! Mas também caiu. Ficava no centro. Pode não. Quatrocentas e sessenta e oito famílias jogadas no lixo. Tinha até biblioteca no local. Recebeu voto de aplauso do senado, recebeu doação de escola rica, mas ali num podia ficar não. Centro é muito exposto, e dar de cara com pobreza todo dia desestimula o empresário a investir. Foram onde? Itaquera e Itapecerica. Pertinho, pertinho. O prédio ta lá vazio, esperando o dono pagar a divida de cinco milhões de IPTU.

Teve a bienal dos pobres, ali na Praça da Sé. Prefeitura chegou e tirou. Livro pra mendigo num pode não. Expulsa e põe fogo! Coloca ferro nos bancos que é pra não deitar. Limpa a República, limpa a Paulista! Limpa os viadutos jogando cimento debaixo do vão. Recicla esse povo! Que nem copinho, que nem latinha, recicla pra não deteriorar no chão. Pra não ficar parado, sujando a paisagem. Não trabalha porque não quer, não é? É, isso mesmo. Ao invés de fazer projeto de habitação, prefere anistiar divida de engravatado. Prefere comprar cacetete pra G.C.M, pra impedir ambulante de trabalhar. A estupidez impede o questionamento, afinal ta ali porque é vagabundo. Não é porque não tem dinheiro pra se alimentar. A higiene deu até discussão em rádio. Reclamaram da retirada das flores na Paulista...


* Foto de autoria própria

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Recomendações do Tio Vinix 1

To com preguiça de escrever, essa é a verdade.

Então procurei a melhor fonte de inspiração que eu conheço: Meus camaradas de blog(POOOOOUCO PUXA SACO). E resolvi fazer o seguinte: Baseado nos textos dos meus colegas proponho aos nossos milhares(!!!!!) de leitores que façam o que farei hoje: Liguem o Post ao filme. Assim ó:

Terça Mochilão- A Carol mandou muito bem(como sempre)nessa Terça, falando do Kosovo. Sabe que filme cairia direitinho com o texto dela?
"Antes da Chuva", do Milcho Manchevski, que assim como a senhorita Marossi tem a dose certa de seriedade e sensibilidade.

Segunda-Avon- O Elton falou sobre alguns temas nessa segunda, mas a notíca que mais me alegrou foi a volta do jazz na rádio Cultura.
Pra ele, eu mando de brinde um filmaço, que recomendo a todos os amantes de Jazz: "Cotton Club" Do Coppola.
Domingo Feira Livre-O Salvaterra mandou um microconto dele, pequeno no tamanho, imenso na qualidade. Me lembrou o João Batista de Andrade, que já foi um cineasta genial e fez um dos melhores filmes nacionais que eu já vi: " O Homem que Virou Suco". Salve Zé Dumont.

Porque hoje é Sábado- A Julinha foi caçar um blog sensacional, lá da Terrinha. Em homenagem ao seu post "família" eu vou de "Delta de Vênus", do irregular Zalman King.

Recomendações do tio Vinix 2

Fechando, com a Sexta e a Quinta passadas:

Sexta Literária- Já o meu amigo Ivan tinha acabado de inaugurar essa linha "família" no blog, falando de sadomasoquismo. E sobre esse tema, o Roman Polanski(queridinho das quartas feiras) fez uma peça de sedução das mais tentadoras, chamada "Lua de Fel"
Política de cu é rola-O nobre Ministro Puskas, de passagem pela América Latina me lembrou a visão crítica dos estrangeiros sobre as maracutaias e intermináveis golpes diretos e indiretos que por lá reinam. Pra ele, uma comédia, com a acidez(genial) típica dos seus textos e com um título sugestivo: "Bananas", do Woody Allen(esse sujeito aí merece um post, e logo mais ele virá)

Aguardo preguiçosamente mais inspiração dos textos que eu sempre tenho o maior prazer de ler aqui.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Terça mochilão

