sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sexta Literária - Escritor da semana

Hoje começo a postar a coluna escritor da semana dentro da sexta literária.
Julguei interessante começar pelo Jabuti na categoria contos em 2006 - Marcelino Freire.
Nascido em Sertania/PE, vem para São Paulo e lança os livros: "cem menores contos"; "Angú de Sangue"; "Era o Dito"; "Balé Ralé" e por fim "Contos Negreiros" com o qual ganha o prêmio Jabuti.
Um sujeito danado que aparece sempre quando agente menos espera. Realizo um trabalho semiótico de análise do livro Contos Negreiros com orientação do Professor Antonio Vicente. Trabalhei seus contos em salas de 5ªas 6ªas 7ªas e 8ªas séries e o resultado foi interessante...A mulecada desenvolveu trabalhos criativos e competentes em cima da leitura dos textos do Jabuti. Abordei a temática do preconceito com a obra de Freire sem medo de ser feliz.
Sem demora...o escritor foi convidado para na semana que vem (31/08) realizar um bate-papo com os alunos da Escola Municipal João Gualberto (onde realizo as oficinas de literatura e o caixeta de xadrez), conto como foi em breve.
Sua obra é marcada pela ausência de pontuações e por termos da oralidade que criam um efeito estilístico de veracidade do que está sendo dito em primeira pessoa. Em Contos Negreiros por exemplo há um bate-papo entre os personagens criados por Freire com o leitor. São personagens novos a cada conto e todos com um traço em comum: sofrem preconceito. O marginalizado, o homossexual, o negro, o pobre, o assaltante, a analfabeta...Freire dá voz para estes que desabafam e desafiam o leitor em cada conto, tornando a leitura do livro desafiadora e interessante. Alguns arriscam a dizer que seu estilo de escrita assemelha-se ao RAP. A temática sim, a forma do desabafo em primeira pessoa também, mas os recursos etilísticos na minha opinião se diferenciam um pouco. A forma construída para "o falar" de cada personagem é algo aproximado da oralidade e isso fica evidente com a leitura do próprio escritor no Livro-Falante (cd) dos Contos Negreiros gravado por ele e pela cantora Fabiana Cozza. E Êta porra! (como diria o próprio).
Na FLAP 2007 (www.flap2007.zip.net) foi um dos escritores presentes mais citados, sem contar que o polivalente vai mediar nossa entrevista do coletivo Vacamarela para o Cartografia Literárias no próximo dia 13/09 no Sesc Consolação (mas isso depois explico).

Para ver mais Freire acessa: www.eraodito.blogspot.com

Aí vai um conto do amigo e escritor:

Esquece

“Todo Camburão tem um pouco de navio negreiro”
(Marcelo Yuka)

Violência é o carrão parar em cima do pé da gente e fechar a janela de vidro fume e a gente nem
ter a chance de ver a cara do palhaço de gravata para não perder a hora ele olha o tempo perdido no rolex dourado.
Violência é a gente naquele sol e o cara dentro do ar condicionado uma duas três horas quatro esperando uma melhor oportunidade de a gente enfiar o revólver na cara do cara plac.
Violência é ele ficar assustado porque a gente é negro ou porque a gente chega assim nervoso a ponto de bala cuspindo gritando que ele passe a carteira e passe o relógio enquanto as bocas buzinam desesperadas.
Violência são essas buzinadas e essa fumaça e o trânsito parado e o outro carro que não entende que se dependesse da gente o roubo não demoraria essa eternidade atrapalhando o movimento da cidade.
Violência é você pensar que tudo deu certo e nada deu certo porque quando você vê tem um policial ali perto e outro policial ali perto querendo salvar o patrimônio do bacana apontando para a nossa cabeça um 38 e outro 38 à paisana.
Violência é acabarem com a nossa esperança de chegar lá no barraco e beijar as crianças e ligar a televisão e ver aquela mesma discussão ladrão que rouba ladrão a aprovação do mínimo ficou para a próxima semana.
Violência é agente ficar com a mão levantada cabeça baixa em frente à multidão e depois entrar no camburão roxo de humilhação e pancada e chegar na delegacia e o cara puxar a nossa ficha corrida e dizer que vai acabar outra vez com a nossa vida.
Violência é agente receber tapa na cara e na bunda quando socam naquela cela imunda cheia de gente e mais gente e mais gente e mais gente pensando como seria bom ter um carrão do ano e aquele relógio rolex mas isso fica pra depois uma outra hora.

Esquece.

3 comentários:

Ministro Puskas disse...

Por favor grande Czar, não descarrega sua fúria sobre um pobre religioso...

(Veja leitor que os ataques são sutís. Na terceira linha do post ele "julga interessante" algo! Nada mais ditador do que isso! É a prova maxima da concentração do poder nas maos do Czar Vermelho)

Tio Vinix disse...

eis o embate: um ateu versus um fanático religioso.
Bom pra caralho o conto marcelino

Julia disse...

O Marcelino é foda. Pena que você não foi naquela fatídica récita da Vaca no Vão do MASP. O Marcelino foi im-pa-gá-vel!
Mu pra você, ivanito, Mu!