sábado, 27 de outubro de 2007

Porque hoje é sábado

Funciona mais ou menos assim. Você está chateadíssima com o fracasso do seu último não-relacionamento e com a partida pra lá de providencial daquele seu último não-namorado. Você sabe que a partida dele para o China foi a melhor coisa que podia te acontecer, mas ainda assim você fica meio jururu. Porém, você é uma mulher moderna, bem-resolvida, antenada com a moda, leu todos os vinte livros que te recomendaram, freqüenta lugares descolados com amigos igualmente descolados, foi ao último show da Céu, já tem o novo CD da Maria Rita no Ipod, foi convidada praquela exposição fantástica, comprou o último creminho que a Lancôme lançou, faz supermercado, paga suas contas, dá conselhos pras amigas no celular e está ficando incrivelmente ''in" quando o assunto é cinema e música. Por tudo isso, você não se permite ficar jururu por tempo demais, até porque o cara nem era tudo isso mesmo, filho da puta.
Daí você resolve que a melhor atitude diante da partida do seu não-namorado é espairecer numa cidade bacana no próximo feriado. Você convoca uma das suas melhores amigas, faz as malas, liga pros seus amigos que moram na cidade bacana e vai disposta a relaxar, divertir-se e esquecer o seu não-namorado que partiu pra China, filho da puta.
Você e sua amiga chegam na cidade bacana, colocam as pernocas de fora e vão pra praia. Vocês dão risadas histéricas das situações insólitas que acontecem na tal praia, fofocam, tomam um solzinho pra tirar o branco-escritório-da-Berrini, lêem, tomam uma cervejinha e você entra no mar pedindo pra Yemanjá levar a uruca todinha pra China também, aquele filho da puta.
À noite, toda bronzeada, você e sua amiga vão encontrar seus amigos num barzinho modernoso. Vocês se divertem ainda mais, dançam, tomam outras cervejinhas, conversam com os amigos e você esquece que agora, na China, há mais um filho da puta.
Só que, como sempre acontece com as mulheres modernas, bem-resolvidas e antenadas com a moda, um dos seus amigos acha que você está encalhada e resolve te apresentar um amigo dele, que está chegando sei lá de onde no bar: o cara é gente-boa, trabalha com o mesmo que você, está solteiríssimo, mora perto da sua casa naquela cidade não tão bacana e blablablá. Seu rosto fica levemente roxo, você sorri amarelo e se arrepende de não ter pedido pra Yemanjá te levar junto com a uruca hoje pela manhã.
O tal cara chega, ele e seu amigo conversam e o cara fica meio na dele, meio te olhando como se você fosse um experimento científico de alta complexidade. Você dança um pouco, pára, toma outra cervejinha, fica na sua e observa a sua amiga se acabando de dançar com o restante dos seus amigos. De repente você olha e não tem mais ninguém na mesa além do tal cara. Você começa a achar que há uma conspiração no ar, mas relaxa e fica na sua, afinal o tal cara já puxou assunto com você e até que o papo resistiu aos três minutos iniciais. Além disso, o filho da puta está na China e você na cidade bacana, não custa se divertir um pouco.
Bom, você e o tal cara conversam e conversam e de repente vocês estão mais perto do que você gostaria. Subitamente sua amiga tem uma dor de cabeça e vai embora. Seus outros amigos resolvem ir também. Putz, e agora, você pensa.
O tal cara fica mais agressivo e te tasca um beijão e você, já com a tecla foda-se ligada no máximo, relaxa e aproveita. Vocês saem do barzinho modernoso, o tal cara te leva pra passear na cidade bacana, ver o nascer do sol, vocês trocam telefones e ele diz que vai te ligar quando vocês voltarem pra cidade não tão bacana. Você finge que acredita e diz até logo.
Depois de 48 horas você e sua amiga, bronzeadíssimas e felizes, estão de volta à cidade não tão bacana e entram naquela rotina besta de sempre. Você chega em casa cansada depois de uma segundona brava e o celular toca: é o tal cara te chamando pra jantar. Você se surpreende um pouco e diz que não vai dar, afinal é segunda-feira e blablablá.
Na terça ele te liga de novo e você resolve dar uma chance pro rapaz. Até que é bonitinho, educado, dono de uma bagagem cultural mais ou menos e tem a vida estável, você pensa enquanto se arruma pro jantar.
Vocês se encontram, conversam bastante, jantam num lugar legal e você volta pra casa achando que a China fica em outra galáxia e que ainda há esperança no mundo.
Durante as três semanas seguintes, você e o tal cara trocam mensagens, telefonemas, e-mails, scraps e saem duas, três vezes por semana. Tudo está indo de vento em popa e você se sente feliz pela chance que o destino te deu e ao mesmo tempo meio idiota por ter quebrado aquela promessa que você fez (pela vigésima vez, diga-se de passagem) de nunca mais se apaixonar, aqueles filhos da puta. Mas, porém, contudo e todavia, como sempre acontece com as mulheres modernas, bem-resolvidas e antenadas com a moda, algo começa a dar errado.
O tal cara, novato na cidade não tão bacana, só pensa em trabalho e começa a te ligar com menos freqüência. Você persiste, manda mensagens, scraps, e-mails e mantém o mesmo padrão de conduta do início, mas o tal cara não responde mais as coisas e você se toca que, pela vigésima vez, você deveria ter mantido a promessa de nunca mais se apaixonar, esses filhos da puta.
Daí, orgulhosa que é, você fica na sua, relaxa e liga, de novo, a tecla foda-se no máximo. Será que o problema é comigo, você pensa. Esse pensamento te massacra por uma semana e você, como sempre acontece com as mulheres modernas, bem-resolvidas e antenadas com a moda, conclui que o problema é que os tais caras sempre acham que tratar bem, demonstrar preocupação e interesse é um caminho de mão única que necessariamente leva a um lugar lotado de gente observando uma mulher sádica e mandona colocando um par de algemas neles.
Sabendo disso, você se ressente um pouco e tenta arduamente descobrir um jeito de deixar claro para os tais caras - da próxima vez (e sempre tem uma próxima vez) - que compromisso não é o fim necessário de nada, mas sim que o "carpe diem", o "day by day", "o step by step" é que são as coisas mais legais desse mundo, mesmo quando você diz que sente saudades e deseja sorte naquela reunião.
Você pondera e até admite que mulheres modernas também querem ficar para namorar e namorar para casar, porém continua afirmando que nada substitui a delícia de conhecer o outro e de se preocupar com ele naquelas duas, três vezes por semana que vocês saem no início ou naquela uma vez a cada duas semanas no final.
Por outro lado, os tais caras podem não querer conhecer ninguém e nem se preocupar, mas isso é um fato da natureza masculina que não exime uma atitude madura, você pensa. O desaparecimento, seja ele por medo, babaquice, galinhagem ou o que quer que seja é privilégio dos 15 anos, meu bem. Mulheres modernas e os tais caras jogam num tabuleiro pra gente grande e há que se respeitar certas regras do jogo limpo. Simples assim, você diz praquela sua amiga no telefone e desliga, magoada depois de outro fracasso.
Funciona mais ou menos assim. Você fica amargurada um tempo, mas isso vai durar só até você encontrar novamente um cara que parece ter cinco anos de idade, age como se tivesse cinco anos de idade, ri como se tivesse cinco anos de idade mas que, ainda assim, não vai te soltar de jeito algum, mais ou menos como se você fosse um dos "Comandos em Ação" dele. Só que, enquanto ele não chega, você se resigna e vai convivendo com os tais caras, esses filhos da puta.

