quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Esfalfado


Chego em casa, agora, onze da noite, após um dia corrido. Estágio, banco, simpósio, faculdade. Não sei por que, mas gosto dessa vida; miserável felicidade de poder pagar minhas contas, de comer de graça, de poder comprar livros com descontos escandalosos. Ah faculdade! Nada como viver entre amigos podendo falar de futebol à xadrez, de favela à flâneur, de mulher à cigarro. Vida perfeita!

Essa semana não falei de política com ninguém. Não li jornais nem textos interessantes, não saí com nenhuma mulher (apesar de me apaixonar três vezes em dois dias). Vi futebol, bebi, degustei até comida japonesa (um luxo para quem vive às custas da faculdade); pensei em vários assuntos para escrever no blog, mas quer saber, vou é falar de mim mesmo. Visitei a feirinha do livro pensando em comprar algo válido para meu mestrado. Saí com livros de cultura e arte, algo bem distante dos discursos políticos de paulistas do século XIX. Tenho mudado... Visualizo o deserto no horizonte, hesito, acendo um cigarro. Nesse purgatório entre céu e inferno fico esperando uma alma me resgatar. Ela vem, mas só conversa de longe. Brinca sorridente, me encanta e desvanece. Dou dois passos em direção ao horizonte questionando quem me faz mais mal, a alma ou o cigarro? Sei bem a resposta, por isso acendo outro fumo. Vida ingrata!

Essa gangorra sentimental é que me destrói. Ando sobre cacos que um dia foram chão de vidro; a dor é lassinante. Onde está a bondade do mundo, esse sentimento feminino cada vez mais difícil de encontrar? Sei que o deserto não me revelará sua localização. Espero então pacientemente meu resgate, entre um apaixono e outro, rezando para que seja breve.

5 comentários:

Tio Vinix disse...

Muito bom, MINISTRO...
Se vc quiser eu te mando um guia do Deserto Tantaproseano.

Ministro Puskas disse...

"Deserto tantaproseano" foi maldade hein! rs

Elton disse...

Trilha sonora: Catedral, da Zélia Duncan. "O deserto que atravessei..."

Julia disse...

Gentem, que tempos negros atravessamos por aqui. Acho que é o apocalipse.

Farpas de um lado, post confissional de outro, onde vamos parar?
Daqui a pouco nos mudaremos todos para o deserto e fundaremos uma comunidade hippie paz, amor, álcool e cigarro... Bora?

Ministro Puskas disse...

Welcome to Prosatantsky!