terça-feira, 21 de agosto de 2007

As mulheres não sabem pedir

Há aquelas horas em que a moça está louca para discutir a relação, conversar seriamente sobre a política internaconal, ou mesmo sobre as fofocas da "Caras" (cada qual, com seu perfil, sempre que conversar muuuuito sobre alguma coisa). O moço, ocupado com a Tv, computador, livro, video-game ou jornal, diz desatento "uhum, isso mesmo, amor..." A moça fica bem brava, sem mais nem porque. Emburra e ao ser indagada diz secamente "não, não foi nada. humpf". O moço, como todo bom moço, entende que não foi nada mesmo e se volta pra sua Tv, pro seu computador, pro seu livro, pro seu video-game, pro seu jornal (cada qual, com seu perfil, sempre se volta praquilo que estava fazendo).

Há também aquelas conversas, quando ao telefone a moça. como toda boa moça, fala de assuntos que de nada interessam ao moço. Como exemplo, fala ela taaantas vezes daquele filme super-alternativo do cinema preto-e-branco, mudo, realizado por um Sérvio nascido na Bulgária, filho de Austríacos, que só tinha um olho, que era verde... Na hora de ir no cinema o moço, como todo bom moço, pergunta "que filme você quer ver?" e a moça, como toda boa moça, responde "ah, decide você, pode escolher". O moço, como todo bom moço, decide assistir "Duro de Matar 4", e a moça, como toda boa moça, passa o filme suspirando, revirando os olhos. Quando indagada, "não, não foi nada. humpf".

Mulher não sabe pedir. É fato que para nós é humanamente impossível dizer "Ah, será que a gente não podia assistir outro filme?" ou "será que você poderia prestar um pouco de atenção em mim?". A gente na verdade pede, mas não na mesma linguagem que os homens escutam e entendem. Não, não foi nada. Sim, foi, só temos orgulho demais pra falar abertamente que nos chateamos com algo e que queríamos ou esperávamos algo diferente.

Não sei bem o porquê disso. Acho que pensamos que se a gente pede, fala o que quer, o moço faz só pra agradar, não porque ele também quer. E se ele faz sem querer, não é genuíno, e portanto não tem valor. Esse sistema de atribuir "valor" pra tudo quanto é ato e fato e fala fode qualquer relação.

Eu mesma não consegui me desvencilhar do sistema de pesos e valores das relações amorosas. Se o cara propõe "vamos assistir o filme X que você falou tanto no outro dia?" ganha 10 pontos. Se fala "ah, você escolhe, fala de tantos filmes", ganha 5 pontos, porque não estava prestando atenção ao que eu falava... E se escolhe sem nem considerar o meu gosto cinematográfico, é -5. Não, não, é -100. Porque meu gosto cinematográfico tem um peso enoooorme. Parece até que é algo muito horrível ele escolher um filme sem pensar em mim! Afinal, eu tinha escolhido um sem pensar no gosto dele mesmo...

Mas no fundo, nós moças, damos muito significado (e acima de tudo PESO), pra qualquer coisa que possa demonstrar atenção ou desatenção, cuidado ou descaso. O que tem de tão ruim em dizer "ah, eu preferiria assim" ou então, "gosto tanto quando você faz aquilo"? Por que é que isso tem que tirar todo o mérito do ato, só porque o moço não adivinhou o que a moça quer?

Então lanço hoje aqui no Tantaprosa uma campanha pela honestidade nas relações. Que os homens prestem mais atenção nas mulheres, e que as mulheres não esperem que os homens advinhem o que elas sonham e possam pedir o que querem sem sentir que o ato perde todo o valor. Afinal, não é só porque a moça pede que eles fazem algo. Pedir não invalida nada, só facilita a relação.

8 comentários:

Anônimo disse...

Amei, Ju!!! Honesto, pungente, perfeitamente lúcido.

Besos!

Elton disse...

Tenho sérias dúvidas com relação a aplicação na realidade. Orgulho ferido é dose...

Julia disse...

Elston, querido, vencer o orgulho é necessário às vezes. Eu disse, eu mesma tenho dificuldade de aplicar tudo isso na minha vida. MAs a tentativa é o primeiro passo pro sucesso... (bah, que frase de livro de auto-ajuda!!!)

Marcus DIeckmann disse...

Enfim alguém de coragem viu uma verdade.

