quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Ao “Sagrado solo de São Francisco” *


Eis que estamos aqui para falar desse delicado assunto que envolve a santíssima Faculdade de Direito da USP (sempre bom lembrá-los do “USP” no final) e os conturbados acontecimentos que a marcaram no dia 21 de Agosto. Não vou falar em nome de nenhum movimento estudantil, mesmo porque diversas cartas de manifestação estão circulando por sites, revistas e jornais do país. Não vou falar diretamente sobre a conservadora elite (intelectual e econômica) que ainda vê São Francisco como santo e prega ser a única herdeira original de seu legado. Também não vou falar da sedenta milícia sustentada por essa elite, que invade os grandes pilares neoclássicos do conhecimento com bordões que machucam crianças, mães de família e todo tipo de hereges que não possuem as famosas carteirinhas laranja. Falarei sim da USP, que depois de muitos anos, chegou novamente a perturbar a ordem no grande largo. A grande Universidade de São Paulo recentemente passou por um processo de agitação que ganhou vulto por toda mídia, dividindo opiniões dentro da sociedade e inclusive dentro da própria instituição. A “Invasão da Reitoria” foi um levante coletivo, mas não posso deixar de citar algumas faculdades como forças centrais para que o processo fosse possível. Faculdade de Filosofia (FFLCH), Faculdade de Educação (FE), Faculdade de Saúde Pública (FSP) e a Escola de Comunicações e Artes (ECA), merecem destaque principalmente pelas ações que realizaram no feudo do Butantã. Não por acaso a Engenharia (POLI), Arquitetura (FAU), Psicologia (IP), Odontologia (FO) e algumas faculdades de exatas, fizeram um movimento contrário à ocupação. Desnecessário chamar a atenção de que grande parte delas não possui cursos noturnos, ou se os possui, implicam em mais anos para que os alunos se formem e em exigências custosas de materiais que deixam qualquer classe C, D e E impossibilitadas de ali estudar. A Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (FEA), apesar da longa tradição de reaça, acabou não tomando partido na situação. Será que é por que ela possui curso noturno? As reivindicações dos estudantes que invadiram a reitoria, dentre muitos pontos, resumiam-se a melhores condições de moradia e alimentação. Pergunto eu que tipo de estudante precisa dessas melhorias? Com certeza não é o estudante AA da Faculdade de Medicina, nem os sedentários alunos da FAU que possuem uma ridícula carga horária integral que poderia muito bem ser refeita em um único período. Quem sabe com um curso noturno ela também não consiga bons índices de aprovação entre alunos oriundos da rede pública? É sempre bom lembrá-los que, a Faculdade de Direito (que tem curso noturno) é uma das que mais recebem alunos provenientes de escolas públicas. Não tanto quanto a FFLCH, FE ou ECA mas, junto com a FEA, formam um número expressivo se comparado com as “faculdades reaças”. A luta por melhores condições sociais, ampliação de vagas, cotas etc. sempre fizeram parte do cotidiano da Faculdade de Filosofia, que muitas vezes apanhou sozinha nas lutas pela democratização do acesso à USP. São Francisco começa agora a enfrentar as conseqüências da entrada cada vez maior de estudantes pobres em seus salões. É importante observar como a sociedade que a freqüenta reage frente a esse movimento transformador. Ainda é cedo para falar se as elites franciscanas estão ganhando ou perdendo, mas que daí sai espetáculo, ah isso sai! Escolha seu lado e vamos à luta...

*Frase de João Grandino Rodas, diretor da Faculdade de Direito da USP.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A Pergunta Que Não Quer Calar


Por que quase todo o Anticoncepcional tem nome de mulher?

Quarta MeiaEntrada - O Paradoxo do Funk







Costumo ser um cara bem chato pra avaliar música. Geralmente a “Música Ligeira”, (aquela que vc ouve hoje e ela gruda na sua cabeça, porém daqui há 3 meses nem sabe porque ouvia) pra mim não é música, é um subproduto da mídia, criação dos detentores do poder para que a massa não tenha acesso a cultura e acredite que música seja uma manifestação sazonal de sucessos. Mas de tempos em tempos surgem paradoxos dentro desses esquemas, e um deles foi o Funk Carioca. Esse gênero era a princípio mais uma imitação dos subprodutos americanos, no caso mais especificamente o Miami Bass, que aliava uma batida eletrônica simples aos versos falados, como no rap. O ritmo nos EUA não fez lá muito sucesso, mas como todo o resto de lixo 1º mundo, chegou aqui. E fez sucesso nas periferias, principalmente no Rio de Janeiro. Lá, desde o fim dos anos 70 existiam as Equipes de Som, que organizavam as festas com musica negra estadunidense e brasileira, dispondo dos equipamentos pata tal e alugando os mesmos, fazendo também a discotecagem. Uma das mais famosas equipes de som do Rio existe até hoje e se chama Furacão 2000. Ao Miami Bass então foram adicionadas células rítmicas que um estadunidense jamais seria capaz de criar, e as letras passaram a retratar (em português, claro) o cotidiano das favelas cariocas. A novidade nesse caso, o que me chama atenção é que todo esse movimento do Funk no Rio, que teve seu início mais precisamente em 1989, foi totalmente popular, mesmo sem o apoio de gravadoras ou da mídia em geral, o tal “som do povo para o povo”. O movimento (e me permito chamá-lo assim, por ser genuíno, por ser popular, e por ser crítico) alcançou o sucesso não só nos guetos cariocas como na alta classe média, um fato dificílimo no jogo de classes da cidade, que tem umas das divisões físicas entre ricos e pobres das mais impressionantes do Brasil. Com o tempo, como acontece com todos os gêneros populares, o funk foi vendido, massificado “desengajado”, erotizado etc... Mas o seu principio e ainda hoje os seus focos de maior sucesso, a favela, não negam: É um movimento genuíno, que mostra mais uma vez (e eu vou insistir nisso sempre que houver a oportunidade) que a criatividade é independente de classe.

A M.I.A que o diga... cantora inglesa/singalesa estourada nas paradas de sucesso européias com mixagens dos Funks daqui.






“O que existe são culturas paralelas, distintas, e socialmente complementares”
Paulo Freire

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Um pouco de poesia.

* A prisão de Martin Luther King.


Ando escrevendo compulsivamente e não sei se isso é bom ou ruim. Só sei que escrevo e não consigo parar. Dessa forma, achei interessante colocar um poema novo por aqui, até pra dar seqüência ao post de ontem da Júlia, recheado das imbecilidades que pairaram no ar na semana passada.
Aviso que o poema está em fase embrionária e certamente passará por revisões. Se quiserem palpitar, agradeço.


Mrs. Holiday

As árvores do sul
floresciam negras,
davam frutos duros
que apodreciam macerados
no seco do chão.

A brisa ácida
ventando facas,
cordas e balas,
jamais vencia os
triângulos brancos

recortados dos
sombrios mapas
antes mesmo de 1963.

As árvores do sul já não cantam.
Um dia tiveram um sonho
assim como eu.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Segunda-Avon - Pan-Americanas

Depois de ter saído do ar de forma misteriosa, o blog A Verdade do Pan está de volta. O conteúdo consiste basicamente num clipping de matérias sobre os Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, o que contribui bastante para que saibamos de muito mais coisas além do quadro de medalhas. Destacam-se as matérias relacionadas a questões orçamentárias e ao uso de dinheiro público, o que é uma raridade em se tratando de cobertura esportiva. Tendo em vista que muita gente graúda aposta no Brasil para sede da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016, o blog é um material excelente para pesquisa e análise do que um megaevento esportivo legará de fato à cidade e seus custos efetivos. http://averdadedopanoretorno.blogspot.com/

domingo, 26 de agosto de 2007

Terra de Ninguém

Bom, como os domingos são "território livre" (ahrgh, como cansei dessa expressão) aqui no tantaprosa, resolvi escrever uma coisinha sobre a ocupação da Sanfran, "minha" faculdade... É uma compilação de frases de diversos emails que rolaram nos egroups de alunos do meu ano e de alguns calouros também.

Achei que esse "samba" ficou legal, ainda por cima inspirada por uma reportagem que li hoje sobre Aula "Magda" que saiu no Estadão. Não que o conteúdo da matéria tenha a ver com a ocupação da FDUSP (chic o nome né?), mas é que me lembrou muito minha primeira Aula Magna no Salão nobre, de cortinas de veludo e estátuas de bronze. Bom, divagações à parte, aí vai a minha salada:


Ou se é nazista ou se é stalinista, reaça ou comunista de merda, conservador maldito ou esquerdalha filhinho-de-papai. Também não me chamo Mussolini. Que arrogância deste pessoal em tomar a frente do movimento e se julgar legítimo! Defensor da justiça, moralidade e educação ou indiferente, egoísta, individualista?

Onde é que mora a amizade? Quem se fodeu de novo foram os ocupantes da faculdade. O fim da história, todo mundo sabe. E se vocês trancarem pessoas dentro de um prédio, mantendo-as lá a força para que ouçam o protesto de vocês? O fim da história, todo mundo sabe. Quantas vidas desperdiçadas? Apelou perdeu! Perdemos tantas vidas... Vidas de pessoas como você são o atraso desse país!

Onde é que mora a alegria? Duvido que peguem no livro. Querem enfiar um monte de ignorante pra cair o nível da nossa faculdade? A faculdade é pra quem pode! Como assim? Parece piada!
Este povo, este monte de ignorante que você despreza com todo o seu ódio de classe, sustenta a Universidade em que você estuda. Como um isento do IR, que se bobear nem cpf tem, sustenta a faculdade? Ela é mantida com verba de ICMS! Todo mundo paga!

No largo de São Francisco. Somos TODOS privilegiados e não devemos pagar por isso. Alguém quer analfabetismo, o sucateamento do ensino, a piora nas escola públicas, a segregação dentro das Universidades? Temos obrigação moral e ética de lutar para que as desigualdades diminuam, para que haja uma melhor distribuição de renda, educação, cultura, emprego.