O futuro do Kosovo.
Dez de dezembro. Esse é o deadline para que a Rússia, os Estados Unidos e a Comunidade Européia decidam o futuro de albaneses, kosovares e sérvios anos após a sangrenta guerra dos Balcãs. O diplomata russo Alexander Konuzin não considera o prazo plausível para colocar um ponto final na questão, até porque será preciso equalizar as conversações sobre o status do Kosovo entre Belgrado e Prístina em busca de um acordo sobre o tema.
Na Comunidade Européia a situação não é diferente: os ministros das Relações Exteriores da França e Grã-Bretanha, Bernard Kouchner e David Miliband, têm se esforçado para ampliar as discussões sobre o tema entre os europeus na tentativa de chegar a um consenso. Problema à vista, contudo, pois embora a maioria dos membros da Comunidade Européia seja a favor da independência do Kosovo, a Espanha, a Grécia, o Chipre, a Hungria, a Romênia e a Eslovênia são radicalmente contra, pois acreditam que tal postura pode fortalecer os movimentos separatistas no país Basco e no norte do Chipre, por exemplo.
Porém, a tendência da Comunidade Européia é forçar um acordo interno sobre a questão na medida em que se trata de uma excelente oportunidade para os europeus consolidarem sua política externa.
Do lado norte-americano, Tio Sam mandou avisar que se russos e europeus não reconhecerem a independência do Kosovo até o dia marcado, ele o fará unilateralmente. Novidade, aliás!
Ciente da sutileza paquidérmica das águias, o premiê sérvio Voislav Costunica declarou que o Conselho de Segurança da ONU deve aprovar urgentemente as medidas necessárias para defender a soberania e a integridade territorial da Sérvia contra qualquer intervenção dos EUA.
Questão complicada, porque além do pandemônio reinante entre albaneses, kosovares e sérvios, o prestígio da ONU está em baixa e os EUA estão com o modo 'let's play with guns' ligado no máximo. Sempre no quintal do vizinho, diga-se de passagem.
Amanhã começa a sexagésima segunda Assembléia Geral da ONU em New York. Veremos o que o Pan Gui Moon consegue com sua paciência oriental. Acho difícil decidir a questão até o 10 de dezembro mas, como disse no último post, a tal ordem mundial anda bastante confusa. Creio que o poderio econômico-militar vai falar mais alto outra vez, afinal 'manda quem pode'. Vou eu discutir com essa gente?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Segunda-Avon – À sombra dos jornalões em flor

Uma das percepções mais difundidas que se tem do povo brasileiro é a de que ele é politicamente inativo. Certamente já ouvimos comparações com, por exemplo, os argentinos, afirmando que nossos vizinhos são muito mais participativos politicamente, indo às ruas quando se percebem ludibriados pelo poder. Entretanto, a grande imprensa brasileira só cobre as formas de manifestação de insatisfação popular quando há conflito com a polícia. Enquanto deram páginas e mais páginas para o Cansei, com direito a perfis e entrevistas com lideranças e participantes, não se tem a menor idéia de como se deu a articulação entre movimentos tão díspares em sua finalidade, como a Gaviões da Fiel e o MST, na ocupação da Faculdade de Direito da USP. Pouco ou nada sabemos sobre o MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), os Sem-Teto, os Quilombolas, entre tantos outros. Matrizes teóricas, correntes internas, organização, forma de atuação, projetos que defendem, se possuem representantes legislativos, dentre muitas outras questões fundamentais, são ignoradas solenemente. Sem dúvida que uma escolaridade baixa e uma sociedade historicamente autoritária contribuem muito para que a atuação política seja mal vista por boa parte dos brasileiros. Contudo, o silêncio da imprensa reforça bastante essa sensação de alienação.

Segunda-Avon – Round Midnight

Depois de muita chiadeira do público, a Cultura FM resolveu repor o Jazz em sua grade de programação. O Cultura Jazz, no ar diariamente à meia-noite e com uma hora de duração, tem apresentação de Hélio Vacari, o mesmo do antigo Linha Imaginária, que tinha um nome bem mais bonito e poético do que o burocrático Cultura Jazz, mas que era apresentado num horário ruim pra chuchu: nas madrugadas de sábados e domingos. Ao menos agora podemos ter contato diário e num horário menos ingrato com uma das coisas de que os norte-americanos podem realmente se orgulhar de ter criado.

sábado, 15 de setembro de 2007

Porque hoje é Sábado

Semana passada falei demais sobre os homens. Agora é hora de falar de novo das mulheres. Só que não é de qualquer mulher, não. É uma "classe" específica, dizem que são as profissionais mais antigas da história (não sei, Ministro Puskas pode nos esclarecer isso melhor).

A idéia desse post veio de um blog de uma moçoila portuguesa. Afinal, Portugal também tem a sua Bruna Surfistinha. Só que ela se chama Maria Porto, e seu livro contando as peripécias dos seus programas e da vida de mulher da vida se chama "A Tua Amiga". O endereço do blog, muito interessante por sinal, está aqui.

Esse tema será o assunto de uma série de 3 posts. O primeiro, hoje, será sobre a profissão. É muito apropriado, vendo-se que fecharam o Bahamas e provavelmente outras casas do gênero. Será que deve-se legalizar a prostituição, criando-se a "carreira" de garota de programa? Sei que na Suécia, por exemplo, legalizaram a profissão, mas criminalizaram o "cliente". Ou seja, seria crime ir até a Rua Augusta... Já na Holanda, é outra história.

O segundo post será sobre o que leva uma mulher a essa vida e o terceiro sobre os homens que saem com prostitutas. Polêmico, sim. Mas vale a pena.

