quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Ditadura (do proletário?)


Chavez, Chavez! Novo exemplo de esquerda para a América Latina. Se bem que, talvez de novo aí só tenha o nome. Seria ele mais um interessado em se encastelar no poder, usando o discurso contra o imperialismo capitalista para justificar seus abusos? Eu apoiava o homem na Venezuela, a despeito de ter origens militares, de ter vindo de um golpe fracassado e de usar uma imagem picara que muitas vezes dá força à oposição burguesa. Mas o que é essa idéia de reforma constitucional que ele vem propondo? Por que se eleger ilimitadamente? É mesmo receio do capital tomar o poder? Veja, se for essa a crença, Chavez perde muito de minha admiração por ele. A escolha foi feita, a via da esquerda foi tomada, e crer que a falta de um homem forte no poder irá levar os capitalistas burgueses a controlar o país é ter uma visão limitada de História. Os processos estão se encaminhando, a “revolução” proletária prossegue justamente até que alguém mal intencionado resolve tomar as rédeas para si próprio. Chavez, se acredita realmente num socialismo justo, também deve ter mais fé no povo que representa. Essa história de que é preciso guiar a nação rumo à ditadura do proletário está mais para um espírito positivo-iluminista completamente descrente do poder das massas. Aliás, a ditadura do proletariado pretende-se ampla, dando poder a maioria. A classe operaria não deve ser identificada apenas na figura de um caudilho bom de oratória. Chavez está no poder desde 2002, sobreviveu a um golpe de estado, aproximou-se de Cuba e vem se armando de maneira assustadora nos últimos anos. Diferente de nosso presidente Lula, Chavez se aproximou diretamente do povo e construiu uma estrutura de apoio invejável, capaz de garantir uma incrível blindagem contra novos golpes. Pois bem, mas e os resultados? Já vamos para sete anos de mandato e até agora o percentual de pobreza no país não diminuiu (cerca de 60%), a corrupção dos tempos anteriores se manteve, e até mesmo acordos com magnatas foram feitos (cadê a taxação de imposto para redistribuição de renda?). Cerca de 80% dos veículos midiáticos estão a trabalho do governo, ou melhor, do “Petroestado”, cujo capital atrai cobras, chacais e rapinas famintas. Alterar a Constituição venezuelana para se fixar indefinidamente no poder transformará Chavez em ditador, capaz de controlar os veículos de comunicação para construir um mítico presidente, maquiando um totalitarismo através do clima de um inimigo oculto na pátria – os capitalistas. Esse jogo só serve para justificar abusos e perseguições políticas para manutenção dos privilégios conquistados. A classe operaria não deve servir de massa de manobra para encastelar populistas. Deve é lutar pela construção de uma base de poder cada vez mais ampla, representante de seus ideais, forte, ditatorial, mas justa à maioria cujo suor construiu a pátria. O proletário não deve ter ilusões de uma democracia burguesa, cuja teatralidade mascara a opressão da pobreza, fome e desigualdade, mas deve também atentar-se a manobras que o levem a uma sujeição limite, que o impeça de exercer seus direitos de derrubar governos não representativos. Chavez sairia pacificamente caso a massa não se identificasse mais com ele? Difícil.

3 comentários:

Tio Vinix disse...

E se o povo quiser mais 10 anos de Chavez presidente e elege-lo para isso? Tá errada a vontade do povo? Oposição a Venezuela tem, olha as manifestações dos Universitários (sempre eles)...

Ministro Puskas disse...

Ah claro... sempre a democracia para justificar abusos... afinal é a vontade do povo, não?

Carol M. disse...

Democracia é coisa pra grego ver, meus caros!