Na Velha Academia. Eram movimentos de gente humilde, pobre, favelado, negro, sem-terra, vagabundo, meliante, bandido... gente "feia" como disse nosso querido amigo. E por isso tenho que ser chamada de escravocrata? Uspianos durante séculos humilharam, maltrataram, estupraram, violentaram e continuam explorando a população negra. Sério mesmo? Me RECUSO a ver tamanho PRECONCEITO e me calar. E calou.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sexta Literária - Escritor da semana

Hoje começo a postar a coluna escritor da semana dentro da sexta literária.
Julguei interessante começar pelo Jabuti na categoria contos em 2006 - Marcelino Freire.
Nascido em Sertania/PE, vem para São Paulo e lança os livros: "cem menores contos"; "Angú de Sangue"; "Era o Dito"; "Balé Ralé" e por fim "Contos Negreiros" com o qual ganha o prêmio Jabuti.
Um sujeito danado que aparece sempre quando agente menos espera. Realizo um trabalho semiótico de análise do livro Contos Negreiros com orientação do Professor Antonio Vicente. Trabalhei seus contos em salas de 5ªas 6ªas 7ªas e 8ªas séries e o resultado foi interessante...A mulecada desenvolveu trabalhos criativos e competentes em cima da leitura dos textos do Jabuti. Abordei a temática do preconceito com a obra de Freire sem medo de ser feliz.
Sem demora...o escritor foi convidado para na semana que vem (31/08) realizar um bate-papo com os alunos da Escola Municipal João Gualberto (onde realizo as oficinas de literatura e o caixeta de xadrez), conto como foi em breve.
Sua obra é marcada pela ausência de pontuações e por termos da oralidade que criam um efeito estilístico de veracidade do que está sendo dito em primeira pessoa. Em Contos Negreiros por exemplo há um bate-papo entre os personagens criados por Freire com o leitor. São personagens novos a cada conto e todos com um traço em comum: sofrem preconceito. O marginalizado, o homossexual, o negro, o pobre, o assaltante, a analfabeta...Freire dá voz para estes que desabafam e desafiam o leitor em cada conto, tornando a leitura do livro desafiadora e interessante. Alguns arriscam a dizer que seu estilo de escrita assemelha-se ao RAP. A temática sim, a forma do desabafo em primeira pessoa também, mas os recursos etilísticos na minha opinião se diferenciam um pouco. A forma construída para "o falar" de cada personagem é algo aproximado da oralidade e isso fica evidente com a leitura do próprio escritor no Livro-Falante (cd) dos Contos Negreiros gravado por ele e pela cantora Fabiana Cozza. E Êta porra! (como diria o próprio).
Na FLAP 2007 (www.flap2007.zip.net) foi um dos escritores presentes mais citados, sem contar que o polivalente vai mediar nossa entrevista do coletivo Vacamarela para o Cartografia Literárias no próximo dia 13/09 no Sesc Consolação (mas isso depois explico).

Para ver mais Freire acessa: www.eraodito.blogspot.com

Aí vai um conto do amigo e escritor:

Esquece

“Todo Camburão tem um pouco de navio negreiro”
(Marcelo Yuka)

Violência é o carrão parar em cima do pé da gente e fechar a janela de vidro fume e a gente nem
ter a chance de ver a cara do palhaço de gravata para não perder a hora ele olha o tempo perdido no rolex dourado.
Violência é a gente naquele sol e o cara dentro do ar condicionado uma duas três horas quatro esperando uma melhor oportunidade de a gente enfiar o revólver na cara do cara plac.
Violência é ele ficar assustado porque a gente é negro ou porque a gente chega assim nervoso a ponto de bala cuspindo gritando que ele passe a carteira e passe o relógio enquanto as bocas buzinam desesperadas.
Violência são essas buzinadas e essa fumaça e o trânsito parado e o outro carro que não entende que se dependesse da gente o roubo não demoraria essa eternidade atrapalhando o movimento da cidade.
Violência é você pensar que tudo deu certo e nada deu certo porque quando você vê tem um policial ali perto e outro policial ali perto querendo salvar o patrimônio do bacana apontando para a nossa cabeça um 38 e outro 38 à paisana.
Violência é acabarem com a nossa esperança de chegar lá no barraco e beijar as crianças e ligar a televisão e ver aquela mesma discussão ladrão que rouba ladrão a aprovação do mínimo ficou para a próxima semana.
Violência é agente ficar com a mão levantada cabeça baixa em frente à multidão e depois entrar no camburão roxo de humilhação e pancada e chegar na delegacia e o cara puxar a nossa ficha corrida e dizer que vai acabar outra vez com a nossa vida.
Violência é agente receber tapa na cara e na bunda quando socam naquela cela imunda cheia de gente e mais gente e mais gente e mais gente pensando como seria bom ter um carrão do ano e aquele relógio rolex mas isso fica pra depois uma outra hora.

Esquece.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A História do Czar Vermelho e sua Corte

Pessoal, estou aqui para apresentar um pouco de minha pesquisa na graduação de História. Após cinco anos recolhendo dados, cruzando informações e lendo uma enorme bibliografia, venho relatar um pouco do que sei a respeito do grande império do mal fundado por Ivan o Terrível. Adianto desde já que a narrativa para os fatos históricos não se baseiam nas concepções braudelianas de longa duração, nem numa noção progressista de História. A forma que escolhi é um elemento hibrido entre a estética artística de Michelet e a desvelação crua de Marx. Essa nova metodologia está sendo objeto de estudo pela Universidade de São Paulo junto com a teoria Geiseriana de tempo histórico. Maiores informações podem ser adquiridas através de e-mail.

Fundação de Prosatantsky:

Assim como os primeiros grandes impérios do mundo, a origem de Prosatantsky esta encoberta por misteriosas lendas épicas. Sabe-se que sua fundação foi pensada por quatro dos grandes ministros que hoje estão no poder. Apesar de não comentarem muito a respeito daquelas épocas, pude sondar algumas coisas através de cartas trocadas entre o Ministro Húngaro da Casa Civil e Ivan o Terrível, num momento em que os dois começaram seus atritos. Infelizmente, com a instalação recente de um poder ditatorial no país, os arquivos ao qual baseei minha pesquisa encontram-se fechados para consulta pública.

As informações de que disponho apontam que o Ministro Húngaro tem sua origem dentre as famílias magiares nos Cárpatos, e que, como todo ser lendário, foi abandonado quando criança e criado por animais. O bicho que o criou era uma ovelha, acolhendo-o com sua lã e alimentando-o com seu leite. Já Ivan o Terrível nasceu nas terras áridas da Sibéria, local onde conheceu seus dois outros comparsas: o Ministro Davidovitch da Cultura e o Ministro Bezerra de Telecomunicações. O futuro Czar Vermelho também foi abandonado, mas criado por uma raça de lobos que o ensinou a vil arte de caçar e matar para sobreviver. Já os outros dois, a história preservou poucas evidencias de seus passados, mas conjectura-se que foram criados por chacais selvagens das planícies mongólicas.

Reza a lenda que o Húngaro, depois de crescido, foi versado nas artes de História e Política, mas que, por não conseguir emprego na sua cidade natal (os tempos eram difíceis naquela época), acabou virando um vagante pelo mundo. Não se sabe exatamente quando e nem porque os quatro se uniram, mas algumas especulações apontam para o gosto que todos possuem por cevada e futebol. Jovens com idéias libertárias, suas conversas eram sobre a desigualdade opressora existente no mundo. À oeste do globo estava o “Império Américo”, que adorava guerrear. Ao norte encontrava-se o “Império Romano”, famoso por sua imposição cultural. À leste, o “Império Chínico” se afirmava através da censura. Ao sul, diversas republiquetas guerreavam entre si em meio a corrupção e a libertinagem. Os quatro, muito provavelmente revoltados com esse cenário apocalíptico, decidiram unir forças e fundar uma cidade que acolhesse os utópicos de todo mundo. Caminharam por muito tempo, discutiram, trocaram idéias e, depois de se aproximarem de um vale fértil ao sul do Mar Negro, decidiram fundar Prosatantsky.

Os historiadores divergem no que tange o momento exato da fundação e a formação do aparato político-administrativo da cidade, mas a grande maioria concorda que as Ministras do Legislativo e das Relações Pessoais surgiram somente nessa época. Sabe-se que a idéia partiu de Ivan o Terrível, sem consulta aos demais ministros (que sequer as conheciam), mas que por acreditarem nas boas intenções de um ser humano, aceitaram a proposta sem pestanejar. Era apenas o primeiro dos atos de um plano maior...

O Dezoito Brumário de Ivan o Terrível:

A cidade cresceu ganhando ares de um país, recebendo visitas esparsas dos utópicos do globo. Desconfiados por viverem num mundo opressor, esses utópicos não foram logo de cara solicitar moradia em Prosatantsky, preferindo primeiro conhecer as bases em que o país se expandia. Governado por meio de um “septumvirato” (sim leitor, existem sete ministros, apesar de um deles ser uma entidade obscura que raramente exerce atividade), a região prosperou. Cada um dos ministros tinha plenos poderes para realizar reformas, desde que fosse respeitada a igualdade de situações entre eles. O Ministro Húngaro quis tentar algo novo, estabelecendo uma religião oficial para Prosatantsky. Os outros ministros, apesar de desconfiados, decidiram permanecer em silêncio até o momento oportuno.

Pouco se sabe dessa religião que o chefe da Casa Civil queria trazer ao país. As fontes apontam para um culto messiânico que pregava a recepção do “SalvadordaTerra” dentro do território dos escolhidos, no caso Prosatantsky.

É então que começa a obra máxima do Czar Vermelho. Descontente com a divisão do poder e com a possibilidade de instalação de algo novo no país (o novo sempre causa estranhamento), Ivan o Terrível decide agir para tomar o poder. Instaurando uma burocracia mesquinha, apoiada na falácia de um discurso democrático, o Czar baixa uma ordem aos demais ministros, exigindo votação para toda e qualquer idéia nova que venha atingir Prosatantsky. O Ministro Húngaro, atordoado com o movimento reacionário que enfrentava, foi contra a ordem, alegando inconstitucionalidade no quesito “igualdade de situações”. O que ele não sabia é que Ivan o Terrível já havia fechado sua cortina de ferro sobre o país. Ao tentar pedir o apelo do povo utópico, o Húngaro deparou-se com uma oposição ferrenha que conquistava aliados através de artimanhas femininas, derrubando os muros de proteção que ligavam ele aos Ministros das Telecomunicações e Cultura. Restava ainda recorrer as Ministras do Legislativo e das Relações Pessoais, mas Ivan o Terrível pensara em tudo. Já em seu primeiro ato despótico ele programara seu golpe de estado, trazendo soturnamente apoiadores de seu regime.

Como se não bastasse, bilhetes ameaçadores foram enviados ao Húngaro, proclamando a nova ordem de regência sobre Prosatantsky e dizendo para esse se retirar como um exilado. O fraco magiar, desesperado com o fim dos direitos de igualdade, faz uma última visita ao Ministro da Cultura antes de fugir ao exílio. Lá é aconselhado a procurar as terras quentes do México, pois nas palavras do Ministro Davidovitch “além de ter mulheres lindas como Frida Kalo, o local era remotamente distante para que o Czar pudesse pensar em retaliação”. Ainda antes de ir, o Ministro Húngaro perguntou o porquê da Cultura e das Telecomunicações não quererem o messias “SalvadordaTerra” em Prosatantsky. A resposta foi apenas um cálido silêncio. Rezando para que o Ministro Davidovitch não delatasse o exílio do Húngaro, este, em meio as horas do vôo até o México, só conseguia pensar em uma coisa: seriam os chacais primos dos lobos?