Agora vejamos o que Maria Porto tem a dizer

O UNIVERSO E AS SUAS PUTAS
Tenho andado sem tempo para escrever, porque antes mesmo de chegar a Lisboa, os meus dias aqui já estavam muito ocupados. Amanhã vou embora para a Invicta, não sem antes ir ao Salão Erótico comprar brinquedos e tirar fotos. Ontem escrevi "meio-post" mas adormeci a meio e decidi deixa-lo para outro dia. Para além do dia altamente cansativo, no final do 'expediente' ainda fiz uns sets novos para a área privada do meu site.

Ontem estive na conversa com um cliente, estava a contar-lhe como ando há imenso tempo a querer fazer um Inter-rail, e acabámos por falar da Holanda e suas putas (porque eu também quero muito visitar o Red Light District).

Para quem não sabe, em alguns países em que a prostituição é efectivamente uma profissão legalizada e regulamentada, as pessoas podem procurar um emprego de prostituta e, por exemplo, se estiverem no desemprego, se recusarem um cargo de prostituta perdem o subsidío de desemprego.

Vai daí fiquei a pensar no giro que era se Portugal fosse assim. As putas passariam recibos, teriam livro de reclamações e poderiam subir de cargo ou procurar melhores locais de trabalho, quando tivessem um bom currículo ("Xôra Puta-Mor, recebi uma proposta ali para a Casa Das Popozudas, podia passar-me uma carta de recomendação? Sim?").

Ora, isto iria certamente revolucionar a putaria no país. Acabar-se-iam as mercenárias do "tudónaturale", porque a segurança seria certamente obrigatória, transformando o trabalhismo fodal num ambiente mais justo. Os broches e espetanços apressados e mal aviados seriam passíveis de queixa no Livro de Reclamações:

"Ai não chupas? Então passa aí o Livro de Reclamações!"
"Ai, disculpi, já íá chupá, vem cá..."

As boas fodas seriam obviamente bem recompensadas:

"Sim senhor, Cátia Vanessa, gostei muito da tua técnica de cambalhota, traz cá o Livro de Visitas para te recomendar"
"Oh, obrigado, sinhor Sousa, acabei de candidatar-me para a Boate das Rabudas e vai dar imenso jeito!"
"Olha, não podes tirar aí dez euritos à factura...?"

O IRS começaria a perseguir as moçoilas:

"Xôra Sheyla Bobó, no ano passado você efectuou 330 broches e 290 espetadelas, e só declarou 200 brochadelas e 170 espetanços!"
"Ai, dévi tê sido um inganu..."
"Deixe cá ver o pacote... Ah, îsso não engana ninguém, a xôra Sheyla está obviamente a esconder as metidelas anais do fisco! Venha connosco, faxavor..."

And so on, and so on...

E vocês, acham que a prostituição deveria ser regulamentada como uma profissão normal?

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Sexta Literária: Sexta Sadomasoquista

O livro Amsterdã SM é o primeiro romance ficcional de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, o vulgo Professor Vicente da cadeira de Semiótica do Departamento de Lingüística da USP.
Trata-se de um romance narrado por Cláudio, um professor brasileiro, que descobre Amsterdã: seus becos, suas ruas, o bar do Egípcio, o Rasta Baby, o Alfa Hotel, dentre outros lugares. Nesta ida a Amsterdã Cláudio realiza descobertas sadomasoquistas.
Mulheres aparecem no decorrer da trama. Verônica, Frida, Serena e Anete. Tomando a palavra de Del Candeias, observa-se que Amsterdã SM pode suscitar duas expectativas ao leitor: a de romance de viagem e a de romance pornográfico com exploração dos fetiches sadomasoquistas.
Em Amsterdã não tem tempo ruim. Tudo é permitido e no ambiente do romance, observamos que isso ocorre as claras em qualquer budega ou qualquer canto da cidade. A verdade é que no Brasil vivemos uma Amsterdã velada, creio ser essa a realidade em que vivemos.
Claúdio depara-se com mulheres sadomasoquistas bissexuais e acaba tendo relações com essas, depara-se com alucinógenos de todos os tipos e em vários momentos, deixando-se laçar por Verônica uma garota sado que ao invés de programas quer morar junto com o narrador, e mostrar sua vida sexual sadomasoquista levando Cláudio para viver tais experiências.
Antonio Vicente rompe com o tradicional escreve um livro e dá um tapa na academia, fala abertamente sobre assuntos como: drogas, sadomasoquismo, pornografia...Rompe barreiras, encobre pudores e coloca em evidências temas velados, tidos como marginais em nosso país e no mundo, menos em Amsterdã SM de acordo com o romance do professor.
SM, para bom entendedor basta...Será possível lançar um romance São Paulo SM? Pensemos...

