Costumo ser um cara bem chato pra avaliar música. Geralmente a “Música Ligeira”, (aquela que vc ouve hoje e ela gruda na sua cabeça, porém daqui há 3 meses nem sabe porque ouvia) pra mim não é música, é um subproduto da mídia, criação dos detentores do poder para que a massa não tenha acesso a cultura e acredite que música seja uma manifestação sazonal de sucessos. Mas de tempos em tempos surgem paradoxos dentro desses esquemas, e um deles foi o Funk Carioca. Esse gênero era a princípio mais uma imitação dos subprodutos americanos, no caso mais especificamente o Miami Bass, que aliava uma batida eletrônica simples aos versos falados, como no rap. O ritmo nos EUA não fez lá muito sucesso, mas como todo o resto de lixo 1º mundo, chegou aqui. E fez sucesso nas periferias, principalmente no Rio de Janeiro. Lá, desde o fim dos anos 70 existiam as Equipes de Som, que organizavam as festas com musica negra estadunidense e brasileira, dispondo dos equipamentos pata tal e alugando os mesmos, fazendo também a discotecagem. Uma das mais famosas equipes de som do Rio existe até hoje e se chama Furacão 2000. Ao Miami Bass então foram adicionadas células rítmicas que um estadunidense jamais seria capaz de criar, e as letras passaram a retratar (em português, claro) o cotidiano das favelas cariocas. A novidade nesse caso, o que me chama atenção é que todo esse movimento do Funk no Rio, que teve seu início mais precisamente em 1989, foi totalmente popular, mesmo sem o apoio de gravadoras ou da mídia em geral, o tal “som do povo para o povo”. O movimento (e me permito chamá-lo assim, por ser genuíno, por ser popular, e por ser crítico) alcançou o sucesso não só nos guetos cariocas como na alta classe média, um fato dificílimo no jogo de classes da cidade, que tem umas das divisões físicas entre ricos e pobres das mais impressionantes do Brasil. Com o tempo, como acontece com todos os gêneros populares, o funk foi vendido, massificado “desengajado”, erotizado etc... Mas o seu principio e ainda hoje os seus focos de maior sucesso, a favela, não negam: É um movimento genuíno, que mostra mais uma vez (e eu vou insistir nisso sempre que houver a oportunidade) que a criatividade é independente de classe.
A M.I.A que o diga... cantora inglesa/singalesa estourada nas paradas de sucesso européias com mixagens dos Funks daqui.
“O que existe são culturas paralelas, distintas, e socialmente complementares”
Paulo Freire
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Quarta MeiaEntrada - O Paradoxo do Funk
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2 comentários:
A imagem da MIA ficou PEQUENININHA... :( ... mas o texto não era importante, tá?
Da hora esse texto. Vou escrever um sobre o samba com uma pegada parecida.
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