*** Esta é uma obra estritamente ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Aurélio e o Brasil: uma carapuça para todos

Ditadura: Forma de governo em que todos os poderes se enfeixam nas mãos dum individuo, grupo, partido ou classe. Tirania.

Tirano: Governante injusto, cruel ou opressor. Individuo impiedoso, ou que abusa de sua autoridade.

“Você sabe com quem está falando?”

Reconhece essa frase? Quem nunca a ouviu durante uma discussão? Não importa se foi numa conversa entre um policial e o filho do coronel, ou entre um motorista de ônibus e um estudante da USP irritado com uma parada fora do ponto, o que vale é que uma grande parcela da população brasileira sobe nos tamancos quando adquiri algo que está inacessível a outros. Pode ser o mais pobre estudante de Letras ou o mais rico estudante de Direito, ambos compartilham de uma sensação de prazer com o poder que conquistaram à custa da sociedade em geral. Ás vezes só é preciso olhar o próprio cotidiano para presenciar injustiças cometidas por indivíduos ou grupos que controlam alguma coisa. Basta permitir que uma pessoa coordene alguma coisa (como por exemplo, um blog) e já podemos ver manifestações de tirania surgindo. A idéia de que o comportamento é influenciado “de cima para baixo” deve começar a ser revisto; corrupção, opressão e abuso de autoridade estão presentes também nas classes médias e baixas despolitizadas do Brasil.

Outra forma de pactuar com a opressão é omitir-se frente às situações vividas. Durante o período militar uma boa parte da classe média preferiu isentar-se através do voto nulo, permitindo a manutenção do grupo tirano que se instalara no poder. O silêncio nada mais é do que o reflexo do “pactuísmo” e da fraqueza (da pessoa, grupo etc.).

Hoje costuma se falar de boca cheia em democracia, sem prestar um olhar critico as injustiças causadas pela vontade da maioria. Aléxis de Tocqueville já dizia em seu “Democracia na América” que a liberdade e igualdade tão proclamada pela república americana detinha problemas de desigualdade opressora. A voz da maioria suprimia (e suprime) o direito das minorias, estabelecendo moldes tirânicos de organização, com a alegação de que um maior número de pessoas podem se sobrepor à vontade de um número menor. Mas como lidar com isso? Talvez a resposta se encontre bem diante dos nossos olhos:

Declaração dos Direitos Humanos - Nações Unidas - 10/12/1948.

Artigo I.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Constituição Brasileira de 1988

Art. 5º.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...

Igualdade e fraternidade não devem estar presentes apenas nas leis, mas no comportamento humano em sociedade. Desde o foro privilegiado nos altos escalões, até a mera organização por estudantes, de um circulo de discussões, ambos devem se basear nesses dois conceitos e, se constatado a opressão, revistos de forma que a igualdade respeitosa seja restabelecida. O primeiro caso é um flagrante exemplo de privilégio desnecessário. Resta saber até quando iremos nos omitir frente a essas situações.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O incrível Post que morreu no primeiro parágrafo

To enrolando pra falar de música no blog, umas das minhas promessas lá do meu primeiro post. Aí hoje cedo tive a "sensacional" idéia de falar sobre musicais, porque já podia fazer uma ponte entre uma coisa e outra aqui. O problema é que eu detesto musicais. Só salvo "West Side History". Se eu não me engano em português ficou "Amor Sublime Amor". E também, na verdade nem gosto tanto.

Quarta MeiaEntrada - E a música?

Por Vinix


Depois de passar um bom tempo aqui falando só de cinema, precisava criar coragem pra lembrar que no meu primeiro post lá atrás, disse que iria falar de cinema e de música. Afinal, eu deveria mesmo me esforçar muito mais com a música, pois estou muito mais pra músico de que cineasta (muito mais mesmo, hehehe).



Vou partir do mesmo principio que eu tenho partido nas críticas que tenho feito sobre cinema; não falarei exclusivamente das novidades, mas sim do que estou ouvindo. No caso da música isso será ainda mais latente, porque eu dificilmente ouço rádio e não estou sempre a par do que há de novidades no mercado. Além do mais o mercado da música, que consegue a façanha de ser mais limitado que o de cinema. No cinema você ainda tem uma mostra perdida por aí, um ciclo de algum cineasta relevante por um preço até que acessível ou até de graça (vide uma que está acontecendo no Sesc Santana, que esse mês está trazendo alguma obras de Luchino Visconti, e no mês que vem terá Bergman), ou seja , se você der uma procurada acha. Com música o buraco é bem mais embaixo; Quase não existem opções gratuitas que privilegiem a arte em detrimento da arrecadação, e mesmo artistas que são considerados acima da média pela crítica fazem shows com preços que não chegam nem perto de valer o que o espectador vê. Experimentem pagar 80 reais (to chutando baixo) pra ir ver a Ana Carolina no Tom Brasil Nações Unidas e vocês vão ter uma leve compreensão o que eu estou falando. Experimentem então ir fazer isso não tendo carro, ou dinheiro para táxi, e vocês vão ter uma compreensão total do que eu estou falando.

Não adianta termos uma sala da qualidade da Sala São Paulo e ter umas das melhores orquestras do mundo em atividade residente, mas que só é acessível pra uma elite cada vez menos interessada e cada vez mais elite. E não me venham com esse papo de que música de qualidade não faz sucesso. Isso é mentira. Música de qualidade faz o sujeito pensar, aí, quando o cara pensa as coisas podem mudar, e se as coisas mudam quem tem o poder pode perder. Aí não é negócio. Muito mais seguro, manter uma linha de 3 gêneros na rádio (Rock, Pop, e Populares Nacionais - que na verdade são a mesma coisa), sem que ninguém saiba que existem outras coisas além disso, que a música é como forma de arte, uma forma de entendimento da alma e de seus anseios, que na verdade, o que toca na rádio não é música, é lavagem pra porco.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

As mulheres não sabem pedir

Há aquelas horas em que a moça está louca para discutir a relação, conversar seriamente sobre a política internaconal, ou mesmo sobre as fofocas da "Caras" (cada qual, com seu perfil, sempre que conversar muuuuito sobre alguma coisa). O moço, ocupado com a Tv, computador, livro, video-game ou jornal, diz desatento "uhum, isso mesmo, amor..." A moça fica bem brava, sem mais nem porque. Emburra e ao ser indagada diz secamente "não, não foi nada. humpf". O moço, como todo bom moço, entende que não foi nada mesmo e se volta pra sua Tv, pro seu computador, pro seu livro, pro seu video-game, pro seu jornal (cada qual, com seu perfil, sempre se volta praquilo que estava fazendo).

Há também aquelas conversas, quando ao telefone a moça. como toda boa moça, fala de assuntos que de nada interessam ao moço. Como exemplo, fala ela taaantas vezes daquele filme super-alternativo do cinema preto-e-branco, mudo, realizado por um Sérvio nascido na Bulgária, filho de Austríacos, que só tinha um olho, que era verde... Na hora de ir no cinema o moço, como todo bom moço, pergunta "que filme você quer ver?" e a moça, como toda boa moça, responde "ah, decide você, pode escolher". O moço, como todo bom moço, decide assistir "Duro de Matar 4", e a moça, como toda boa moça, passa o filme suspirando, revirando os olhos. Quando indagada, "não, não foi nada. humpf".

Mulher não sabe pedir. É fato que para nós é humanamente impossível dizer "Ah, será que a gente não podia assistir outro filme?" ou "será que você poderia prestar um pouco de atenção em mim?". A gente na verdade pede, mas não na mesma linguagem que os homens escutam e entendem. Não, não foi nada. Sim, foi, só temos orgulho demais pra falar abertamente que nos chateamos com algo e que queríamos ou esperávamos algo diferente.

Não sei bem o porquê disso. Acho que pensamos que se a gente pede, fala o que quer, o moço faz só pra agradar, não porque ele também quer. E se ele faz sem querer, não é genuíno, e portanto não tem valor. Esse sistema de atribuir "valor" pra tudo quanto é ato e fato e fala fode qualquer relação.

Eu mesma não consegui me desvencilhar do sistema de pesos e valores das relações amorosas. Se o cara propõe "vamos assistir o filme X que você falou tanto no outro dia?" ganha 10 pontos. Se fala "ah, você escolhe, fala de tantos filmes", ganha 5 pontos, porque não estava prestando atenção ao que eu falava... E se escolhe sem nem considerar o meu gosto cinematográfico, é -5. Não, não, é -100. Porque meu gosto cinematográfico tem um peso enoooorme. Parece até que é algo muito horrível ele escolher um filme sem pensar em mim! Afinal, eu tinha escolhido um sem pensar no gosto dele mesmo...

Mas no fundo, nós moças, damos muito significado (e acima de tudo PESO), pra qualquer coisa que possa demonstrar atenção ou desatenção, cuidado ou descaso. O que tem de tão ruim em dizer "ah, eu preferiria assim" ou então, "gosto tanto quando você faz aquilo"? Por que é que isso tem que tirar todo o mérito do ato, só porque o moço não adivinhou o que a moça quer?

Então lanço hoje aqui no Tantaprosa uma campanha pela honestidade nas relações. Que os homens prestem mais atenção nas mulheres, e que as mulheres não esperem que os homens advinhem o que elas sonham e possam pedir o que querem sem sentir que o ato perde todo o valor. Afinal, não é só porque a moça pede que eles fazem algo. Pedir não invalida nada, só facilita a relação.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Segunda-Avon - Na Gaveta

Parafraseando o locutor Cléber Machado, o caderno Mais! da Folha de S.Paulo teve um momento de muita felicidade em sua edição de 12 de agosto deste ano. Explorando a repercussão do “caso Rycharlison”, desde o título, passando pela foto da capa até as entrevistas com pesquisadores sobre o assunto, pudemos ver como o futebol pode servir tanto de objeto de pesquisa acadêmica séria como uma janela para a nossa sociedade. O título do caderno, “O Sexo da Bola”, nos remete à discussão sobre o “sexo dos anjos”, ou seja, até que ponto o futebol tem um sexo e uma orientação sexual definidas. As recentes “ameaças” a esse esporte pra macho (quem nunca ouviu essa frase?), encarnadas na possibilidade de um jogador assumir sua homossexualidade, no show de bola que o futebol feminino deu nos jogos pan-americanos e na ascensão e queda da auxiliar Ana Paula Oliveira, inserem-se num quadro de mudanças sociais mais amplas: o das conquistas de direitos do movimento GLBT e das mulheres. A foto da capa do caderno, em que o jogador Rycharlison comemora o que só poder ser um gol, dado o regozijo com que o faz, fala diretamente sobre o caráter prazeroso da prática esportiva e, no caso do futebol, de seu momento de clímax: o gol. O conteúdo do caderno baseou-se em duas excelentes entrevistas. Com o psicanalista Tales Ab’Saber e o historiador medievalista e também estudioso do futebol Hilário Franco Jr. Comentando a declaração do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, de que "o futebol é jogo viril, varonil, não homossexual”, Tales Ab’Saber foi taxativo e na mosca: “a Justiça do macropoder e sua razão grotesca, que não condena homens brancos, ricos, católicos e homofóbicos, continua intocada e impune no Brasil .” Já Hilário Franco Jr. aponta para a possibilidade de análise do futebol sob diversos campos acadêmicos, como sociológico, antropológico, religioso, psicológico e lingüístico, mas que não possui muitos pesquisadores interessados nele. Como estou acabando meu curso de graduação em história e sou fã do futebol, vou considerá-lo com um sério candidato a um projeto de mestrado. Já pensou ser obrigado assistir a um Barcelona x Arsenal por conta de um trabalho acadêmico, em pleno Camp Nou? Ah, que chato.

