quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Um País Chamado Futebol!

Chegamos a Dezembro, mês de férias em Prosatantsky. Como todo bom político, o Ministro aqui gosta de viajar, e nada melhor do que relatar no blog minha visão sobre os lugares maravilhosos que visito. Desta vez não fui para nenhum país do Atlas terrestre, preferindo conhecer um pouco das terras míticas que circundam o lar dos utópicos. Como tudo por aqui é novo e complicado de descrever em nosso vocabulário, farei uma comparação entre o país “Futebol” e o último lugar que visitei fora de Prosatantsky, o Brasil. A começar que em Futebol tudo funciona! Aqui temos uma espécie de organização coletiva inconsciente, onde as pessoas sabem exatamente como se estabelecer em seus territórios, não havendo invasão de terras, nem ocupação de propriedades. Aliás, isso ocorre porque cada família tem sua própria casa, aqui chamada de estádio. No Brasil já não, pois apesar de ter um território maior que a Europa Ocidental inteira, grandes extensões de terras estão concentradas nas mãos de algumas poucas famílias, deixando um bando de seres humanos a viver sem um lar. Outra coisa que me chamou atenção em Futebol são os problemas relacionados à segurança. Nada tão grave quanto o crime organizado do Brasil é claro, mas não posso negar que aqui não ocorra violência. É costume em Futebol que uma família convide outra para sua residência a fim de conversarem amistosamente, ocorrendo em muitos casos até uma confraternização mais íntima, representada pela troca de camisas entre os convidados. Porém, como as famílias são numerosas, de vez em quando ocorrem brigas e desavenças que extrapolam para alguns chutes e pontapés. O interessante é que o núcleo familiar, chamado de “time”, sempre desaprova e faz verdadeira campanha contra essas brigas. No Brasil já não! Quase sempre as brigas são resolvidas na justiça, dando causa ganha a quem possuir mais dinheiro. Agora o que mais me orgulhei de ver em Futebol foi a consciência política de seus cidadãos. Quase toda a população busca se informar a respeito de seu time, lendo jornais (assunto dos mais vendidos no país), consultando internet, assistindo noticiário, e pasmem, criticam vorazmente as noticias que recebem, comentando nas praças, coletivos, bares e em qualquer outro lugar que vão. Fiquei feliz em chegar num momento oportuno em Futebol, pois pude presenciar o povo em massa rumando ao diretório de uma das maiores famílias do país, a “Corinthians”. Invadiram a sede exigindo mais respeito com o nome que carregavam, cobraram mudanças e fizeram ameaças a seus dirigentes. O Brasil deveria urgentemente se espelhar em Futebol! Talvez assim resolvesse os problemas com seu Senado corrupto e sua população preguiçosa que só sabe reclamar sentada em frente à televisão.

15 comentários:

Tio Vinix disse...

ótimo texto...mas não me fala de futebol nnao vai...rsrsrs

Anônimo disse...

Concordo que a população deveria exigir mais respeito de seus representantes políticos, ao menos de maneira semelhante ao que conteceu nesse episódio do futebol
brasileiro. Entretanto, pergunto-lhe se "em futebol tudo funciona!" não seria uma romantização, um exagero, uma visão utópica de um futebol que também tem dirigentes
corruptos, escândalos, torcidas organizadas que se digladiam por coisa nenhuma, às vezes até a morte, como já aconteceu tantas vezes. Daí também pipocam os problemas relacionados a segurança e tudo o que envolve o futebol e deveria torná-lo algo respeitável, de meter orgulho. Por sua vez, deixando-se de lado a diferença de
complexidade que envolve um assunto e outro, o fato de a massa de torcedores se informar
sobre o assunto com muito mais interesse do que sobre política, formando inclusive "mesas redondas", não garante que as
opiniões sejam racionais, razoáveis, isentas. Parece-me que futebol ainda anda ao lado de política e religião no que diz
respeito às discussões e, por isso mesmo, não creio que sirva de exemplo. Mas qualquer coisa é melhor do que reclamar sentado em
frente à tv, não?