"Que saudades de Amsterdã" (Um leitor após ler o romance)

Trecho do Romance:

No coffe-shop chapada, surgiu do nada a boa nova:
-Você já leu Sade?
Verônica fez-me lembrar da vida de professor.
- E então, professor de língua e literaura alemãs?
Parecia aluna queria saber se eu sabia.
- Claro que já.
-Por que claro?
-Porque sim, claro que já li Sade. Já li Sade e Masoch, eu li no original - Não acreditei quando comprei a briga (...)
(p. 44)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Anistia, anistia!

Em exclusividade, segue carta do Ministro Puskas aceitando anistia concedida em Prosatantsky.

“Meus nobres companheiros,

É com imensa felicidade que recebo a noticia de poder retornar ao velho lar dos utópicos. Durante meu exílio fui aconselhado a partir rumo a terra do Eldorado, lugar onde as artes e a política comungavam a esperança, assim como em Prosatantsky. Mas o México não é a maravilha que todos pensam! As mulheres não são como em Prosatantsky; aqui possuem bigodes. A política não é pelo povo, mas pelo partido (“revolucionário”). Os esquerdistas sobem ao poder em busca do dinheiro Yankee, patrocinando empresas que usufruem da barata mão-de-obra local. Achei aos ventos a famosa frase “México, tão longe de Deus e tão próximo dos Estados Unidos”, e a despeito de vários reivindicarem sua autoria, preferi não acreditar em ninguém. Desiludido com Frida Kahlo, parti rumo a América do Sul, observando guevaristas financiarem luxos próprios com trafico de drogas, filhas de presidentes depostos pelo regime militar apoiando o liberalismo e, para meu desgosto, vi em Argentina a insignificância da esquerda num país derrotado pela social democracia. Cheguei ao Brasil, num momento de festa, acreditando ser carnaval quando para meu espanto se tratava de uma comemoração política. Procurei por um homem de codinome “o velho”, o único de quem ouvira falar em minha terra natal. Descobri que morreu, mas que ajudou a fundar um legado chamado “PT” (igual a sigla que damos aos nossos carros quando batidos aí em Prosatantsky). Pois bem, procurei esse legado e cheguei a casa de onde iniciara-se a tal festa. Chamava-se “senado”, uma espécie de Câmara Alta do legislativo, bem próxima do Presidente deste país. Cabe aqui uma explicaçãozinha sobre a democracia no Brasil. Existem duas câmaras legislativas, uma baixa composta por deputados que teoricamente deveriam exercer poder de resistência e contestação ao executivo (ministros e presidência), e a alta que eles consideram como um “filtro” para o governo, que com poderes supremos de decidir o que é certo ou errado (inclusive para si próprios) articulam-se com o executivo para comprar terras, rádios, açougues etc. Quanto ao poder Judiciário, este serve apenas como fachada a sociedade. Oprime os pobres para que não contestem a democracia e libera os ricos a praticarem a libertinagem que citei na crônica anterior. A festa era em prol de um certo alagoano, que conseguira a façanha de roubar muito em diversas áreas diferentes (desvio de verbas, lavagem de dinheiro, concubinamento empresarial, sonegação de impostos, dentre outras) e saíra livre de punição. Pelo que pude entender era uma espécie de aposta, que procurava demonstrar a superioridade da câmara alta em relação à baixa. Através de conversas, um tal de Sr. Suplicio disse-me com naturalidade que cerca de vinte deputados haviam recebido dinheiro do executivo através de propina e conseguiram se livrar; de quebra tentaram um aumento de 90% em seus salários, mas a oposição conseguira impedir. O Senado então decidiu mostrar que seus jogos, além de mais complexos, não eram páreos para a oposição. Esta, sedenta por um jogo divertido, aceitou o desafio de tentar punir o alagoano (o “prínceps”). Falhou! A despeito de mobilizar mídias, polícias e todos os recursos de que tinha disponível. Como tudo não passou de um jogo, comemorava na parte escura da câmara, abaixo de uma faixa com o lema “O importante é competir!”. Atônito perguntei sobre o povo, mas nenhum dos presentes conseguiu compreender o que eu queria dizer. Talvez meu sotaque tenha dificultado o entendimento... assim espero. Perguntei também sobre o presidente, mas fui informado que este nada declarou a respeito do jogo. Cansado de uma viagem, preferiu dormir sem falar com a mídia. Depois soube que o presidente, em nome da democracia, dizia não intervir no senado, afinal todos têm direito de jogar. Em meio a festa, entre Whiskys e Champanhes, recebo em meu laptop o e-mail de todos os ministros de Prosatantsky comunicando sobre a anistia que o Czar Vermelho havia declarado. Algum fotógrafo engraçadinho registrou a tela de meu computador com suas lentes, publicando no telão eletrônico do senado o e-mail que me fizera decidir por voltar. Saí esgueirando-me por entre bêbados políticos da festa, que olhavam para o telão catando em alta voz “Anistia, anistia!”.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Quarta MeiaEntrada- 18 Observações Sobre "Paris, Je T'aime"