domingo, 19 de agosto de 2007

papo de prova

hoje foi o dia da prova dos professores da PMSP, quem sabe não mandei bem e sou chamado daqui à dois anos ou um pouco antes quando me formo.
resolvi fazer alguns apontamentos cômicos que quase me impediram de fazer a prova, afinal queria iniciar esses escritos ali mesmo na sala 155 do colégio da rua votoruna na saúde...preferi a prova por aquele momento.
a moça que estava a minha direita uma senhora com o nome começado pela letra" i "(minha sala só tinha: ivan, ivonete, ivanete, ivana, ivanildo, igor, iara...), fez lembrar dos tempos das provas do enem.

e o professor do cursinho falava:
- senhores alunos e alunas, levem lápis e borracha extra...levem outra caneta etc etc...levem papel higiênico se der uma dor de barriga e no banheiro do colégio que vocês forem fazer a prova não tiver papel higiênico.

muito bem, a cara senhora da letra "i" um tanto impaciente e nervosa pela demora da monitora da sala com as entregas dos gabaritos resolveu apontar sua coleção de lápis.

eram 8.00h da manhã de um domingo frio, na verdade estava acordado a pouco tempo, não decifrava muito bem ainda os acontecimentos do dia, acabara de sair da cama e da carona do azul-calcinha de meu pai (chevette). quem me despertou em definitivo foi a senhora do lado direito, e os acontecimentos daquela sala...eu me divertia por dentro com as presepadas e me entristecia por dentro em saber da realidade.

assim sendo, estava a senhora “i” com seu material escolar completo: 4 lápis HB da faber castel com borracha na ponta, 3 canetas bic da cor preta, uma caneta bic da cor azul, duas borrachas, apontador e incrivelmente duas réguas...minha nossa, mas a prova era de português...pensei: "perdi minha vaga", em quesito material escolar a senhora "i" arrepiou aquela sala, inclusive me arrepiou mais ainda no quesito egoísmo ao não emprestar uma bic preta para moça com cara de inteligente que sentava na minha frente alegando algo do tipo "não testei...não testei...preciso ver se funcionam" e a moça educadamente e meio sem graça respondera "tudo bem quando você testar vê se pode me emprestar", o empréstimo não houve a moça da minha frente deve ter feito a prova à lápis...mas não é problema meu, não podia resolver o problema dela também.

meu foco era na senhora do material didático completo que sentava ao meu lado direito, olhava tanto pra ela que deve ter pensado que tinha ganho um admirador secreto, realmente eu admirava sua coleção de lápis e seu nervosismo...senhorinha atrapalhada, resolveu então me oferecer um chocolate suflair não aceitei agradeci e sorri. baixei minha cabeça e fiz que ia dormir um pouco. a prova não começava. a prova ainda não começava. o chocolate era devorado pela senhora. escutava o mastigar e o chocolate misturando-se com a saliva. num piscar de olhos um barulho fez-me levantar a cabeça, acredite caro leitor, a senhorita foco da nossa conversa que acabara de me oferecer um suflair havia deixado sua mesa inteira cair no chão...eu não sabia se ria se chorava ou se pedia uma folha de rascunho para escrever um conto ou uma crônica, esbocei um movimento para ajudá-la, mas não ajudei...afinal ela não ajudara a moça com cara de inteligente da minha frente, guardei rancor. a moça da minha frente sorria e não ajudava também. a sala se divertia em burburinhos. a senhora corava, tanto que coraram suas bochechas que resolvi ajudá-la. peguei um dos lápis que estava próximo a minha cadeira e disse: "cuidado", a senhora sorriu.
Uma das monitoras entra na sala e anuncia: "o diretor está tirando água da quadra, afinal as torneiras foram arrancadas durante a noite de ontem". "Água da quadra?" pensei. pensamos. alguém disse : “melhor que tirar água do joelho”. todos os presentes da letra "i" demos risada. se já não bastasse o frio que passávamos as 8 da matina naquela sala sem vidros, ainda não poderíamos beber água. Iniciei uma mesa redonda na sala antes da prova: “as torneiras deviam ser de ouro" a moça da minha frente riu e disse "você viu menino? de ontem pra hoje sumiram as torneiras...Imagina... as portas do banheiro será que também? E os vidros da sala?" pois é, precário...tudo precário. gostei da ironia da moça. pensei que fosse poeta, logo entendi porque achava a tal com cara de inteligente...é devia ser poeta. só sentando na primeira fila para não passar frio...fiz a prova por lá mesmo na segunda carteira da segunda fila perto da porta e de capuz e casaco me esquentei pra me concentrar e não pensar em escrever o conto dos acontecimentos pré-prova ali mesmo...
Passadas quase quatro horas dos acontecimentos iniciais, a moça com cara de inteligente já havia levantado fazia tempo...fui um dos últimos a sair, a senhora atrapalhada agora se atrapalhara com o gabarito “ai não vai dar tempo..ai não vai dar tempo” eu só consegui dizer “calma senhora”. e me mandei da sala com um sorriso para monitora após o desejo de boa sorte feito por ela.

não fiz poesia na questão dissertativa como havia combinado com o diego, não fiz arte na prova que valia meu emprego...algumas pessoas não gostam e não tentam entender a arte e a literatura...algumas, não todas. mas bem que podíamos pedir melhores condições nas escolas todos fazendo poemas e crônicas nas questões dissertativas dos concursos falando mal das escolas e das condições de ensino...no mínimo seria engraçado. professor sofre. aluno sofre. veja, se eu fosse aluno...ah se eu fosse aluno, pediria aos professores para termos aula no gabinete da prefeitura ou do governo do estado, lá deve ser quente...lá o banheiro deve ter porta, as torneiras devem existir...mas aí iam chamar todo mundo de baderneiro, iam dizer que ninguém queria estudar... iam falar que certos universitários ocupadores de reitoria deram o exemplo ruim a sociedade... sei não. enquanto isso vamos vendendo o lanche da tarde pra tomar um café com leite frio de manhã. enquanto isso vou terminando de escrever o conto pré- prova que valeu meu dia, pensando como seria bom ter um ensino público de qualidade com professores trabalhando em ambientes legais e alunos respeitando e estudando gratuitamente em escolas com infra-estrutura...vou ficar pensando na senhora do lado direito e na água da quadra, pois é devia ser uma torneira que existia na quadra esportiva...veja, quadra esportiva tem na escola. bola, tem. futebol tem. carteira não. janela não. torneira não. isso aqui ô ô é um pouquinho de brasil ai ááá.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Dica Cultural para o sábado: As batucadas iniciais

Fui na última festa...muito boa...ô, até demais, vai o convite:


Cia BAITACLÃ de Teatro apresenta a 30ª edição de sua Festa Popular!

BAITACLÃ- Danças e Ritmos Brasileiros
18 de AGOSTO - sábado

das 19h às 23h - após as 23h banquinho e violão

Entrada: R$ 5,00 - com direito à uma bebida ou um lanche OU
R$ 3,00 - tocador com instrumento

Faixa etária: Livre

Local: Galpão do Clã

Rua Professor Onofre Penteado Jr, 51
Planalto Paulista, São Paulo - SP
(11) 5583-3151

http://www.baitacla.blogger.com.br/
http://baitacla.mutiply.com/

Sexta Literária: Retrospectiva de um sarau...

Como prometido, (fora os atrasos e as desfeitas da semana por falta de tempo), encaixo meu texto nesta sexta cansada da semana corrida e dos alunos endiabrados. Veja, prometi contar como foi o sarau na Alceu Amoroso Lima do dia 10/08/07 ...Vou fazer uma breve narração e depois passo aos próximos tópicos.
Tudo começou (pelo menos pra mim por causa do trânsito), às 20.15h, Julita Lima e Carol Marossi (colaboradoras do blog às terças) inventaram bem uma recepção calorosa aos convidados: amendoins com vinho logo na entrada...Catropa e Aninha Rüsche, do lado de dentro, comandavam a festa de cima do palco. Perdi infelizmente a leitura do Montenegro, mas quem viu, disse que foi animal.
Um trio de músicos comandou a interpretação musical de poemas do Donny Correia, Fabio Aristimunho, Renan Nuernberg, Victor del Franco e Ivan Antunes (eu)... Todos poetas do coletivo vacAmarela que edita o jornal "O casulo".
Quanto aos músicos, um pitaco do del franco:
"Cara, você jamais vai conseguir realizar uma leitura tão sensual do sexa", foi assim que o del franco falou pra mim após a belíssima interpretação de meu poema "sexa feira" pela bela cantora do trio.
No meio da noite o palco tremeu com a presença de Vinix Leite (colaborador do blog às quartas), que faria djvan dobrar os joelhos se estivesse por lá e a professora Célia também...Na sequência Kadu Ayala Baleiro agitou a turma com suas composições "poesia eu não gosto não foi assim que ela me falou olhando pro chão".
No fim da noite houve um sarau aberto ao público.
Estavam prestigiando o lançamento do coletivo vacAmarela e do jornal "O casulo": rascunhos poéticos, casa da palavra, Frederico Barbosa (poeta/ diretor da casa das rosas), Maloqueiristas e muitos poetas contemporâneos.
A festa foi agitada depois na casa da Julita Lima, lemos poesias que estavam pelas paredes, mandamos umas pizzas pra barriga, carteamos e ouvimos um som do vinix e do kadu.
Ah, teve um jornalista preconceituoso zoado também, aliás a zoação da noite...mas isso fica pra uma próxima... a Benedito Calixto que se cuide com preconceito de jornalistas locais.
Próximo Sarau do VacAmarela: 14 de Setembro na Biblioteca Alceu Amoroso Lima em Pinheiros, nem vai perder...mando o convite por aqui em breve.
Sobre o Coletivo VACAMARELA

O Coletivo VACAMARELA formou-se a partir das experiências de um grupo de poetas jovens, que atuam desde 2005 em São Paulo sob o nome "Projeto Identidade", com intuito de provocar debates a respeito da literatura contemporânea. Embora nascido em âmbito acadêmico uspiano, a isso não se restringe, pois é exatamente fora da Universidade onde atuam.

