segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A Torta de Frango dos Novos Yuppies

Ironia das ironias, leio um retrato ácido e mordaz dos novos ricos de Nova York justamente numa revista voltada para... ricos e emergentes brasileiros. Na revista Vogue RG de setembro, Tom Wolfe assina um perfil dos operadores de hedge funds e conta o conflito entre dinheiro novo e dinheiro velho, um dos temas mais batidos da literatura, mas que nas mãos de jornalistas e escritores de talento rende ótimas histórias e muitas vezes serve de marco para assinalar períodos de mudanças sociais mais profundas. O autor da matéria conhece o assunto, pois já adentrou o universo dos ricos e poderosos, sempre com descrições elaboradas e ironias refinadas. Exemplo fácil: “Fogueira das Vaidades”, adaptado para o cinema por Brian de Palma.
“Essa gente” que ele descreve nesse perfil ganhou dinheiro muito mais rápido do que qualquer outra geração e, na busca desenfreada por status, afinal, o resto eles já têm, descamba para a agressividade e o desejo de controle total das situações.
Na contramão, a revista Época de 5 de novembro apresentou um perfil otimista e benevolente dos novos aplicadores da Bolsa de São Paulo e trouxe dicas para quem deseja se tornar um. A capa é eloqüente: “Ganhei um milhão na Bolsa.” A descrição é eufórica, só apresenta vitoriosos e coloca a Bovespa como se estivesse ao alcance de qualquer um. A imagem de um cassino financeiro teria ficado para trás, a gestão das empresas é cada vez mais transparente, o que faz com que as pessoas “comuns” tenham até 70% do patrimônio na bolsa.
Nas palavras de Paulo Leme, economista-chefe do Goldman Sachs:
“Uma empadinha com uma cervejinha bem gelada cai bem, mas uma torta de frango, além de mais substanciosa, pode servir muito mais gente.” Só faltou falar: vamos fazer crescer a torta de frango, para depois dividi-la.
Algumas informações acerca dos riscos que se corre aplicando na Bolsa e um perfil dos “derrotados” seria o mínimo que se esperaria de equilíbrio jornalístico. “Exuberância irracional” e “ganância infecciosa”, conforme falou Alan Greespan uma vez há não muito tempo, parecem idéias de uma época tão distante quanto 1929.

3 comentários:

Julia disse...

Elton,
por mais batida e preconceituosa que seja, a expressão "o povo tem memória curta" é muito verdadeira nesse caso... 1929? O que foi isso?

Você espera equilíbrio jornalístico da Época? hahaha Eu espero sentada...

E sobre o perfil dos "derrotados", isso sim é algo que me faria comprar uma Época, mas essa sou eu né...

Tio Vinix disse...

Fortuna Imperatrix Mundi...

Carol M. disse...

Welcome to the jungle once more. Nada mais a declarar.

Bejocas pro menininho-avon.