- O fato dos curtas não serem separados por título, de serem todos em seqüência como se fossem mesmo vários momentos que podem eventualmente acontecer dentro de Paris poderia tornar o filme confuso, mas o resultado está perfeito.
- Sensibilidade é uma coisa em falta em qualquer metrópole.
- Sensibilidade é uma coisa que também transborda nas pessoas de qualquer metrópole.
- O Steve Buscemi é um dos melhores atores da sua geração. Nos EUA, só os irmãos Cohen viram isso. Por isso que eu respeito os caras.
- Dê liberdade ao Wes Craven e ele faz uma coisa que fica ou magnífica ou horrível. O episódio dele é magnífico.
- A Daniela Thomas traz uma delicadeza para os filmes do Walter Salles que faz tão bem... eles deviam sempre trabalhar juntos.
- O episódio dos dois senhores que estão se separando tem um dos melhores diálogos que eu já vi nos últimos tempos no cinema
- Só perde pro episódio com o Bob Hoskins (quanto tempo que eu não via o Bob Hoskins...)
- Se eu fosse apostar num grande diretor, que vai virar referencia nos próximos anos, eu apostaria no Afonso Cuarón.
- O episódio dos mímicos me fez chorar
- A Natalie Portman dá o fora mais doído que eu já vi. Se bem que tomar um fora da Natalie Portman já é uma dor por si só.
- Prezada Família Gyllenhaal: Sou mais a Maggie
- “No cemitério de Paris encontrei o tumulo onde estão enterrados juntos o Jean Paul Sartre e o Simon Bolívar” hahahahaha!!! GENIAL!!!!
- Quanto mais a Juliette Binoche deixa a sua idade transparecer, mais maravilhosa ela fica
- Oscar Wilde! Por favor, me ajude a pegar uma mina também!!!
- Se eu não morasse em São Paulo, ficaria impressionado com a diversidade cultural de Paris
- Ao sair do cinema pensei: Nunca fui a Paris. Provavelmente nunca irei. Porque iria me apaixonar por uma cidade que eu nunca verei? Ao sair do cinema percebi que sou apaixonado por São Paulo.
- Uma metáfora de um dos curtas(um dos mais bonitos): O Amor de verdade não é uma camiseta nova que você vê na loja e logo compra, é muito mais aquele casaco vermelho antigo, que você nunca se desfaz.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Não zoa, Vanessa...


"Rancoroso com raiva de tudo
Do fulano com seu carro novo
Não vê que ele trabalhou muito
Você pode se esforçar"

Vanessa da Mata, na música "Baú", do álbum "Sim" de 2007

Não mete essa*, dona Vanessa...

*Cortesia do Baralhinho do Momento, no antipropaganda
puta site...

PS: agora já é Quarta Feira, 0:20h, mas o relógio do blog tá doido

Terça mochilão

Pois é, inaugurando a nova fase do Tantaprosa, as terças agora serão sobre Relações Internacionais e coisas afins. Não esperem nenhuma análise muito acertada sobre nenhum assunto: pretendo emitir somente algumas modestas opiniões sobre essa aldeia global esquizofrênica na qual vivemos. Também não esperem nada muito otimista porque, embora eu seja filha de um marxista roxo, ando mais para deprimida do que para militante 'de esquerda' ou 'de direita'.
Nova Ordem Mundial?
A Rodada Doha travou. A ONU não conseguiu evitar a invasão norte-americana no Iraque depois de rachar magnificamente diante das telas da TV. A desejada Constituição da Comunidade Européia não saiu depois da ferrenha negativa de franceses e holandeses. O Irã persiste na corrida nuclear. A Rússia tenta se reenguer a todo custo e as ONG's se proliferam em toda a parte.
O século XXI chegou e aquelas tradicionais disputas norte-sul persistem, ignorando solenemente toda a velha estratégia que apostava nas organizações internacionais para tangenciar as relações entre os Estados, evitando conflitos diversos e, principalmente, guerras. A década de 90, embora tenha adotado essa estratégia, foi marcada no seu final por fracassos evidentes desse plano liberal de gerenciamento mundial: a tragédia dos Balcãs, a crise econômica que atingiu marcantemente os países em desenvolvimento, as intervenções fracassadas da ONU no continente africano, a explosão de acordos bilaterais de comércio, o crescente ressurgimento de movimentos radicais (e.g. neo-nazismo), etc.
Além disso, após os ataques do 11 de setembro e do endurecimento da política externa norte-americana, conduzida de forma assustadora pelas velhas águias do partido republicano, os Estados estão cada vez mais reticentes em ceder parte de sua soberania para os inúmeros organismos internacionais, o que aumenta o espaço para a reversão da lógica aplicável às relações internacionais, construída arduamente ao longo dos anos.
Yes, we deliver democracy, anda sibilando o vento do Norte com seu bico afiado, invadindo países, matando civis, aprisionando pessoas em bases militares imunes a qualquer lei internacional, instalando outras tantas bases militares em lugares estratégicos lá pelo Sul e pela Ásia e fazendo outras traquinagens do gênero.
Então, faz-se necessário perguntar: onde foi parar a tal 'nova' ordem mundial, se é que realmente ela chegou a existir? Sei não, mas a mim me parece somente uma visita àquele velho colonialismo, só que na velocidade da luz, God bless glabalization.
Se a 'nova' ordem mundial existiu, deve ter se esquecido do anti-rugas e envelheceu rápido demais, coitada.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Segunda-Avon - O Jeitinho Veja de ser