Organizaram a FLAP! em 2005, 2006 e 2007, evento que se pauta na produção contemporânea de literatura (
http://flap2007.zip.net); assim como Literaturas, Fronteiras, Enfrentamentos em 2006, debate sobre as literaturas de fronteira e resistência; e o Supercoisa 00 (2006), em que se pretendeu reunir em tom de ironia para leituras e discussões uma pressuposta 'geração 2000'. Todos os eventos são gratuitos e abertos ao público em geral.
São responsáveis pela publicação O Casulo - Jornal de Poesia Contemporânea, que circula gratuitamente em centros culturais. O jornal foi premiado em 2006 pelo VAI, Prefeitura de São Paulo, e com o incentivo, as edições n° 6 e 7 serão de 30 mil exemplares, a serem distribuídos prioritariamente em bibliotecas e escolas públicas.
Os integrantes da VACAMARELA circulam entre a Casa das Rosas, Biblioteca Alceu Amoroso Lima e Pça. Roosevelt .

Sobre "O Casulo"
(Reportagem do Jornal O Estado de São Paulo - Caderno 2 - 06.08.07 - Por Livia Deodato)
Poemas contemporâneos impressos em jornal
O Casulo, idealizado por alunos da graduação e mestrado da USP, chega à 6.ª edição e lança concurso
Preciosos poemas contemporâneos estão guardados n'O Casulo, jornal de literatura elaborado por alunos da graduação e do mestrado dos cursos de letras, direito e jornalismo da Universidade de São Paulo (USP). Na próxima sexta-feira, às 20 horas, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima (R. Henrique Schaumann, 777, tel. 3082-5023), está marcado para ocorrer o lançamento do 6º número do jornal, que traz poemas de Angélica de Freitas, Marcelo Montenegro e Ronald Polito, além de uma entrevista com o músico maranhense Zeca Baleiro. As ilustrações são de Luli Penna e de Francisco dos Santos.
Graças ao apoio do projeto de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Secretaria da Cultura da Prefeitura de São Paulo, essa mais nova edição de O Casulo alcançou uma tiragem de 30 mil exemplares contra 2 mil do último número, publicado em março/abril. Eles serão distribuídos gratuitamente em 88 bibliotecas, 150 escolas de ensino médio, entre municipais e estaduais, e 23 Centros Educacionais Unificados (CEUs). "Com o apoio da Prefeitura, ainda iremos oferecer 20 oficinas de criação literária em setembro, com 2 horas de duração cada uma", adianta um dos editores do jornal, Eduardo Lacerda. As oficinas buscam servir de base para formação de multiplicadores e o foco estará voltado para autores contemporâneos, "para a literatura de quem está produzindo hoje", nas palavras de Lacerda, "que aproximam mais os jovens".
"Às vezes saio do cinema/E me ponho a andar/Cartografia pessoas/Apenas olhar/Ter a leve impressão/De que a cidade está grávida/De um outro lugar", diz Matinê, um dos sete poemas do paulista de São Caetano do Sul Marcelo Montenegro, que colore a mais recente edição de O Casulo. Ou ainda "Esse tempo não é teu./Nem nenhum./Capitula teu pacto unilateral./A tua combustão espontânea acelera./Esta é a fronteira entre dois desertos", do mineiro Ronald Polito, em Emblema.Com o fomento de R$ 15 mil recebido através do projeto VAI será possível publicar também a próxima edição d'O Casulo, prevista para o fim do ano. E ainda promover o 1º Concurso Saia do Casulo, destinado a alunos do ensino médio da capital. "Selecionaremos de 3 a 20 poemas para publicarmos n'O Casulo, além de premiarmos os vencedores com livros doados pelas editoras Azougue, Escrituras e Lucerna, que já nos concederam 150 obras até o momento", conta o editor e também poeta. Para mais informações, escreva para ocasulo@gmail.com ou ligue no (11) 6104-8873.A idéia da publicação é abrir caminhos para autores talentosos, a exemplo da advogada e poeta Ana Rüsche, que publica seus textos desde a 1ª edição d'O Casulo e recebeu, no ano passado, uma bolsa de criação literária por meio do Programa de Apoio à Cultura (PAC), da Secretaria de Estado da Cultura. Ela deve publicar seu romance Acordados até o fim deste ano.Em novembro, a associação de escritores Vaca Amarela, alguns dos quais responsáveis pela edição d'O Casulo, vai lançar uma antologia de poemas numa edição trilíngüe (espanhol, inglês e português).

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Política de cú é rola! - Uma sociedade para inglês ver

Hoje vamos centrar fogo em uma parte periférica da política: a organização social que impera atualmente. Vi durante toda semana uma espécie de homenagem ao jornalista Cláudio Abramo, que a TV Cultura preparou durante o “Jornal da Cultura”. Não vou falar dele especificamente, mas sim do contexto que permitiu que um homem como ele agraciasse nosso país. Cláudio Abramo estudou apenas o primeiro grau, não tendo feito sequer o ginásio, concluindo seus estudos (até o médio) somente quando adulto, através do sistema de “madureza” (supletivo E.J.A hoje em dia). Àquela época não tínhamos um curso superior de Jornalismo, e por coincidência tínhamos os melhores jornalistas (alguns até hoje na ativa). Naquela época construções eram levadas adiante muitas vezes por “mestres de obra” sem formação técnica em engenharia ou coisa do tipo. Naquela época se valorizava a capacidade das pessoas e não o papel que elas penduravam na parede. Hoje, vemos uma tendência a maior especialização dentro da sociedade, um movimento que segue as normas capitalistas de divisão do trabalho. O ser humano vai perdendo suas capacidades criativas e se fechando num miúdo universo que lhe garanta o sustento diário. Os limitados empresários brasileiros contratam baseados no diploma, sem considerar o intelecto, a capacidade criativa do sujeito. Resultado: patetas que fazem a reprodução e mais reprodução da mesmice de sempre. Até mesmo a TV Cultura que fez a homenagem exige a formação profissionalizante de hoje em dia. O jornalista Heródoto Barbeiro, formado em História, teve que se submeter a uma Casper Líbero da vida para assumir o cargo que tem hoje. A interação humana que regia a constituição de um mercado de trabalho competente foi substituída por entrevistas mesquinhas focadas na formação técnica de que um sujeito dispõe. A valorização das competências criativas do individuo foi substituída pelo enclausuramento intelectual, pela adequação profissional imposta pelo Capital, enfim, pela redução da liberdade. O sujeito deixa de ser avaliado pelas suas capacidades para ser taxonomizado pela sua formação. Claro que também não podemos cair no outro extremo realizado pelos nossos representantes do Planalto. Lá, nem a capacidade nem a formação são levadas em consideração, mas sim o parentesco, o poder de influência, os aliados, ou mesmo o dinheiro. Cargos são ocupados por mero jogo político, apenas para se aprovar uma CPMF aqui ou para prorrogar uma investigação ali, e assim vai caminhando o Brasil. A intenção não é ser saudosista, mas sim chamar atenção para um problema: descaracterização do que é ser humano, do ser que cria cultura, que inova, que é capaz de assimilar conhecimento quando lhe dão a oportunidade. Infelizmente nossas cotas de “Cláudios” tem diminuído.

E-mail divino!

Essa eu não podia deixar de postar. Não sou muito fã de ficar re-produzindo textos de outros na internet, mas com certeza esse vale a pena. Nada mais nada menos do que um e-mail, direto do além (paraíso ou inferno vocês decidam!), de Josef Stalin para seu “colega” Tarso Genro. Espero que vocês se divirtam da mesma maneira que eu me diverti. Ainda hoje (sabe-se lá que horas) eu posto meu humilde texto. Até lá, deleitem-se com esse ótimo exemplo da genialidade de Elio Gaspari

“Caro comissário da Justiça,

Acompanho sua carreira desde a época em que o companheiro era porta-voz do Partido Revolucionário Comunista. Não sei porque, mas tenho estima pelos esquerdistas brasileiros. A pedido do Paulo Francis, li algumas coisas do Marco Aurélio Garcia. Até gostei, mas se ele fizesse no Kremlin aqueles gestos que fez no Planalto, já estaria num campo de trabalho, daqueles que a imprensa difamadora chama de Gulag.

Primeiro quero esclarecer um ponto: já acertei minhas contas com seu amigo Lev Davidovitch. Encontramo-nos há tempos. Por mais que ele tenha esbravejado, reconheceu que um sujeito que deixa o namorado de uma secretária (Alain Delon, no filme) entrar na sua biblioteca com uma picareta de quebrar gelo sob a capa, não merece chegar a prefeito de Odessa, quanto mais a secretário-geral do Partido Comunista. O Trótski tornou-se grande amigo daquele vigarista do Malevitch, que emoldurou uma tela branca e disse que era pintura.

Vamos ao nosso assunto. Eu sei que os dois boxeadores cubanos que a sua polícia deportou queriam voltar a viver na pátria, com as famílias. A burguesia tenta desmoralizar o depoimento que eles deram no Brasil, enquanto estavam sob custódia policial. Autorizo-o a dizer que Josef Stálin crê na sinceridade da narrativa divulgada.

Mas, comissário Genro, para que eu possa fazer isso com leveza de alma, preciso que o senhor me mande um sinal de que aceita pelo menos um vestígio de autenticidade nos casos em que me envolvi, os tais processos de Moscou. Levei a julgamento uns 50 agentes do capitalismo.

Todos confessaram seus crimes. Admito que no caso do Bukharin a Polícia Federal exagerou. Aquela confissão destinava-se a preservar a vida de sua família e o futuro de seu filho de um ano. Outro dia vi a viúva dele, a Ana Larina. Ela foge de mim. Os outros eram uns covardes, ordinários. Não acredito inteiramente nas confissões deles, pois nunca acreditei inteiramente em qualquer coisa que dissessem. Por que ninguém menciona que o correspondente do "New York Times" e o embaixador americano defenderam a lisura dos processos? O repórter ganhou até o Prêmio Pulitzer, mas não vou mentir para o senhor: ele gostava de mordomias. Botam na minha conta até o fuzilamento do Isaac Babel, aquele judeu que escreveu "A Cavalaria Vermelha", literatura de segunda. Veja só: ele namorava a mulher do chefe do meu serviço secreto, que era um bêbado, anão e pederasta. O sujeito se mete numa roubada dessas e a culpa é do Stálin?