9 comentários:

Tio Vinix disse...

PUTAQUEPARIU, não dá pra não gostar (de um texto) dessa mulher.

Tatu disse...

totalmente muito bom.
Os comandos em a�o...caralho eu era vidrado nos carrinhos de corda e tinha a cole�o completa dos comandos em a�o, genial.

po sei l�...vai ver que ficou bom demais, vai ver que esse lance do "step by step" � a coisa boa mmo, sem contar o lance dos comandos em a�o...blz um dia fa�o a vis�o masculina deste teu texto, sem esteri�tipos...me senti provocado.
A empatia � algo necess�rio, para o bom texto.

Julia disse...

Marocas,

não chego aos pés disso, que triste! Olha que me aposento hein? E vc fica com as terças E os sábados, hein?

E sobre os homems...
Filhos da Puta!!!

Anônimo disse...

Nao gostei!

salvaterra disse...

muito bom esse texto!!!!

mas desconta as mamães desses muleques. eu creio que elas não têm culpa não, hehe.

Anônimo disse...

meo...


que filhos da puta!
pasmei!!!


amomais
=*

Elton disse...

Usando o Malvados de hoje: trocar de namorada (o), é trocar de problema.

Julia disse...

E disse o Elton!
Nossa, esse será de agora em diante o lema da minha vida: "mudar de namorado é mudar de problema... Não namore!"

Hahahahaha

Carol M. disse...

Huahuahua, provoquei os cuecas agora, hein? Nada pessoal, meninos, mas vocês precisam aprender a respeitar mais as pessoas, não só as mulheres. Honestidade é sempre a melhor atitude nesse mundo louco.

Beijocas e tks!