Esta semana vimos uma manifestação organizada através do site Orkut, de deboche e desrespeito ao presidente, formada principalmente por indivíduos que se diziam “de direita” e que gritavam “Fora Lula” através de bairros nobres da capital paulista. Antes de mais nada, não vou ser o defensor de um governo corrupto e cínico como o atual, mas também não posso deixar de notar um aproveitamento de setores mais conservadores da sociedade em tachar de “esquerda” uma linha política que aumenta lucros de banqueiros e reduz investimentos na educação básica. A “direita” diz defender um Estado mínimo, recusa a existência de ensino superior gratuito (para não dizer do médio) e prega a liberdade empresarial como forma de acabar com a desigualdade do país. Chama de incapaz o atual governo (e realmente é), mas aproveita para demonizar a esquerda dizendo que a política em voga é prova cabal do fracasso dos setores mais libertários em comandar o país. Ora, sabemos bem que um partido de esquerda que se preze jamais faria programas econômicos em favor dos mais abastados, não reduziria o investimento em educação e não seria “neutro” frente à desvalorização da profissão docente. Dito isso, vamos analisar se o Governo Lula é original em seu programa administrativo ou se apenas dá continuidade ao governo do PSDB/PFL (atual DEM). Primeiro de tudo, voltemos as propostas do “Consenso de Washington” à América Latina, no período que esta sofria com os altos índices inflacionários (fins da década de 70 e 80). Este “grupo” diagnostica que a crise recessiva dos anos 70 nos países periféricos é interna e deve-se ao esgotamento dos modelos de desenvolvimento apoiados na participação do Estado na economia (pela via da estatização de empresas e setores, investimentos dirigidos ou do protecionismo estatal). Propõe então a redução drástica das funções do Estado em prol do restabelecimento das funções de coordenação das relações econômicas e sociais pelo mercado (o tal do “Estado mínimo”). Essa receita consiste numa estratégia de ajuste em 3 etapas seqüenciais: 1) estabilização macro econômica - controle do processo inflacionário, estabilização monetária, regulação do câmbio, recuperação das finanças públicas por meio de privatizações e das reformas tributária e previdenciária. 2) reformas estruturais da economia direcionadas ao mercado internacional - privatização de empresas estatais, especialmente setores estratégicos como os de energia e telecomunicações, desregulamentação dos mercados, liberalização financeira e comercial. 3) retomada dos investimentos - com ênfase na atração de investimentos estrangeiros - e do crescimento econômico. As etapas 1 e 2 foram feitas, até certa medida, pelos governos Collor e FHC, ficando talvez a parte que diz respeito as reformas tributárias e previdenciárias (e adivinhe quem se disponibilizou a fazê-las?). A terceira etapa foi iniciada no segundo governo FHC e, bem, não preciso lembrá-los onde o tal P.A.C. se encaixa aqui. O corte do gasto social público, a focalização do gasto público nos grupos mais pobres (fome zero, bolsa família etc.), a descentralização dos serviços e do financiamento (municipalização, transferência de obrigações, cobrança sobre os Estados de manutenções de obras de âmbito federal), a privatização seletiva dos serviços sociais por mecanismos explícitos ou implícitos (deteriorização do serviço público, desprestigio, desfinanciamento), tudo faz parte das políticas do Governo Lula. Se existe uma política incapaz de resolver os problemas de desigualdade que assolam o país, essa política é a neoliberal. A esquerda não se identifica com o descaso, com a corrupção e com a má gestão que estamos vivendo. Fica anotado aqui o meu repúdio a essa “direita” maquiavélica, que briga por crises aeroportuárias enquanto o proletário se espreme nos coletivos, dizendo-se defensora de uma maior igualdade através do acumulo do capital em mãos de poucos, visando o progresso (das elites).
* Textos de referência:
ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, pp. 09-23.
DRAIBE, S. M. As políticas sociais e o neoliberalismo: reflexões suscitadas pelas experiências latino-americanas. Revista da USP n. 17, 1993, p. 86-100.
LAURELL, A. C. Avançando em direção ao passado: a política social do neoliberalismo. IN: Estado e políticas sociais no neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 1995, p. 151-178.
8 comentários:
hahaha!!! todos nós chutando os cachorros dos outros
textão
Ó lá hein! A direita não tá muito pra cachorro morto não... esses ultimos dias ela tem até colocado as asinhas de fora. Espero que meu big porrete tenha colocado ela em seu lugar novamente hehehehe
Rapaz, muito bom, mas há aqui duas coisas a se considerar, primeiro do mundo contemporâneo (o conceito de prolatetariado há muito não é mais o mesmo- aquele do Marx; veja aí os excelentes trabalhos do Ricardo Antunes) e depois do Brasil (partido de esquerda, pois sim, mas à esquerda do que e pra quem).
Isso aí daria um super pano pra manga, mas como disse pro Ivanito, a gente precisa marcar um hh pra socializar e descer o sarrafo, hehehe.
É verdade Carol. Eu apenas tentei construir uma argumentação que mostrasse a injuria do tal movimento "Cansei". E a idéia do proletário citada foi somente no que diz respeito à "classe que pega onibus por falta de opção". Não tive intenção de entrar com Marx pq achei que o texto ficaria muito "pesado" (com termos muito acadêmicos), se bem que ficou um pouco... rs
Ah, mas nem foi crítica não. Eu também acho uma maravilha (sic) esse CANSEI e ainda mais lindo a OAB e um montão de gente 'oprimida' fazendo parte disso aí. Achei o máximo o Lembo falando que 'cansei'é termo de dondocas enfadadas...
Mas enfim, conversemos sobre isso num boteco dia desses.
Beijos!
OAB-SP!
O Rio, por exemplo, foi contra a manifestação
uia!
muito bom.
assistam surplus, só não pensem que reundar o brasil é uma tarefa fácil, mas esse lance anárquico, vai que pega.
marossi, demoramos. vamos socializar OAB com academia de letras com fflechentos... vamos ver no que dá. aliás já tá.
um salve aos nossos textos!
Postar um comentário