quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Quarta MeiaEntrada – Vilões e Heróis



Aproveitando o mote sobre anti-heróis que lancei solitariamente na semana passada, resolvi fazer uma varredura mental sobre heróis e vilões que eu não esqueci. A primeira impressão que eu tive disso (e creio que essa é uma impressão coletiva) foi que heróis substancialmente heróis, cristãos, absolutamente corretos e dogmáticos são facilmente esquecidos, a não ser que façam ponte para um antagonista que seja memorável. Quem chama mais atenção em “Matrix”, o escolhido Neo ou o obsessivo Agente Smith? Por muitas vezes durante toda a trilogia, o vilão era muito mais humano do que o pobre e insosso mocinho e essa era a sua graça. Bons cineastas já perceberam que um bom protagonista de uma aventura não é uma pessoa totalmente correta, muitas vezes é muito mais interessante uma pessoa que tem em sua cabeça mais problemas do que soluções. O policial feito por Al Pacino em “Fogo Contra Fogo” é um herói tão perturbado quanto o vilão feito pelo Robert De Niro, aliás, o grande mérito desse filme (que é a obra prima do Michael Mann) é colocar o herói e o vilão em situações onde ambos são praticamente iguais, mas cada um de um lado da lei e, tendo além disso uma vida como qualquer outra pessoa, no caso específico como qualquer outra pessoa perturbada. Isso gerou uma das grandes cenas do Cinema dos anos 90, quando o Al Pacino, já em grave crise com sua mulher ao chegar na sua casa de manhã vê o amante comendo torradas, usando o seu roupão e assistindo a pequena televisão de cozinha. Ele vai ao amante do lado da mulher e diz “Quer comer a minha mulher na minha casa? Não me importo. Quer ficar aqui até de manhã e comer torradas com a mulher? Não me importo. Quer usar o meu roupão? Não me importo. Agora, assistir a porra da minha TV sem me avisar não!!!” Ele pega a TV e vai embora da casa.

Um outro herói que eu não esqueço é o Ethan Edwards, O Cowboy solitário que parte numa busca obsessiva a sua sobrinha, raptada pelos índios. O personagem de John Wayne nesse filme é a princípio o típico herói estadunidense dos filmes de faroeste; Solitário, implacável, macho, matador de índios. O que fará esse herói quando, após anos de buscas, encontrar sua sobrinha já adolescente (ela era uma criança quando raptada) vivendo entre os índios e defendendo-os? O que o tornará herói agora? A vingança contra quem agora é a família de sua sobrinha? Só um dos maiores mestres da história do cinema como John Ford poderia trazer essa angústia do Herói de forma tão inteligente, e fazer escola. O filme no caso, indispensável, chama-se “Rastros de Ódio” (The Searchers).

2 comentários:

Elton disse...

- Hello, Mr. Anderson. You are desgusting!!!

salvaterra disse...

pois é, o neo é o herói perfeito. tão perfeito quanto o buda que o próprio keanu interpretou naquele filme do luciano. aliás, o neo é o buda, né? é o cristo, é o apolonio, é o osiris, é o mitra, é o herói de mil faces...