Comissário, não preciso de simpatia pública e seria um desvio subjetivista esperá-la de um quadro cujas raízes estiveram nas ilusões pequeno-burguesas do radicalismo esquerdista. Entendo que o senhor seja meu inimigo, mas aceite a minha solidariedade. Somos irmãos em Cristo (é isso mesmo, converti-me) e na incompreensão. Não há o que eu possa fazer para comprovar um escasso vestígio de veracidade nos depoimentos colhidos pelo meu aparelho de segurança. Lembre-se de que as confissões daquela canalha traidora foram públicas, filmadas. O senhor se esqueceu de chamar a imprensa e de fazer um vídeo dos boxeadores.
Pena, fica para a próxima.

Quando o camarada achar que lhe faltam aliados, saiba: Stálin está do seu lado.

Saudações proletárias,

Josef Djugashvili"



quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Uma boa trilha pro texto...




Belo disco...
Vale pela primeira faixa, "Intruder". Se eu soubesse como colocar o link direto pra música eu colocava. Mas acho que vcs vão ter que dar um procurada. Vale a pena

Quarta MeiaEntrada - A Arte e o Terror

Eis o meu genero favorito de filme. Não pelo sangue(jamais), não pela violência, nem pelas adolescentes de pouca roupa que tem sido praxe nos mais recentes filmes de terror , o que me fascina é o gosto pelo medo. Como todas as sensações que o Cinema e o Teatro provocam, são falsas as angústias, a claustrofobia, o desespero, (mesmo porque não são muitos o que realmente se desesperam durante um filme), mas existe algum outro animal que tenha necessidade de(ou prazer em) sentir medo? O que nos faz curiosos com relação a maldade, ao perigo, ao nosso próprio fim, ao assistir o fim de nossos semelhantes(o fim, não necessariamente a morte em si, mas a possibilidade de acabarmos)?
E frente a que, tememos? Eu digo que é o desconhecido, antes de qualquer definição maniqueísta que costuma ser desenhada num filme de terror, temos a princípio o desconhecido, este de todas a formas possíveis. Veja por exemplo "O bebe de Rosemary": A nossa protagonista é tratada pelos seus vizinhos da melhor forma possível, com sobremesas feitas pela velhinha um pouco enxerida do andar de cima(e quem é perfeito?), com vitaminas, eles ainda lhe indicam, por um preço camarada um dos melhores médicos da cidade para orientar a sua gravidez, mas cismam em cantar músicas estranhas a noite e ter pacto com o demônio... e daí, dona Rosemary? Só porque você não fala com o demônio os seus simpáticos vizinhos não podem falar?
E nós seguimos o mesmo raciocínio da protagonista, temos os mesmo medos a passamos pela mesma paranóia, porque não aceitamos o desconhecido, apenas o repelimos como uma coisa ruim, que nos fará mal.
Essa é a função do terror enquanto genero? Nos deixar sempre alerta sobre o que pode aparecer de novo diferente e de todo o mal que ele pode nos trazer? Isso, ao seu modo, não nos fazer pensar tanto quanto num drama existencialista?
Vocês perceberam que a maioria dos "mitos" elencados em filmes de terror são de origem Católica/Cristã? Pra mim, hoje em dia o cinema de terror oriental faz o sucesso que faz justamente porque trouxe uma visão um pouco diferente da visão de Mal dos filmes de terror ocidentais. Neles o Mal não está em luta com o Bem, ele apenas existe como consequência.

Por fim, Os monstros vem do espaço? Do inferno? Do mundo dos mortos?
Os monstros somos nós.

Olha a Responsa

E pensar que depois de um texto dessa qualidade aí embaixo eu vou falar sobre filmes de terror... o gênero mais duvidoso que existe... mas ó: Hoje só amanhã! Então, pra ninguém falar que eu não deixei nada pra vcs durante o dia(porque eu só vou postar a noite) mando a minha arrogante lista dos melhores filmes de terror que eu já vi. Divirtam-se, Não acho que tenha muita novidade não, mesmo porque o gênero está em franca decadência, e é disso que eu vou falar mais tarde:


O Bebe de Rosemary(Roman Polanski)
O Enigma do Outro Mundo(John Carpenter)
O Iluminado(Stanley Kubrick)
Alien - O Oitavo Passageiro(Ridley Scott)
Hellraiser (Clive Barker)
Dracula (Werner Herzog)
O Chamado (Gore Verbinski)
Poltergeist(Tobe Hopper)
A Hora da Zona Morta (David Cronemberg)
Pássaros(Alfred Hitchcock)
Rosas de Sangue(Roger Vadim)
Trocas Macabras(Fraser Clarke Heston)
Coração Satânico(Alan Parker)

Eu dou uma paçoca pra quem já assistiu "Rosas de Sangue"! rsrsrs...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Crônica do impossível.

Poderia ter sido no Copacabana Palace, na década de setenta, mas aconteceu distante das grandes metrópoles, num lugar com nome inspirado em um dos tigres asiáticos.
Fazia calor e ela estava sonolenta. A festa era linda. Ela estava linda, mas flanava solenemente feito um fantasma, com o coração nas mãos: - quer ver?
Ninguém notou, mas ela carregava uma vida inteira e uns quatorze meses de espera, pelo menos. O espumante fazia cócegas no nariz e experiências não tão antigas assim ocupavam um lugar à mesa. Dispensou a entrada.
Pessoas falavam excessivamente sobre passaportes, viagens, livros e manuais: se entreolhavam, mas eram incapazes de se enxergarem genuinamente. Havia muros em toda parte, altos e intransponíveis. Cercas de arame farpado delimitando territórios tão invisíveis quanto factíveis.
Dostoiévski estava sentado na mesa ao lado, apostando a vida no pano verde. Na mesa ao norte era possível avistar Balzac coçando sua barba. Ao sul, crianças sorriam e brincavam alheias às manifestações de hipocrisia: um dia seremos super heróis, pensavam. No oeste o sol não se poria como de costume e ao leste havia um universo de questões ansiosas por respostas.
Ela dançava como nunca. Flashes vinham de toda parte, mas ela se sentia em outra dimensão. Ele ao lado, tentando assimilar os últimos meses, checando o nó da gravata o tempo todo. Os olhos míopes não viam nada além das lentes cravadas na armação Benetton. A camisa de alfaiate asfixiando o peito; a vida inteira nas mãos: o que fazer? Perguntas, perguntas. Ele estava completamente alheio, talvez porque esquecera a memória junto com o celular novo em algum lugar do Leste europeu. Ela era querida, mas de que adiantava isto numa noite daquelas?
A lua baixa, as lembranças tirando-a pra dançar. Você é linda, nós a amamos, por que se permite sentir tanta dor? O sorriso mecânico e as palavras doces de sempre. Tinha interesse acadêmico por pessoas, o que mais poderia fazer? Dizer-lhes o quão superficiais eram? Vender-lhes auto-suficiência, erudição, os percalços que tivera na vida? Não. Sabia o que era e o que sentia. Aquelas pessoas nada podiam fazer por ela. Ela não queria vender nada para ninguém e tampouco isso era-lhe necessário.
Ele, contudo, tinha algo escondido em algum lugar e sequer sabia disso. Ela sim. Era um rapaz inseguro em busca de si: em que trilha mesmo me perdi? Em qual país irei finalmente me reencontrar? Acho que deixei minha dor sob a cama do último hotel. A Europa me espera. A loira eslovaca também.
Ela o via caminhando sobre pontes invisíveis. Sabia de antemão que ele iria cair cedo ou tarde. Sabia até que já estava quase em queda-livre, mas que jamais gritaria por socorro: era míope demais.
Ela o salvaria de bom grado. Acolheria em sua casa se batesse à porta. Diria o nome do Adorno que ele tanto queria saber, diria que Rilke e Machado lutaram consigo mesmos e por isso eram tão geniais. Leria Schumpeter só pra desconstruir a vida esquizofrênica que ele levava. Diria que cassetetes em Berlim não significam mais nada e que a França não é tão fantástica assim. Diria que as teorias de Marx revolucionaram o mundo, mas que ele era um fracassado na vida pessoal, maltratava a mulher e negligenciava os filhos. Releria Harvey pra dizer que a pós-modernidade não é tão pós-moderna assim e que o mundo se repete aqui e lá: as pessoas sempre se perdem nos caminhos que traçam pra elas. Diria que erudição é uma ferramenta muito útil quando se deixa os livros na estante e se atira no mundo pra ter suas próprias concepções. E também que B.B. King e Eric Clapton sempre serão a trilha sonora perfeita quando se viaja de carro por aí.
Mas ele era surdo, além de míope. Via nela uma mulher sem graça e sem mistério algum. E ele adorava mistério, sempre flertava com o impossível, com aquilo que jamais poderia ser. Afagava diariamente um passado incolor que lhe comprimia os pulmões. Sequer sabia quem era e onde deveria iniciar a busca. Romper com as tradições? Decepcionar os pais? Mudar de profissão? Publicar um romance?
Ela dançava. Dançou até os pés doerem. Queria contar-lhe aquilo tudo que ele jamais suspeitara, afinal ele não a conhecia nem um pouco apesar de supor que sim. Porém a lua estava baixa e ela sonolenta.
Por fim, desistiu de dizer o que realmente era e o porquê de estar tão bonita. Isso deixou de ser importante para ela, afinal sabia o que queria daquela noite: ele definitivamente não era o bastante pra ela, não naquele dia. Talvez dali outros quatorze meses.
Ele não tinha ouvidos. Ela não tinha mais vontade, não disponibilizava nada para ser sugado e o umbigo dele sempre falava alto demais. Ela desistiu. Deitou aos pés dele, dormiu tranqüila sobre as pernas cobertas pelo terno bem cortado. Acariciou-lhe as mãos, feliz por entender o que era e por saber o que queria dele. Ele jamais entenderia e ela sabia que, naquela noite de lua baixa, não poderia querer nada mais. Era só um menino assustado e ansioso por encontrar seu lugar no mundo. Ela era uma mulher cheia de angústias que tinha feito as pazes consigo mesma já há um tempo. Ele nada podia fazer para mudar isso.
O amava como nunca, mas compreendeu que ele precisava se encontrar e desembaçar certas lentes. Palavras já não seriam necessárias. A lua estava baixa e ela sonolenta. Dormiu quieta. Boa noite, meu bem, nos vemos amanhã.
*** "Just in time", NINA SIMONE.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Brasileiros, uma revista crítico-otimista