Nada como um intelectual e uma pesquisa acadêmica para legitimar um posicionamento político. Não resisti e fui ler a tão comentada matéria da revista Veja "Como pensam os brasileiros" (edição 2022 - 22/08/07). O autor dela, Ronaldo França, analisou o livro "A Cabeça do Brasileiro", em que o sociólogo Alberto Carlos Alemeida conduz uma pesquisa que pede aos entrevistados que concordem ou discordem de frases como: "é correto recorrer ao jeitinho para resolver problemas, como o de se livrar de uma multa". O resultado foi que, conforme a escolaridade aumenta, menor é a tolerância a práticas pouco republicanas. Com isso, a revista estampou numa das faixas da capa para as chamadas secundárias: "Um livro mostra que a elite é o lado bom do Brasil". Entretanto, basta lermos a matéria com um pouco de atenção que seu próprio conteúdo denuncia um caráter preconceituoso e elitista no pior sentido, ou seja, no da percepção de que tudo que é ruim no Brasil ocorre por causa dos mais pobres. O próprio autor da matéria ressalta que a pesquisa "não pretende, é importante ressaltar, revelar como agem [os brasileiros]". Eu me pergunto: num país complexo como o Brasil, o que tem mais peso na hora de se pronunciar um julgamento de valor sobre a realidade do país: o que seus membros pensam ou o que fazem? 500 anos de história não servem pra nada? A pesquisa foi realizada pelo DataUff (Universidade Federal Fluminense), financiada pela Fundação Ford e optou pela metodologia utilizada pela General Social Survey, uma pesquisa social realizada pela Meca do pensamento neoliberal, a Universidade de Chicago. Entre os pensadores mais influentes da instituição, basta citarmos o falecido economista Milton Friedman (1912-2006), guru de Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Augusto Pinochet. A revista imputa aos menos escolarizados, ou seja, os mais pobres, alta tolerância à corrupção e simplesmente ignora que para burlar uma licitação, por exemplo, é necessário bem mais do que a 4ª série do ensino fundamental. Ou que os que julgam casos de corrupção e crimes de colarinho branco e freqüentemente liberam os acusados por "falta de provas" ou por simples prescrição são juízes formados em instituições de respeito e recebedores dos mais altos salários do funcionalismo. Além desses lapsos, a revista produz um malabarismo semântico digno de riso ao afirmar que elite é sinônimo de classe média: "...acelerar a marcha rumo à modernidade - o que significa ampliação da classe média, ou seja, da elite". Ah, a classe média. Sempre querendo ser elite. Se a revista considera a universalização da educação tão importante para a valorização da coisa pública, por que será que ela não se juntou à Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública? Provavelmente porque devia estar falando mal de seus organizadores: MST, UNE, Conlutas, CPT, Intersindical, Andes, PSTU, entre outros membros da “esquerdalha liberticida”. Só mesmo os arrivistas pra levar a sério essa revista.

