segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Brasileiros, uma revista crítico-otimista

Exceto pela antiga Realidade, alguém seria capaz de dizer uma revista brasileira que se aproxime da New Yorker ou da Esquire, famosas por terem emplacado o Novo Jornalismo, que coloca a reportagem como gênero literário? Pois é, a revista Brasileiros vem inspirada na escola que rendeu algumas reportagens clássicas do gênero, como Hiroshima, de John Hersey, A Sangue Frio, de Truman Capote, ambas publicados inicialmente na New Yorker, ou o perfil de Frank Sinatra de 55 páginas escrito por Gay Talese para a Esquire.
Capitaneada por Hélio de Campos Mello, Nirlando Beirão e Ricado Kotscho, a revista vem com 132 páginas, lomabada quadrada, periodicidade mensal e custo de capa de R$ 8,90. A iniciativa é um alento para quem anda cansado das pautas ditadas por Brasília, ou para quem sente a ausência desse gênero tão maltratado pela imprensa brasileira, a grande reportagem. Nesta edição número 1 (a número zero teve circulação restrita), os pontos baixos são as seções de lançamentos de cds e cobertura política, que já são cobertas de modo razoável por blogs e pela grande imprensa. O perfil de Gay Talese feito por Jorge Pontual dá uma escorregada na brincadeira óbvia com o nome do autor – Quero aprender a ser Gay, mas traz histórias interessantes sobre o perfilado. A reportagem de capa – sobre preconceito – é pertinente, mas tem o defeito de apenas reproduzir uma pesquisa, quando talvez fosse mais interessante o olhar de algum repórter sobre o tema. Creio que ganharia em sabor, pois tudo o que a pesquisa demonstra é mais do que conhecido e vivido por grande parte das pessoas deste país. Os pontos altos fogem das pautas tradicionais. São as reportagens – por sinal, ótimas - principalmente, nesta edição, as que narram a viagem de alguns antropólogos ao Mali e a de Ricardo Kotscho ao “Texas” brasileiro, região do semi-árido que conta com petróleo. A revista aponta para o que eu chamaria de um otimismo crítico, pois, apesar de denunciar algumas de nossas mazelas históricas – como o preconceito –, ela aponta para uma certa “evolução” no que diz respeito ao modo como lidamos com elas, como no fato de reconhecermos que somos preconceituosos, sim. A questão de classe é pouco enfatizada e a violência urbana aparece de modo marginal. Considerando essas características, sobressai uma vontade de diminuição das injustiças sociais, desde, porém, que ocorra dentro de uma determinada ordem. Dessa forma, a revista Brasileiros ocupa um espaço entre os blogs / mídias gratuitas em geral - que não têm dinheiro para bancar essas grandes reportagens - e a grande imprensa – excessivamente presa à cobertura do poder. Só tenho dúvidas em relação à viabilidade financeira da revista, pois há poucos anunciantes nela. De qualquer forma, tomara que perdure.

5 comentários:

Anônimo disse...

Pô Elton! Falando da Realidade eu lembrei daquelas aulas do Marcos Silva haha
E é melhor vc mudar de setor aí na sua firma, escreve melhor que os diplomados.
Abraço

Tio Vinix disse...

mas exatamente por isso que ele não conseguiria trabalhar na firma dele escrevendo... escreve bem hehehe...

Ministro Puskas disse...

Que isso?!? Tem gente boa que escreve lá vai... não podemos generalizar tanto assim rsrs

Carol M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol M. disse...

Vou me informar a respeito, até porque só sei que o Nirlando Beirão foi o ghost writer do livro da Galisteu...[coisa de loira, não me dêem crédito, hehehehe].

Besos pros meninos e até o hh da semana que vem!