Exceto pela antiga Realidade, alguém seria capaz de dizer uma revista brasileira que se aproxime da New Yorker ou da Esquire, famosas por terem emplacado o Novo Jornalismo, que coloca a reportagem como gênero literário? Pois é, a revista Brasileiros vem inspirada na escola que rendeu algumas reportagens clássicas do gênero, como Hiroshima, de John Hersey, A Sangue Frio, de Truman Capote, ambas publicados inicialmente na New Yorker, ou o perfil de Frank Sinatra de 55 páginas escrito por Gay Talese para a Esquire.
Capitaneada por Hélio de Campos Mello, Nirlando Beirão e Ricado Kotscho, a revista vem com 132 páginas, lomabada quadrada, periodicidade mensal e custo de capa de R$ 8,90. A iniciativa é um alento para quem anda cansado das pautas ditadas por Brasília, ou para quem sente a ausência desse gênero tão maltratado pela imprensa brasileira, a grande reportagem. Nesta edição número 1 (a número zero teve circulação restrita), os pontos baixos são as seções de lançamentos de cds e cobertura política, que já são cobertas de modo razoável por blogs e pela grande imprensa. O perfil de Gay Talese feito por Jorge Pontual dá uma escorregada na brincadeira óbvia com o nome do autor – Quero aprender a ser Gay, mas traz histórias interessantes sobre o perfilado. A reportagem de capa – sobre preconceito – é pertinente, mas tem o defeito de apenas reproduzir uma pesquisa, quando talvez fosse mais interessante o olhar de algum repórter sobre o tema. Creio que ganharia em sabor, pois tudo o que a pesquisa demonstra é mais do que conhecido e vivido por grande parte das pessoas deste país. Os pontos altos fogem das pautas tradicionais. São as reportagens – por sinal, ótimas - principalmente, nesta edição, as que narram a viagem de alguns antropólogos ao Mali e a de Ricardo Kotscho ao “Texas” brasileiro, região do semi-árido que conta com petróleo. A revista aponta para o que eu chamaria de um otimismo crítico, pois, apesar de denunciar algumas de nossas mazelas históricas – como o preconceito –, ela aponta para uma certa “evolução” no que diz respeito ao modo como lidamos com elas, como no fato de reconhecermos que somos preconceituosos, sim. A questão de classe é pouco enfatizada e a violência urbana aparece de modo marginal. Considerando essas características, sobressai uma vontade de diminuição das injustiças sociais, desde, porém, que ocorra dentro de uma determinada ordem. Dessa forma, a revista Brasileiros ocupa um espaço entre os blogs / mídias gratuitas em geral - que não têm dinheiro para bancar essas grandes reportagens - e a grande imprensa – excessivamente presa à cobertura do poder. Só tenho dúvidas em relação à viabilidade financeira da revista, pois há poucos anunciantes nela. De qualquer forma, tomara que perdure.

sábado, 11 de agosto de 2007

Falta de Educação

Ao contrário dos meus colegas, estou estreando somente hoje nesse nobre espaço. Peço desculpas pela ausência no sábado anterior, mas tamo aí e vamo que vamo....

Para mim ficou incumbida a tarefa de escrever sobre a nossa famigerada educação. Não pretendo aqui falar sobre as mais novas teorias da educação e afins (mesmo porque eu não sei). A intenção é compartilhar as experiências adquiridas minhas e do Ivantunes dentro de sala de aula, pra quem não sabe ou não nos conhece trabalhamos no programa São Paulo é uma Escola em uma escola municipal, eu com oficinas de xadrez e ele com literatura. Não sei se vou conseguir manter o mesmo nível dos meus companheiros de blog já que é a primeira vez que me lanço em tal empreitada, mas farei o possível para escrever um texto ao menos inteligível.

Um abraço.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sexta Literária com lançamento

Lançamento do número 6 do Jornal O Casulo
e
Sarau vacamarela
dia 10/08
19h30
(Sexta-Feira)
Programação:
19h30 - abertura com o poeta Marcelo Montenegro
20h00 - sarau vacamarela (Celso Borges e Carol Martins lêem poemas do grupo vacamarela com intervenções do músico Rafael Agra)
20h30 - dois pocket-shows com os músicos Kadu Ayala, e depois, Vinix Leite.
21h15 - sarau aberto ao público.
Para participar, inscreva-se na entrada do auditório.
Biblioteca Alceu Amoroso Lima
R. Henrique Schaumann, 777 (esq. com Cardeal Arcoverde)
Por enquanto é só pessoal, a noite (pós-sarau )posto algumas impressões e explicações espero que seja uma festa muito bela, nos vemos em breve...
hoje to parecendo o zequinha barbosa...
Ah...Tudo Free...Vinhos e amendoim por conta da casa, compareça!
"animação garantida ou sua trelevisão de volta" (maloqueiristas)

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Repúdio a Direita Golpista

Esta semana vimos uma manifestação organizada através do site Orkut, de deboche e desrespeito ao presidente, formada principalmente por indivíduos que se diziam “de direita” e que gritavam “Fora Lula” através de bairros nobres da capital paulista. Antes de mais nada, não vou ser o defensor de um governo corrupto e cínico como o atual, mas também não posso deixar de notar um aproveitamento de setores mais conservadores da sociedade em tachar de “esquerda” uma linha política que aumenta lucros de banqueiros e reduz investimentos na educação básica. A “direita” diz defender um Estado mínimo, recusa a existência de ensino superior gratuito (para não dizer do médio) e prega a liberdade empresarial como forma de acabar com a desigualdade do país. Chama de incapaz o atual governo (e realmente é), mas aproveita para demonizar a esquerda dizendo que a política em voga é prova cabal do fracasso dos setores mais libertários em comandar o país. Ora, sabemos bem que um partido de esquerda que se preze jamais faria programas econômicos em favor dos mais abastados, não reduziria o investimento em educação e não seria “neutro” frente à desvalorização da profissão docente. Dito isso, vamos analisar se o Governo Lula é original em seu programa administrativo ou se apenas dá continuidade ao governo do PSDB/PFL (atual DEM). Primeiro de tudo, voltemos as propostas do “Consenso de Washington” à América Latina, no período que esta sofria com os altos índices inflacionários (fins da década de 70 e 80). Este “grupo” diagnostica que a crise recessiva dos anos 70 nos países periféricos é interna e deve-se ao esgotamento dos modelos de desenvolvimento apoiados na participação do Estado na economia (pela via da estatização de empresas e setores, investimentos dirigidos ou do protecionismo estatal). Propõe então a redução drástica das funções do Estado em prol do restabelecimento das funções de coordenação das relações econômicas e sociais pelo mercado (o tal do “Estado mínimo”). Essa receita consiste numa estratégia de ajuste em 3 etapas seqüenciais: 1) estabilização macro econômica - controle do processo inflacionário, estabilização monetária, regulação do câmbio, recuperação das finanças públicas por meio de privatizações e das reformas tributária e previdenciária. 2) reformas estruturais da economia direcionadas ao mercado internacional - privatização de empresas estatais, especialmente setores estratégicos como os de energia e telecomunicações, desregulamentação dos mercados, liberalização financeira e comercial. 3) retomada dos investimentos - com ênfase na atração de investimentos estrangeiros - e do crescimento econômico. As etapas 1 e 2 foram feitas, até certa medida, pelos governos Collor e FHC, ficando talvez a parte que diz respeito as reformas tributárias e previdenciárias (e adivinhe quem se disponibilizou a fazê-las?). A terceira etapa foi iniciada no segundo governo FHC e, bem, não preciso lembrá-los onde o tal P.A.C. se encaixa aqui. O corte do gasto social público, a focalização do gasto público nos grupos mais pobres (fome zero, bolsa família etc.), a descentralização dos serviços e do financiamento (municipalização, transferência de obrigações, cobrança sobre os Estados de manutenções de obras de âmbito federal), a privatização seletiva dos serviços sociais por mecanismos explícitos ou implícitos (deteriorização do serviço público, desprestigio, desfinanciamento), tudo faz parte das políticas do Governo Lula. Se existe uma política incapaz de resolver os problemas de desigualdade que assolam o país, essa política é a neoliberal. A esquerda não se identifica com o descaso, com a corrupção e com a má gestão que estamos vivendo. Fica anotado aqui o meu repúdio a essa “direita” maquiavélica, que briga por crises aeroportuárias enquanto o proletário se espreme nos coletivos, dizendo-se defensora de uma maior igualdade através do acumulo do capital em mãos de poucos, visando o progresso (das elites).


* Textos de referência:


ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir & GENTILI, Pablo (orgs.) Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, pp. 09-23.


DRAIBE, S. M. As políticas sociais e o neoliberalismo: reflexões suscitadas pelas experiências latino-americanas. Revista da USP n. 17, 1993, p. 86-100.


LAURELL, A. C. Avançando em direção ao passado: a política social do neoliberalismo. IN: Estado e políticas sociais no neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 1995, p. 151-178.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A Procura da Grana

Essa semana eu assisti “A procura da Felicidade”, um filme americano com uma pegada européia na parte técnica, mas que trata de um mesmo tema recorrente em muitos filmes de propaganda do modo vida americano (ou estadounidense, como preferirem), que é o sonho de crescer(financeiramente) na vida. O personagem vivido pelo Will Smith caberia possivelmente numa releitura do negro do Gilberto Freyre(olha o Elton e o Puskas me socando...). Quer dar uma vida boa para o filho e simplesmente ignora os outros que estão na mesma situação de pobreza, afinal ele acredita e os vencerá. Uma cena que deixou isso claro par mim é a cena em que ele briga com um cara que furou a fila e tomou o lugar dele no albergue onde ele dormia. Fora a situação que ele passa no estágio não remunerado da corretora de seguros que posteriormente vai contratá-lo, onde ninguém obviamente pode saber que ele é um sem-teto.

Ué?

Obviamente?

Quer dizer então, que se o dono da empresa soubesse da sua situação o mandaria embora, independente da sua qualidade profissional? É essa a forma de se alcançar a felicidade? Um filme com esses questionamentos em primeiro plano colocaria o expectador pra pensar, e não se anestesiar com a falsa impressão de que se vence na vida. Isso sim, não é entretenimento, é Lexotan pra classe média.

Título Original: The Pursuit of Happyness
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 117 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2006
Site Oficial: www.aprocuradafelicidade.com.br
Estúdio: Columbia Pictures Corporation / Relativity Media / Escape Artists / Overbrook Entertainment
Distribuição: Sony Pictures Entertainment / Columbia Pictures
Direção: Gabriele Muccino
Roteiro: Steve Conrad
Produção: Todd Black, Jason Blumenthal, James Lassiter, Will Smith, Steve Tisch e Teddy Zee
Música: Andrea Guerra
Fotografia: Phedon Papamichael
Desenho de Produção: J. Michael Riva
Figurino: Sharen Davis
Edição: Hughes Winborne


seta3.gif (99 bytes) Elenco
Will Smith (Chris Gardner)
Jaden Smith (Christopher)
Thandie Newton (Linda)

Me desculpem

Estou meio estressado hoje. Tem gente não admite que você discorde dela e se acha ofendida por qualquer colocação do tipo. Isso me irrita de forma singular, porque sempre costuma vir de quem a gente menos espera. Tem gente que não sabe o que é ofender e ser ofendido.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Os escafandristas

Danae, Gustav Klimt.




