sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sexta Literária, é o Lima na cabeça.

(O acadêmico Lima Barreto: do jeito que a academia gosta)

(Lima Barreto "louco alucinado"?)

(Nascimento de Lima Barreto - não sei por qual artista plástico)


"País rico

Lima Barreto

Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba.
Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, o os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico...
Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico.
Anualmente cerca de duas mil mocinhas procuram uma escola anormal ou anormalizada, para aprender disciplinas úteis. Todos observam o caso e perguntam:
- Se há tantas moças que desejam estudar, por que o governo não aumenta o número de escolas a elas destinadas?
O governo responde:
- Não aumento porque não tenho verba, não tenho dinheiro.
E o Brasil é um país rico, muito rico...
As notícias que chegam das nossas guarnições fronteiriças, são desoladoras. Não há quartéis; os regimentos de cavalaria não têm cavalos, etc., etc.
- Mas que faz o governo, raciocina Brás Bocó, que não constrói quartéis e não compra cavalhadas?
O doutor Xisto Beldroegas, funcionário respeitável do governo acode logo:
- Não há verba; o governo não tem dinheiro.
- E o Brasil é um país rico; e tão rico é ele, que apesar de não cuidar dessas coisas que vim enumerando, vai dar trezentos contos para alguns latagões irem ao estrangeiro divertir-se com os jogos de bola como se fossem crianças de calças curtas, a brincar nos recreios dos colégios.
O Brasil é um país rico... "


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As ironias e críticas socias estão às soltas e o Brasil é um país rico (hahaha).
Continuando as postadas sobre o carioca Afonso Henriques de Lima Barreto, aproveito para fixar imagens sobre o escritor que não deixava barato pra ninguém. Além de "O Homem que sabia Javanês", acompanhem "Bruzundangas", um dia falo mais sobre essa obra...
Nesta semana que passou informalmente realizamos um bate-papo em sala de aula sobre a foto e conseqüente imagem veiculada no Jornal Folha de São Paulo quando do relançamento da coleção de Lima Barreto. A foto "apresentada" no caderno Ilustrada era do "louco" Lima Barreto com olhar perdido, alucinado pelas mazelas de uma sociedade burocrata, preconceituosa, capitalista e opressora...
Seria mais fácil naquele momento impregnar pela mente do coletivo imaginário das pessoas a foto do escritor como um "ser isolado da sociedade", pois é, assim que fora visto na tal reportagem e pela sociedade burguesa de sua época.
Na dita maior Universidade do Brasil, não analisamos ou se quer discutimos em sala de aula sobre a obra do escritor carioca, resta-nos pesquisar nas bibliotecas obras escondidas do escritor "pedra no sapato das elites".É bom lembrar que Lima Barreto fez o caminho contrário: Acadêmico, funcionário público e decidiu meter a boca no mundo...Seu fim foi num hospício, visto como louco por toda uma sociedade...Penso que louca era a sociedade e quem não curte seus escritos. Penso que louco é quem não se afeta co mseus textos ou pensa em algo de novo...Ele tinha razão, por isso mais Lima Barreto no tantaprosa pra vosmicês se esbanjarem de tanta crítica social.
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A parte final da vida de Lima Barreto:

1912 - Lima Barreto colabora no jornal A Gazeta da Tarde, onde publica, além de relatos folhetinescos, a sátira Numa e a Ninfa.
1914 - Venceslau Brás chega ao poder em meio a grave cri­se econômica. Em agosto, Lima Barreto é recolhido pela primeira vez ao hospício.
1916 - Abusando do álcool e levando uma vida desregrada, é internado para tratamento de saúde, interrompendo sua atividade profissional e literária.
1917 - Crises e greves operárias alastram-se pelo país. Li­ma Barreto atua na imprensa anarquista, apoiando a plataforma libertária dos trabalhadores.
1918 - Por ter sido considerado "inválido para o serviço público", e aposentado de seu cargo na Secretaria da Guerra.
1919 - Epitácio Pessoa assume a presidência da República. Aparece o romance Vida e Morte de M. F. Gonzaga de Sá. Lima Barreto é novamente recolhido ao hospício.
1922 - Semana de Arte Moderna em São Paulo; Lima Barreto morre em sua casa, no Rio de Janeiro, de colapso cardíaco.
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Não deixem de conferir os artigos publicados em "Bagatelas" e "Marginália" é lá que o coro come...O cara não tinha medo nem de falar mal da sombra dele...Outro conto interessante é "Nova Califórnia" e "Universidade" ainda bem que tive essas influências agradeço a última e mais nova importância da minha vida por tais influências...Fico imaginando o que Lima Barreto falaria sobre: CPMF, mensalões, educação básica, educação assistencialista, sucateação da Universidade Pública, corrupção no futebol, imagine o que ele falaria sobre as políticas públicas de incentivo a cultura e literatura...minha nossa, acho que nem falaria...tomaria uma no bar, seria melhor, não vale nem a pena.

3 comentários:

Tio Vinix disse...

hoje em dia não se acham mais caras como o Lima... infelizmente

Ministro Puskas disse...

Poxa, agora que li seu post fiquei a pensar que o tal de Major Quaresma (Triste Fim de Policarpo Quaresma) era bem parecido com o Lima... subsecretario da Secretaria da Guerra, apaixonado pelo Brasil, critico dos subursbanos burgueses... eee laia! Vou reler o livro rs

Tatu disse...

lima barreto neles.

o próximo será mia couto, vai vendo.