sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Armênio Vieira na Sexta Literária

(Armênio Vieira tomando algo. Fonte: Wikipedia)

Esta recomendação de leitura vai para os pinguços (as) de plantão que freqüentam a terra do tantaprosa. Como havia comentado já retorno rumo ao morro Ararat e às terras tantaproseanas, saí de pasárgada após uma rápida espairecida para escrever o post de terça. Resolvi passar por Cabo Verde, refleti um pouco sobre a geografia do local e entendi que há cidadãos e escritores por aqui que brincam com a situação da seca na região como por exemplo um senhorzinho vendedor de guarda-chuvas que persuade a todos sobre uma mega-chuva que virá...Isso deu até um livro por essas bandas.
Aproveitando a deixa, decidi ler um pouco sobre Armênio Vieira, um camarada que está vivo até hoje e escreve com um humor cortante em sua inteligente ficcão. Recomendo o livro chamado "O Eleito do Sol".
Resumindo em algumas linhas, trata-se de um escriba (personagem principal) que vive no Egito e em todos os comércios que passa manda o comerciante colocar o valor gasto na conta do Faraó, afinal apresenta-se como neto da Eminência. De tanto fazer tal peripécia é convocado pelo faraó que não sabia muito da situação e dá um mês para o escriba descobrir e provar a todos que realmente é neto dele . O Escriba vai por diversos lugares e depara-se com uma esfinge, vemos aí a retomada da história de Édipo...Bem, não vou contar o que a esfinge diz e muito menos o fim da história. Vale a pena ler, afinal garanto boas risadas. Cabo Verde tem prosa e tem verso. Essa é a dica de prosa...Não estamos nos referindo apenas a um minúsculo arquipélago esquecido próximo a África.
Segue a baixo um trecho do livro "O eleito do Sol" (1990) de Armênio Vieira:

"O escriba deteve-se junto a um enorme cartaz que dizia: o Faraó , nosso imperador e Guia, tem um olho sempre aberto, mesmo quando dorme. Tende cautela, conspiradores, os crocodilos do Nilo adoram carne humana. Em seguida lembrou-se de que se lhe esgotara a erva para cachimbo. Arrastou as solas até uma lojeca e ali pediu um pacote de Populares.
- Ponha na conta do Sumo Sacerdote, sou neto dele - disse ao empregado.
- Neto de Sua Eminência, andas sem taco, pedes fiado e fumas Populares. Caramba! - exclamou o sujeito.
- Não sou eu, mas os deuses, quem governa a roda da Fortuna. Dito doutra forma, para ser mais explícito: fui suspenso até à próxima inundação do Nilo, por vontade de quem pode e manda, mas voltarei a ser o que era.
E, com esta tirada, o escriba foi-se embora dali entoando a canção Ó Faraó, Imperador de todas as tribos, nós te saudamos.

(...)

Apressou o passo, tomou por uma viela malcheirosa, percorreu outras duas no gênero e por fim desembocou numa baiuca onde lhe serviam gafanhotos imigrantes com cebola e piripiri. Virou-se depois para o basbaque do garçom, que também fazia de caixa, e disse:
- Mande a conta ao Sumo Sacerdote, sou neto dele.
O sujeito fitou-o com os olhos muito abertos e perguntou:
- Neto de quem?!
- Do Sumo Sacerdote - repetiu o escriba.
- Neto de Sua Eminência, olhe que não parece.
O escriba, quando já ia sair, disse:
- Nem tudo o que parece é. Identicamente, nem tudo o que é parece. Aprenda isto, seu cretino, e deixe de fazer apreciações obtusas.
Tudo isto foi contado no mesmo dia ao Faraó."

É por isso que disse no começo sobre os pinguços (as) de plantão, quem sabe se não colocarmos nossas cachaças na conta do Lula um dia somos presidente ao invés de músico, poetas ou blogueiros...Minha nossa, embora seja um livro difícil de se encontrar, vale a dica...Quem quiser arrumo, ou algo assim.

3 comentários:

Tio Vinix disse...

muito bom, seu Czar, me lembrou o texto sobre a Cesária Évora que eu tinha prometido escrever uma vez...

Elton disse...

Como diz uma placa numa doceria na Liberdade: A bebida faz mal à saúde, à família e à sociedade.

Carol M. disse...

Está ficando muito bom nisso, Ivanito tatu-bola.

Saudades do senhor.

Beijocas.