Honestidade, transparência e respeito deveriam ser a base de qualquer relação. Eu disse qualquer.

Julia, veja por uma outra ótica, as pessoas perderam a capacidade de se comunicar. Em serem claras. Qual seria o peso de alguém apos um pedido, rejeitar a própria vontade em favor de satisfazer a do próximo?

Estamos num tempo onde tudo é capital, tudo possui valor e é quantificado. As relações de hoje se baseiam num sistema de capitais, onde os investimentos e retiradas de cada parte devem se equilibrar. Um fato muito triste, que acaba com a coisa mais bela que uma pessoa pode oferecer a outra. A espontaneidade.

Faça, por que você deseja fazer, por que você quer fazer e ver a outra pessoa feliz. Pra quem gosta de verdade somente isso basta. Peça, sem medo e respeite o direito da outra pessoa dizer não.

Sejamos simples, se algo não esta bom para você. Mude. Troque. Saia. Uma hora nos encontramos alguém que nos respeita como nos respeitamos.

Vamos todos deixar de ser covardes, e nos escondermos em relações mesquinhas pelo simples fato de não suportarmos ficar sozinho. Vamos parar de procurar nos outros a cura de nossos defeitos, pois ela esta dentro de nos mesmos.

Sejamos sinceros conosco, para que possamos ser sinceros com os outros.

Esse é o desafio que eu proponho.

PS: Peça, ler mente é diferente de prestar atenção. Muitas vezes a simples presença de vocees ofusca nossa mente.

Tio Vinix disse...

Eu tinha uma tática boa pra quando acontecia o caso do cinema com a as moças com quem eu saia: Qdo elas vinham com o clássico "ah vc que sabe" durante a fila, eu respondia" então tá bom" e ficava quieto, esperando a nossa vez. Claro que depois de um tempo a moça perguntava que filme nós iamos assistir eu, maldosamente respodia que se pra ela tanto fazia, ia ser muito mais legal a surpresa na hora do ingresso, fechando com a pior frase inventada para o início de qualquer relação:"confie em mim"
Uma dica aos marmanjos: não tentem fazer isso sem o auxílio de um profissional, hehehe...

Ministro Puskas disse...

Muito bom! Agora se tem uma coisa que me deixa de mãos atadas é exatamente quando uma mulher diz o que quer... rs geralmente isso vem num tom do tipo "se negar morre!".

Anônimo disse...

Esse sistema de atribuir "valor" pra tudo quanto é ato e fato e fala fode qualquer relação.

minha nossa..."o eu é moça" como diria chico buarque, mas seila esse negócio de ser adivinho as vezes enche o sako se é sensível é pq é demais se não descobre o que quer não estava prestando atenção, mulheres (algumas) são egoístas essa é mais pura verdade, mesmo não vivendo sem elas...isso é fato.
o ser humano é egoísta, homens tb..mas nas relações isso é evidente.

Anônimo disse...

a vanessa disse: "ivan lembre-se da teoria do grice" , pois é ela está aqui do meu lado agora lendo o tantaprosa e o meu comentário...
a comunicação não acontece se a mulher fala que quer fazer alguma coisa diferente e não diz o que é... a mulher SAAAABE oq ela quer fazer - ou não as vezes - (aí tem que mandar as que não sabem o q querem da vida pastar.

Muito bem...voltamos ontem discutindo que as pessoas devem se comunicar sendo relevantes, claras, breves e não ambiguas, uma vz que a ambiguidade é um recurso da piada, do poema etc etc...e isso ajuda a confundir a comunicação.

Assim sendo as máximas conversacionais são essas...e tenho dito! se o falante ferir uma delas a comunicação vai sair torta não tem jeito...o falante pode acertar por exemplo na sinceridade, na objetividade mas se errar na relevÂncia ou seja (não usar a palavra certa na hora certa engatando o assunto pedido)vixi...ninguém entende ninguém.

ainda resta nos conformarmos com apenas 3% da nossa comunicação acontecer. ou seja...só 3% é comunicado daquilo que deveria realmente ser...Searle diz isso, e paro por aqui pra não ser prolixo e ferir mais uma máxima conversacional do grice.

minha nossa e as mulheres ainda complicam?
apoio a campanha e encabeço a luta, vamos ocupar o largo são francisco?
kkk

e viva a pragmática!