terça-feira, 7 de agosto de 2007

Os escafandristas

Danae, Gustav Klimt.




Não se afobe, não

Que nada é pra já

O amor não tem pressa

Ele pode esperar em silêncio

Num fundo de armário

Na posta-restante

Milênios, milênios

No ar



E quem sabe, então

O Rio será

Alguma cidade submersa

Os escafandristas virão

Explorar sua casa

Seu quarto, suas coisas

Sua alma, desvãos



Sábios em vão

Tentarão decifrar

O eco de antigas palavras

Fragmentos de cartas, poemas

Mentiras, retratos

Vestígios de estranha civilização



Não se afobe, não

Que nada é pra já

Amores serão sempre amáveis

Futuros amantes, quiçá

Se amarão sem saber

Com o amor que eu um dia

Deixei pra você


Futuros Amantes, Chico Buarque.
Pobres escafandristas! Mal sabem o que os espera. Paixões furiosas, nunca correspondidas, e um único amor, meio embolorado e cheio de tédio. O armário ainda cheira mal, mesmo depois de tantos mortos terem sido enterrados: ofício comum e enfadonho que exerceram durante quase toda a vida. Ser coveiro do amor alheio até que é tarefa fácil. Complicado é enterrar o "amor-seu", aquele que se fundiu às carnes, embriagado de noites mal (ou muito bem) dormidas, de vinho, de unhas, de suor, e beijos e cheiros e carinhos...E há também os amantes. Sempre há os amantes. Aqueles que rompem a noite invadindo a propriedade alheia com descaso, que arrancam suspiros à força, beijos tímidos e (depois) voluptuosos e muito desejados. Esses ficam entranhados na alma para sempre, nunca são sublimados, especialmente se as retinas se acostumaram a travar diálogos longos e incompreensíveis noites afora, alheios a qualquer (des)conhecimento. A ironia é que essa mesma linguagem de corpos aprisiona espíritos, tão grandiosamente disciplinados, sempre temerosos de um outro tipo de entrega, talvez. Desses amantes tem-se saudade. Infinita. Doída. Roxa. Angustiada. A grande tristeza, enfim, é que sempre afastam a metafísica, a deliciosa metafísica. Não dos corpos, mas das almas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Texto cheirando à naftalina! Infelizmente andamos sem tempo para produzir algo útil. Na próxima semana prometemos algo mais 'engajado'.

Besos!

Tio Vinix disse...

como um bom vinho, carol

(como um velho chichê, Vinix...)

Anônimo disse...

"Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e a última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação. Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo não sabem amar: tem que aprendê-lo. Com todo o seu ser, com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário, medroso e palpitante, devem aprender a amar. Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura. Assim, para quem ama, o amor, por muito tempo e pela vida afora é solidão, isolamento cada vez mais intenso e profundo. O amor, antes de tudo, não é o que se chama entregar-se, confundir-se, unir-se a outra pessoa. Que sentido teria a união de algo esclarecido, inacabado, dependente? O amor não é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo em si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser; é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz , uma escolha e um chamado para longe. Do amor que lhes é dado, os jovens deveriam servir-se unicamente como de um convite para trabalhar em si mesmos ("escutar e martelar dia e noite"). A fusão com o outro , a entrega de si, toda espécie de comunhão não são para eles (que deverão ainda juntar durante muito, entesourar); são de açgo acabado para o qual, talvez, mal chegue atualmente a vida humana."
Rilke

Tatu disse...

� que eu preciso dizer que te amo te ganhar ou perder sem engano...

Elton disse...

Sou mais prosaico. Belo texto.

Ministro Puskas disse...

Eu to gostando é do embate entre Carol e Marcus. Nada como uma disputa "minino X minina" pra levantar meu ânimo rsrs