Anônimo disse...

Cuidado, os índios na época colonial também eram classificados como preguiçosos, penso que um pouco de estudo histórico / sociológico é bom, as palavras tem um poder muito maior que podemos imaginar.

Ministro Puskas disse...

A mensagem é simples: Se ao menos a população dirigisse a mesma atenção e o mesmo empenho para cobrar nossos politicos, a coisa talvez estivesse um pouco melhor.

O "futebol tudo funciona" é nesse sentido. Há participação, engajamento, leitura, discussão... mesmo que produza opiniões não racionais e razoaveis (isentas eu acredito não ser possivel em qualquer lugar e assunto). O fato é, o Futebol foi capaz de levar uma torcida a cobrar dos dirigentes (independente de corrutos ou nao) alguma coisa...
Qto aos indios chamados de preguiçosos, acredito que houve um anacronismo na frase. Os sentidos não foram usados da mesma forma, nem com os mesmos objetivos. No caso colonial, a inteção era degradar a condição indigena justificando assim seu massacre e/ou a pilhagem de seus territorios, rebaixando suas condições a algo menos que o humano (estou baseando-me em Varnhagen). No caso do meu texto a intenção é apontar a inércia e falta de combatitividade política da população. Ao contrário do discurso anterior, não rebaixo a condição da classe média, e sim chamo atenção para um problema que precisa ser resolvido... é mais no sentido de "levante da cadeira e cobre dos políticos corruptos!" ;)

Carol M. disse...

Dicordo: se no futebol tudo funcionasse, o meu time não estaria na segundona e essas acusações jamais existiriam. Não existiriam também caixa-dois, nem sonegação fiscal, nem lavagem de dinheiro, nem tráfico de influência, nem corrupção. Nada.
O resumo da ópera é bem simples: o 'pós-modernismo' é um conjunto complexo de fragmentos que reproduzem, em maior ou menos grau, o todo, ou seja, a 'pós-modernidade', o mundo 'moderno'.
Se os nossos tempos são de barbárie, nada mais natural do que isso se refletir no futebol, no açougue, na casa do vizinho e até na sua, caro Ministro.
Só concordo com você numa coisa: brasileiro só reclama. A gente deveria ir pra rua como os franceses e botar fogo numas coisas ao invés de ficar usando esse nariz de palhaço.

Ministro Puskas disse...

Pois então lugar nenhum no mundo funciona! Se existir um lugar que não tenha "caixa-dois, nem sonegação fiscal, nem lavagem de dinheiro, nem tráfico de influência, nem corrupção" me avise que é p/ lá que vou me mudar! Não existe perfeição no mundo, portanto o "tudo funciona" só pode estar atrelado à um significado e não à perfeição celeste de funcionamento divino. Se assim fosse, nada funcionaria, pois qualquer coisa no mundo não representa o mundo total (desculpa o jogo de palavras).

Qto ao 'pós modernismo', acabamos caindo numa posição ideológica. Não acredito que estamos num PÓS modernismo, logo não vejo q analisando uma fração da sociedade encontremos um todo. Podemos verificar um segmento e refletir a partir dele para ele proprio. Desculpa, mas sou formado em Historia, não em Sociologia. Não acredito em estatisticas nem na possibilidade de mostrar qualquer coisa tal como ela é. Me limito a analisar uma coisa, a partir de uma perspectiva que nem de perto significa um cosmo completo.

Anônimo disse...

Talvez estivesse melhor, talvez fizéssemos outros impeachments, como o do Collor (não que ele não merecesse, que não fosse um puta canalha, a questão é quem e pq se iniciou tudo; que não o foi sozinho).
A massa acaba se tornando uma outra entidade, geralmente burra e manipulável em certas situações.

De qualquer forma, eu também desejo que as pessoas se informem mais, seja sobre futebol, sobre os fundamentos de sua própria crença religiosa, sobre política para que tenham condições de tomar atitudes decentes e eficientes; só achei que você superestimou o futebol.