domingo, 9 de setembro de 2007

Domingo é dia da feira: posto eu posta você

Mando um conto que saiu no Conchavo, alguns já conhecem...Tem Zona Sul, tem poesia.
(Por Ivan Antunes)
Guacuri
Guacuri à noite é Gacu-morte. A região apelidada por alguns como Morro que morreu-mais-um por outros como Jardim bala-perdida e ainda Vila que queimaram-dois-busões, situa-se na zona sul de São Paulo, nas proximidades de Santo Amaro. Os moradores de lá são pessoas trabalhadoras que vão e vem e vão e vem todos os dias de Pinheiros através do azul-e-branco ônibus lata de sardinha “Rio Pequeno/ Pinheiros – Vila Guacuri”.
Noite passada resolvi sentar-me no fundo do ônibus, e fazer cara de mal...Os olhos claros não enganam a descendência alemã, entretanto...Não botava medo em ninguém, mas a intenção não era essa...Queria apenas realizar a leitura do Vermelho e o Negro de Stendhal em meio as trepidações causadas pelo asfalto irregular do percurso – Largo da Batata – Avenida Berrini.
Já era quase meia noite, o ônibus dessa forma circulava pela Avenida Berrini a toda velocidade e sorrateiramente numa das paradas do percurso um casal sem condições financeiras para pagar a tarifa requisita ao cobrador a passagem por debaixo da catraca, este permite. Um terceiro cidadão suposto amigo do casal solicita ao cobrador realizar o mesmo ato que os primeiros, este permite.
Eu lendo Stendhal. Eu tentando ler Stendhal. Eu lendo Stendhal. Eu tentando segurar o livro com a trepidação e agora barulho que o trio provocava, afinal sentaram-se ao meu lado, e achavam-se os comandantes do azul-e-branco, achavam-se os comandantes das suas vidas e das vidas dos outros passageiros. Achavam-se importantes naquele momento davam atenção a eles, por terem passado por debaixo da catraca e por falarem alto interagindo com minha leitura e atrapalhando o sono de outros passageiros.
Em primeiro momento pensei em chamá-los para ler Stendhal comigo, seria uma oportunidade boa para estes conhecerem coisas novas e pra mim ter com quem discutir a s primeiras páginas do livro que começava a ler. Logo desisti. Olhei no relógio do aparelho celular por duas vezes, e a conversa continuava sem parada. As linhas do livro misturavam-se com a conversa, a conversa passava ser mais interessante que o livro. Comecei a virar a cabeça e voltar para o livro. Fingia que não prestava atenção nem no livro e nem na conversa. Começava a me desconcentrar. Achava estranho aquele papo e aquela forma como um tratava o outro. Eram amigos e ao mesmo tempo os três disputavam algo que não sabia ao certo o que poderia ser. Imaginei que a disputa pudesse ser pela mulher que estava por ali, mas não era. O rapaz que primeiro entrou com a mulher, formando o suposto casal com ela,agora a tratava de forma estranha. Agredia esta verbalmente. Ela o repudiava. O outro homem apenas balançava a cabeça. Eu observava. A moça negra dos lábios carnudos levantava e pedia a garrafa da cachaça para seu suposto parceiro e agressor. Este tratava-a como um cão insultava-a e mandava ficar caladinha no canto dela. Aquela conversa começava a me incomodar, embora permanecesse atento as linhas de Stendhal, para não me envolver no papo e falar alguma coisa atravessada para o rapaz da turma que estava ao meu lado insultando a moça. Me controlava, ele não. Ela não se controlava. O outro rapaz não se controlou, então disse aos outros dois:
- Ei vejam só a tatuagem que fiz nas costas!
O outro disse:
- Quero só vê!
O primeiro rapaz levantou metade da camisa e disse:
- Vê aí o mané, tá sangrando ainda e tá com o plástico que acabei de fazer, ó aí ...ó ...ó aí..ó..
O outro que antes agredia verbalmente a moça negra muda o foco de sua agressão e imediatamente diz:
- Virô bandido é? Desenha um diabo nas costas e ainda acha que é de deus?
O rapaz da tatuagem injuriou-se com o comentário do outro. A mulher insultada parecia que não estava mais por ali. Eu parecia que não lia mais Stendhal o ônibus inteiro parecia que não dormia mais aquela hora da noite.
O tatuado levantara-se para dar um sopapo no outro, o outro revidara os dois caem sobre meu livro do Stendhal. Eu me enervo, o ônibus se enerva. A turma do deixa-disso entra em ação tentando socar o primeiro que visse. Eu subo no banco e ameaço ou jogar o Stendhal pela janela, ou me jogar pela janela caso saísse tiro, ou jogar algum deles pela janela, afinal um ringue de boxe havia se estabelecido ali naquele momento na parte traseira do ônibus Guacuri naquelas horas da noite.
Imediatamente o cobrador que naquelas alturas cochilava acordou. O Motorista pisou no freio e gritou para que todos descessem. O cobrador veio apartar a briga. Eu empurrei-os de lado mais preocupado em afastar-me do que apartar a briga. Naquele instante veio em minha cabeça aquela música do Raul “Cowboy fora-da-lei” - “Eu não sou besta pra tirar onda de herói sou vacinado sou cowboy”, preferi calar-me. Queria apenas ler Stendhal e chegar em casa salvo. O ônibus inteiro só queria dormir e chegar em casa em paz. Lembrava-me de outras brigas que já havia apartado e que quase me dera mal.
O motorista urrava:
- Vai descê? Ou vai calá a boca?
Pararam. Olharam. Sentaram. Arrumaram os cabelos. Respiraram. Se enfrentaram com olhares e um deles ordenou ao motorista:
- Pode seguí que nóis vai até o fim!
O motorista meteu pé na tábua e seguiu viagem rumo ao Morro do morreu-mais-um. Na verdade o trio desceu no ponto mais próximo do beco mais escuro que encontrava-se na Avenida Berrini. Não foram até o final.
Pensando nas possibilidades de um tiro ter saído ali resolvi mudar de lugar logo que a briga havia iniciado e puxei uma conversar com outros passageiros sobre o ocorrido, expliquei que a briga não era comigo, expliquei que não era assalto. Explique às pessoas que era uma necessidade de sentirem-se vivos. Uma necessidade de afirmarem-se em uma sociedade que não se importa com quem não tem um puto no bolso. Brigaram. Lutaram. De forma errada. Entre si. A briga é outra. A cachaça auxiliou na alteração de percepções de um deles. Acontece. Acontece. Acontece.
Contei outras coisas mais aos passageiros, fechei meu livro de Stendhal, encostei a cabeça no vidro e fui até meu destino na Avenida Interlagos observando a paisagem noturna que passava lá fora.