Não se afobe, não

Que nada é pra já

O amor não tem pressa

Ele pode esperar em silêncio

Num fundo de armário

Na posta-restante

Milênios, milênios

No ar



E quem sabe, então

O Rio será

Alguma cidade submersa

Os escafandristas virão

Explorar sua casa

Seu quarto, suas coisas

Sua alma, desvãos



Sábios em vão

Tentarão decifrar

O eco de antigas palavras

Fragmentos de cartas, poemas

Mentiras, retratos

Vestígios de estranha civilização



Não se afobe, não

Que nada é pra já

Amores serão sempre amáveis

Futuros amantes, quiçá

Se amarão sem saber

Com o amor que eu um dia

Deixei pra você


Futuros Amantes, Chico Buarque.
Pobres escafandristas! Mal sabem o que os espera. Paixões furiosas, nunca correspondidas, e um único amor, meio embolorado e cheio de tédio. O armário ainda cheira mal, mesmo depois de tantos mortos terem sido enterrados: ofício comum e enfadonho que exerceram durante quase toda a vida. Ser coveiro do amor alheio até que é tarefa fácil. Complicado é enterrar o "amor-seu", aquele que se fundiu às carnes, embriagado de noites mal (ou muito bem) dormidas, de vinho, de unhas, de suor, e beijos e cheiros e carinhos...E há também os amantes. Sempre há os amantes. Aqueles que rompem a noite invadindo a propriedade alheia com descaso, que arrancam suspiros à força, beijos tímidos e (depois) voluptuosos e muito desejados. Esses ficam entranhados na alma para sempre, nunca são sublimados, especialmente se as retinas se acostumaram a travar diálogos longos e incompreensíveis noites afora, alheios a qualquer (des)conhecimento. A ironia é que essa mesma linguagem de corpos aprisiona espíritos, tão grandiosamente disciplinados, sempre temerosos de um outro tipo de entrega, talvez. Desses amantes tem-se saudade. Infinita. Doída. Roxa. Angustiada. A grande tristeza, enfim, é que sempre afastam a metafísica, a deliciosa metafísica. Não dos corpos, mas das almas.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Greves

O viés condenatório das greves promovidas por trabalhadores tanto da iniciativa privada quanto do setor público já se tornou praxe. Privilegiam-se os efeitos e escamoteiam as causas. Anuncia-se a greve, em seguida vem a contabilização da quantidade de prejudicados e umas poucas linhas para as motivações que a deflagraram, às vezes simplesmente ignoram o outro lado (no caso, os grevistas). Noutras tentam diminuí-la, chamando-a de política, como se houvesse alguma greve que não o fosse. Os recentes casos dos controladores de vôo e metroviários servem bem de exemplo. No caso da greve dos metroviários ficamos com a sensação de as motivações terem sido de ordem eleitoreiras, pois haverá eleições internas e duas chapas estariam disputando o comando. Uma liderada pelo PT outra por PSTU e PSOL. Em que medida isso leva metroviários a entrar em greve, ninguém explicou. A recente ofensiva promovida pelo governo Lula sobre o direito a greve encontra árduos defensores na mídia brasileira.

Jornalismo ou Merchandising?

Na segunda-feira 16 de julho o jornal Lance! publicou a manchete “O Brasil é skavurzka”, referente à vitória da seleção masculina de vôlei sobre a Rússia. A palavra “Skavurzka” foi retirada do slogan proferido pelo coronel russo Tutchenko, personagem das campanhas publicitárias da NET. A agência Talent, que cuida da conta da empresa de TV a cabo, não tardou em criar um anúncio de oportunidade, o que nos faz pensar seriamente se não houve alguma “combinação” para a manchete ser publicada. Infos no site do Clube de Criação de São Paulo http://www.ccsp.com.br/ultimas/noticia.php?id=26249

domingo, 5 de agosto de 2007

o domingo: dia da feira

Senhoras e Senhores,

Já que domingo não é dia de feira, aqui no tantaprosa vai ser. Alguns podem me achar burocrata, outros ditador, outros podem apenas me achar sem graça. A verdade é que domingo "ninguém é de ninguém", não há uma pessoa responsável pelas postagens aqui no tantaprosa.blogspot.com, dessa forma todo mundo posta. Como assim?
Veio a idéia do vinix: "dia do conto", ou seja todo mundo pode jogar um conto no ar. Assim sendo fico por este domingo mandando duas crônicas da Ju Simon atualmente jornalista do ig (último segundo), que manda muito bem na arte de escrever crônicas e reportar fatos. Portanto não são contos, mas crônicas...A diferença de um pra outro é só pesquisar nos manuais. Apesar de trabalhar num meio fácil de ser engambelado pelas "forças ocultas" e fácil de engambelar a massa, nossa cara jornalista - terceiro ano de PUC - resolveu em crônicas e contos essa questão: ideologia da empresa x opinião própria. Boa leitura!

A liquidação do mundo
Por Juliana Simon


Um menininho orelhudo de olhos azuis, acompanhado de seu pai e de seus coleguinhas fardados e engravatados, entra em um grande mercado. Todos conduzem um gigante carrinho movido a óleo diesel, produzido por mãozinhas superexploradas e devidamente demitidas após a chegada de uma máquina que pode fazer esse trabalho sem pedir férias ou salário justo.
Chegando ao primeiro corredor, encontram uma prateleira quase vazia. Com algumas armas ultrapassadas, uns foguetes, algumas bandeiras vermelhas estampadas com foices e martelos. Outras, muito cheias, exibem soldados e bases militares prontas para uso. O pai não dá mais tanto valor a esses produtos, mas seu filho, com a ajuda de seus amigos, encontra tudo o que precisava para aquela receita bombástica. O menino coloca a prateleira inteira no carrinho, tudo embalado em um saco estampado G-8.
Uma gôndola ao lado exala forte cheiro de Napalm. Paira uma nuvem atômica sobre eletroeletrônicos e Pokemons. Escondidos atrás de imensos cofres cheios de privatizações, especulações e “bolhas econômicas”, está uma Revolução Cultural e o retrato de um senhor oriental olhando para o horizonte. Ao lado deles, estão tanques. E abaixo dos tanques, estudantes. Na Paz. O menino fica na pontinha dos pés tentando alcançar um produto mais novo. Frustrado, recua e resmunga “Quero Pyongyang já!”.
O pai, na tentativa de animar o filho, o leva pela mão a um corredor imenso. Apontando para a esquerda, mostra ao menino produtos tradicionalmente usados pela família. O garoto tenta insistentemente abrir três deles. Uma ilha, um barril de petróleo e depósitos de coca e gás natural. Não desiste e consegue tirar o lacre de pacotes de café e cocaína. Nos auto falantes, ouve-se uma música familiar. Mariachis tocam “A Bandeira Estrelada”.
“Esse já foi mais resistente”, pensa o pai. Munido de uma faquinha FMI, o garoto enche as mãos de Amazônia. Seus olhos brilham ao ver uma imensidão de mão de obra barata e recursos naturais. ALCA por álcool? Brinca, chacoalha e deixa de lado. Buenos Aires ou Brasília? Who cares?
À direita, muita areia, petróleo e sangue. São tantas as opções! De costas para os talebãs, com uma mão nos palácios do enforcado, outra nas crianças munidas de pedras, os pequenos sussurram “Teerã”. Colam etiquetas em quase tudo. “Terrorismo”, “Armas Nucleares”, “Ditadura”. Com cuidado, colocam no carrinho itens preciosos, nomeados Mossad e Likud.
Passam reto por um corredor extremamente quente e barulhento. Com alguns diamantes e petróleo, é verdade, mas nada que valha uma “cruzada” por enquanto. Como comprar em um lugar que Hollywood, McDonalds ou Microsoft não são moedas de troca? Já no caixa, tiram a ONU dos bolsos, mas decidem pagar com democracia. A funcionária olha e desconfia: “Desculpe senhor, é falsa”.
Mesmas lutas, outra militância
Por Juliana Simon



A tal revolução cansa. Em algum momento, inesperadamente, todos os gritos, passeatas, assembléias, discursos, panfletos e votações esgotam a paciência. Pouco a pouco, o mundo ultrapassa os portões da universidade e se percebe que americanos, capitalistas, reitoria e governo pouco se abalam com berros juvenis inflamados.
No princípio, uma decepção tremenda com esse mundo surdo aos protestos. Há sempre uma causa perdida a ser defendida. Como lutar contra um sistema que não se mexe quando contrariado por meia dúzia de gatos pingados? E o povo que sofre? Por que não se junta aos que lutam por eles? Neste ponto, vem a resposta dolorosa: “Porque ninguém tem fôlego para mobilização quando se trabalha o dia todo, passa fome e não conhece seus direitos”.
Depois disso, vem a negação, ou resistência, ou a mais pura e infantil teimosia. Atrás de milhares de livros (que o povo não leu), filmes (que o povo não viu) e debates (que o povo não ouviu) constrói-se uma fortaleza da utopia revolucionária. Protegido atrás do estereótipo, já incorporado, das chinelas de couro, barbas, saias indianas e muito Chico Buarque, o sonho (que o povo não tem) está seguro. E muito distante de virar realidade.
Com o primeiro emprego, tudo desanda de vez. A rebeldia se torna obediência ao chefe. Os ideais são substituídos por responsabilidades do dia-a-dia. O salário ocupa o lugar de todo ímpeto anti-capital e anti-consumo. Não há mais tempo para as intermináveis e pouco conclusivas reuniões.
Em algum minuto de nostalgia, chega a culpa por não conseguir levar a vida dupla de militante socialista e capitalista sujo. Pede perdão aos ex-companheiros, reza para Che, fecha o manifesto e promete algum dia voltar.
O tempo passa e as promessas são esquecidas em alguma gaveta, junto com as várias cartas de repúdio, programação de debates, adesivos “de luta”. Do lado de fora, as manifestações continuam ainda sem muito resultado. Parece que aqueles meios, usados antes por nossos pais e avôs, não quiseram evoluir. A revolução virou o partido de uma derrota eterna, desinteressado em realmente estourar, mendigando o próximo passo imperialista para poder sentir que ainda vive.
De certo modo, todo esse breve passado de “esquerda” ainda vive dentro da felicidade besta de ter dinheiro na conta e poder pagar as contas no final do mês. A velha vontade de mudar o que está aí retorna, sem culpa ou saudade, mas com a impressão de que há um mundo de novos rumos a serem tomados para alcançar os antigos ideais, com mais criatividade, pé no chão e menos arrogância. Não é guia de auto-ajuda ou lição de moral. É o cansaço da revolução regada à hipocrisia, intolerância e (quem poderia imaginar) reacionarismo.