Quanto ao que a Carol disse, tem que haver uma maneira mais inteligente e eficiente de protestar e exigir respeito do que sair queimando e quebrando o pouco que foi feito em prol do povo com o muito dinheiro que é recolhido do povo.

Carol M. disse...

Divergências são salutares. Mas prefiro a linha sociológica da coisa toda que, por sinal, não tem nada de divina ou cosmológica.

Sobre o "Não existe perfeição no mundo, portanto o "tudo funciona" só pode estar atrelado à um significado e não à perfeição celeste de funcionamento divino. Se assim fosse, nada funcionaria, pois qualquer coisa no mundo não representa o mundo total (desculpa o jogo de palavras)", você tem toda a razão, nobre Ministro. Nada funciona em lugar nenhum. Estamos vivendo tempos de barbárie (depois podemos discutir bem esse conceito à luz da sociologia numa mesa de bar, hahaha). É simples assim.

Carol M. disse...

Ah, dona moça, concordo parcialmente e não estou pregando vandalismo não. O problema todo é que protestos em geral, sejam pacíficos ou não, parecem não ser eficazes. Mas também não acho que ficar sentado em casa é a solução.
O ministro tem razão, somos muito lenientes com as coisas todas.

Anônimo disse...

Disso eu também não discordei, Carol :)

Ministro Puskas disse...

Sim, sim, gosto quando acontecem discussões sadias por aqui. Realmente, divergencias são salutares. E não sou o único a dizer que este mundo não é pós moderno, aliás existe toda uma escola sociologica francesa que vai por essa linha, composta também por filosofos e historiadores. Até na USP tem filosofo que segue essa linha (Vladimir Safatle).
Dona Moça: Sim, eu superestimei o futebol, mas foi proposital para dar base as argumentações de um texto irônico e não academico como o do post. Espero que todos que leiam não achem que o futebol é perfeito ou coisa parecida...

Carol: "Nada funciona em lugar nenhum. Estamos vivendo tempos de barbárie". Tenho que discordar de vc novamente (rs). Não existe o modo perfeito de funcionamento e acho meio impossivel que algo venha a funcionar caso continuemos seguindo sua linha de raciocinio. Acho que devemos sempre buscar a perfeição, a utopia, aquilo que nos motive a melhorar o momento que estamos vivendo (pq melhorar além dele é impossivel), mas essa busca é implacavel e incessante.
Ah! E também não diria bárbarie, mas sim um momento de crise, de saturação do movimento moderno... acredito estarmos no fim dele e não após rs

Elton disse...

Tb vi o texto do Leandro como ironia. Até mesmo pq não dá pra fazer metáfora, sem uma dose de generalização. Agora, quanto aos pós-modernos, acho que saem do nada e vão a lugar nenhum. Só falam o óbvio quando metem o pau nas "estruturas de linguagem e pensamento viciadas" e não propõem nada no lugar.
E a Carol tá certa: Às ruas! À ruas!

Ministro Puskas disse...

Como saem do nada e vão a lugar nenhum? E o Francis Fukuyama que acaba com o tempo e diz que a felicidade é viver sob dominio dos EUA numa sociedade de espetaculos? É o exemplo do que a sociologia pode propor ao mundo rs
Aliás pós-modernismo é bem isso. Reclame, mas não aja! Manifeste-se, mas não destrua a propriedade! Afe, realmente crer que estamos num pós-modernismo é aceitar que essas idéias vigoram com tal força que nada mais será capaz de mudar... afinal acabou-se a História, bastems-nos em nós mesmos... êêêê individualismo viu...

Tio Vinix disse...

esse negócio de "via pacífica contra os donos do poder" ainda vai me fazer escrever um post, bem pessoal. Acredito tamto nisso qto em papai Noel.

Julia disse...

Concordo com tudo que minha linda marocas disse, e reitero. Só reclamamos como um bando de rabugentos sem nem tirar a bunda do sofá...

Mesmo não concordando totalmente, achei teu texto muito bom, Ministro! \°/ /°\