sábado, 8 de setembro de 2007

Porque hoje é Sábado

Hoje é sábado, amanhã é domingo, e eu estou aqui escrevendo no tantaprosa, plagiando o Vinícius (de Moraes, não o Davidovitch, que é sempre bom esclarecer caso haja egos inflados por aí...).

E ninguém mais apropriado que o mulherengo mais famoso do Brasil para ser o muso-inspirador dessa coluna semanal. Adoro o Vinícius, porque além de mulherengo, era o maior beberrão (diga-se de passagem, característica que muito se assemelha a esta colaboradora que vos escreve).

Mas voltando ao tópico (se é que ele existe) ficou definido que, agora separada da Carol Marossi, eu teria os Sábados pra falar de “relações pessoais”. Foi isso que me designaram na nova configuração do blogue. É claro que esse assutno pode ser muito estimulante, como pode ser escasso. Quando faltar assunto, aí enveredarei por outros caminhos, ok? Espero só que continuem me lendo por aqui.

Sobre relacionamentos, não que eu seja uma conselheira amorosa certificada pela Associação dos Desiludidos, mas acho que posso às vezes apontar uma luz no fim do túnel para alguns desesperados. Ou não, e apenas dar o empurrãozinho pra pular da ponte, nunca se sabe o que os discursos honestos femininos podem fazer com alguém mais sensível.

Principalmente quando se fala de homem. “Os bares estão repletos de homens vazios”. E o poetinha estava certíssimo. Me pergunto como vocês, cuecas, são capazes de, às vezes, ser tão vazios. Não, queridos homens, não pulem da ponte. Pelo menos não ainda!!! Não é um ataque amargurado a ninguém, nem discurso de ressentimento. E não é uma generalização. É uma constatação do óbvio, como diria Ana Rüsche (plagiando o Paulo Ferraz).

Um exemplo clássico de homem esvaziado é o tipo mulherengo que eu apelido de “metralhadora sem bala”. É capaz de atirar pra todo lado, mas acaba não acertando ninguém. Eventualmente até pode acertar um alvo... Mas o mais comum é que ele seja acertado pela moça mais moderninha que se arriscar.

O fracasso desse 'tipo' se dá, principalmente, quando as investidas são entre moçoilas de um mesmo círculo. É bem vazio mesmo achar que a moça-alvo não percebe a falta de exclusividade das cantadas, e pior, achar que se ela percebe, o atirador ainda tem chances tem sucesso com algumas das convives.

O pior meeeesmo é quando o metralhador não desiste, e começa o assédio... Assediar a moça-alvo numa tentativa desesperada é bem comum. E patético. Como achar que se conquista uma senhora (das respeitáveis) passando a mão na bunda? Tudo hipoteticamente falando, é claro.

Tem também o desdém... Desdenhar o alvo quando ela fala, muito lucidamente, da falta de critério do atirador, afirmando que mulher nenhuma (das respeitáveis) quer homem que atira pra todo lado... Aí desdenha, achando que se fizer pouco caso a moça cede. Cede nada!!! Quem desdenha quer comprar já diria Esopo.

E tem até a negação... “Não, não, nunca dei em cima!”. Deixe, deixe, a gente sabe que deu. E sabe que quer!

Tem quem diga que a necessidade de disseminar (literalmente falando) a espécie que move o metralhador-vazio pra todos os lados. Eu particularmente acho desculpa esfarrapada pra aumentar as possibilidades de se dar bem com um mínimo esforço. Não se empenha com ninguém, mas tenta com todo mundo.

O que esse tipo não percebe é que, no fim, as possibilidades de acertar um alvo sendo um franco-atirador são muito maiores. Ainda que o franco-atirador tenha muito mais trabalho (e paciência) na conquista da moça, sua taxa de sucesso deve ser muito superior à de uma metralhadora sem balas...

Mas isso é só empirismo. Um dia ainda vou provar cientificamente as vantagens de ser franco-atirador...