Eis que estamos aqui para falar desse delicado assunto que envolve a santíssima Faculdade de Direito da USP (sempre bom lembrá-los do “USP” no final) e os conturbados acontecimentos que a marcaram no dia 21 de Agosto. Não vou falar em nome de nenhum movimento estudantil, mesmo porque diversas cartas de manifestação estão circulando por sites, revistas e jornais do país. Não vou falar diretamente sobre a conservadora elite (intelectual e econômica) que ainda vê São Francisco como santo e prega ser a única herdeira original de seu legado. Também não vou falar da sedenta milícia sustentada por essa elite, que invade os grandes pilares neoclássicos do conhecimento com bordões que machucam crianças, mães de família e todo tipo de hereges que não possuem as famosas carteirinhas laranja. Falarei sim da USP, que depois de muitos anos, chegou novamente a perturbar a ordem no grande largo. A grande Universidade de São Paulo recentemente passou por um processo de agitação que ganhou vulto por toda mídia, dividindo opiniões dentro da sociedade e inclusive dentro da própria instituição. A “Invasão da Reitoria” foi um levante coletivo, mas não posso deixar de citar algumas faculdades como forças centrais para que o processo fosse possível. Faculdade de Filosofia (FFLCH), Faculdade de Educação (FE), Faculdade de Saúde Pública (FSP) e a Escola de Comunicações e Artes (ECA), merecem destaque principalmente pelas ações que realizaram no feudo do Butantã. Não por acaso a Engenharia (POLI), Arquitetura (FAU), Psicologia (IP), Odontologia (FO) e algumas faculdades de exatas, fizeram um movimento contrário à ocupação. Desnecessário chamar a atenção de que grande parte delas não possui cursos noturnos, ou se os possui, implicam em mais anos para que os alunos se formem e em exigências custosas de materiais que deixam qualquer classe C, D e E impossibilitadas de ali estudar. A Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (FEA), apesar da longa tradição de reaça, acabou não tomando partido na situação. Será que é por que ela possui curso noturno? As reivindicações dos estudantes que invadiram a reitoria, dentre muitos pontos, resumiam-se a melhores condições de moradia e alimentação. Pergunto eu que tipo de estudante precisa dessas melhorias? Com certeza não é o estudante AA da Faculdade de Medicina, nem os sedentários alunos da FAU que possuem uma ridícula carga horária integral que poderia muito bem ser refeita em um único período. Quem sabe com um curso noturno ela também não consiga bons índices de aprovação entre alunos oriundos da rede pública? É sempre bom lembrá-los que, a Faculdade de Direito (que tem curso noturno) é uma das que mais recebem alunos provenientes de escolas públicas. Não tanto quanto a FFLCH, FE ou ECA mas, junto com a FEA, formam um número expressivo se comparado com as “faculdades reaças”. A luta por melhores condições sociais, ampliação de vagas, cotas etc. sempre fizeram parte do cotidiano da Faculdade de Filosofia, que muitas vezes apanhou sozinha nas lutas pela democratização do acesso à USP. São Francisco começa agora a enfrentar as conseqüências da entrada cada vez maior de estudantes pobres em seus salões. É importante observar como a sociedade que a freqüenta reage frente a esse movimento transformador. Ainda é cedo para falar se as elites franciscanas estão ganhando ou perdendo, mas que daí sai espetáculo, ah isso sai! Escolha seu lado e vamos à luta...
*Frase de João Grandino Rodas, diretor da Faculdade de Direito da USP.