terça-feira, 6 de novembro de 2007

Terça Mochilão

O Mundo Inteiro Junto

por Tio Vinix

Se há uma coisa que a globalização parece trazer a alguns lugares do mundo (mais vistosamente no 3º mundo) é a padronização de certas crenças políticas, seja no Brasil, na China, Angola ou França. O Brasil saiu de uma ditadura que foi aqui implantada em plena Guerra Fria e se deveu ao medo de que influências soviéticas viessem a seduzir o país com o maior território da América Latina (na verdade foi essa uma filosofia implantada pela inteligência Estadunidense em todos os países da AL, vide a suposta influência da IT&T a da comprovada interferência da CIA na greve dos caminhoneiros que culminou no golpe militar no Chile, por exemplo). O que veio após o fim da ditadura foi um afã de democracia popular, que foi devidamente solapado por intermináveis esquemas de corrupção, que são hoje o elo mais forte de ligação entre os partidos que se dizem “de esquerda” e os que se são denominados como “de direita” (esses aí não se assumem, segundo Diogo Mainardi e Olavo de Carvalho a grande falha deles). A total impossibilidade de confiança nos políticos do Brasil gera um círculo vicioso dos mais cruéis: Sendo todos os políticos sem exceção corruptos ou corruptíveis, não há renovação nem opção que resolva. Resta a consternação. Já na China a grande massa (grande, enorme, gigantesca) não precisa se preocupar em escolher esse ou aquele partido que se diz de esquerda ou direita, ela se conforma em saber que o Partido Comunista Chinês faz isso por ela, afinal de contas talvez não seja errado o chinês-médio pensar que não cabe a ele mudar a situação política do país e que é melhor não perder tempo se envolvendo nisso, fora o fato que se ele resolver se meter a qualquer coisa contra o Estado Chinês, ainda corre o risco de gerar despesas a sua família, com balas. De certa forma o medo e o conformismo parecem se aproximar também lá do outro lado do mundo, mesmo que de maneira um tanto distinta. E tendo isso em vista, não vejo porque não considerar a China uma ditadura, assim como Cuba, assim como o Sri Lanka, assim como Angola, esta por sua vez sendo bem financiada pela China, por bem financiada leia-se US$4,5 bilhões em linha de crédito para o presidente José Eduardo dos Santos, que está no poder desde 1979, quando considerou o povo angolano “não preparado” para eleições. O povo angolano por sua vez, resignou-se e espera até 2009, quando provavelmente se farão novas eleições para presidente, onde já há um pré-candidato e favorito: José Eduardo dos Santos. Até onde se separam as expressões “resignar” e “apoiar” para o angolano-médio eu não sei, e nem arrisco questionar quem já passou por tantos sofrimentos ao longo da história como passou o povo angolano. Poderia ser típico de países considerados menos desenvolvidos esse conformismo, mas peguemos como exemplo um país da parte nobre da Europa (ou seja, esqueçam Romênia, Bulgária, Albânia e o espetacular jogo da Pirâmide...) onde seu povo teve mais instrução e condições mais confortáveis de vida. Num país assim a alternância política seria natural, não? Poderíamos dizer que haveria a possibilidade de um partido de esquerda realmente de esquerda, um de direita realmente de direita e um centrista, mas que todos se revezassem de acordo com as necessidades populares? Creio que sim, poderíamos dizer... Mas de fato não há. Há algo muito mais importante e latente do que qualquer democracia nesses países: A necessidade da manutenção da condição que esses países alcançaram em enorme parte as custas dos pobres países não-desenvolvidos, desde matéria-prima até cérebros. O medo que a perda dessa condição gera no europeu-médio é muito maior que qualquer sentimento democrático, portanto é até uma saída justa (nada honrosa é claro) o cidadão francês, inglês ou alemão considerar o processo eleitoral de seus respectivos países democrático e se conformar com uma alternância de poder tão falaciosa quanto a brasileira, ou melhor, ao contrário, porque o exemplo vem de cima.

2 comentários:

Elton disse...

Tá vendo como vc faz melhor, meu caro.

Julia disse...

Boníssimo texto, Tio!

Mandou muito, preencheu bem os belos sapatos da nossa Marocas...