sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sexta Literária: Moçambique

Ufa...Respirando um pouco, após playcenters, casas amarelas, aulas, alunos e aniversário do elton inicio essa sexta literária cantando parabéns pro meu amigo-irmão dos tempos do cursinho.
Tenho muita história pra contar por essa semana, mas isso deixo pra domingo.
A linha Família foi suspensa por algum tempo e resolvi comentar um pouco mais sobre uma discussão que tivemos na aula de Literatura Africana de Língua Portuguesa (Moçambique). Aproveito o momento para convocar para discussão Carol Marossi (escreve na terça-mochilão), afinal estou dando uma volta pela África.
Aproveito também para convocar meus amigos historiadores e filósofos de plantão inclusive todos os interessados em tal discussão.
Foi colocado na sala a seguinte afirmação pela Profª Regiane que em outro momento foi confirmada como verdadeira pelo Prof. Mário Lugarinho:
"Em Moçambique não houve síntese, os moçambicanos resistem diariamente pela sua identidade e língua. É fato que as pessoas que se comunicam através do português não fazem a maioria no país."
Uma senhorita sentada na ponta da sala questiona a professora com ideias de Gilberto Freire e dos estudos da FFLCH - História. A moça por sinal cursava história..Dizia que os professores de seu curso acreditavam fielmente que houve síntese em Moçambique e ela aprendera assim. Logo interpelei dizendo a ela que quem escreve a história é o branco e principalmente a história que os alunos aprendem na usp...assim como a literatura etc etc...O burburinho causado foi genial.
Prefiro permanecer imparcial, tenho minha opinião mas quero abrir o debate antes de engambelar qualquer opinião. Aproveito para ilustrar a questão com passagens do conto Godido de José Dias (1926-1949) escritor Moçambicano autor de vários contos de resistência, participante da formação da elite intelectual de Moçambique que resiste as imposiçãos e começa a discussão sobre a questão de indentidade no país através da literatura.
José Dias inicia o conto de resistência Godido resgatando a oralidade do povo moçambicano:
"era uma vêgi um dia. Barranco chigou no nosso terra. Parota tinha degi. E patrrão ficou falar assi": - "Agora machamba não é de prreto. "
e prossegue...
"O senhor Manoel Costa veio à povoação e assentou seus projetos ao lado dos negros. Trazia máquinas, autoridade, réguas. Espalhou dinheiro e panos de fantasia pelas gentes, trazendo à sua quinta os braços do setor. trabalhar para o senhor Costa era mais seguro porque se abrigavam dos maus tempos que destroem os cultivos. Os brancos até lutam vantajosamente contra Natureza."
"(...) Quatro meses andados, no lugar o senhor Costa se tornou um verdadeiro soba. Até fazia de juiz entre os indígenas."
outra passagem:
"Os produtos seguiam para grandes cidades. Na aldeia, fome.
'Di modo qui prreto trabaia, trabaia e, às vêzi, fica fome no barriga dele. Não tê comida para o gente'
Um feiticeiro disse uma vez que a fome que começava nascendo era praga dos antepassados "
No fim das contas descobre-se que Godido é filho de escravo e que a mãe incentiva e arma sua fuga. A cidade é a nova vida do menino negro, livre menino negro e agora solitário. Sempre seria negro...sempre seria visto como tal.
"(...)Godido precisava outros rumos. A vida realizava-se sempre certa onde quer que seja, mas nós não somos suficientemente fortes para compreender e executar"
vocabulário:
barranco= branco
degi = dez
vêgi = vez
chigou = chegou
machamba = campo de cultivo
parota = casebre
soba =transmissor de história, respeitado
indígenas= negros
A discussão que se faz a partir do conto é esta, sabemos que a literatura moçambicana é construída através da resistência, mas e a questão da síntese então? A história de branco é construída pra inglês e português ver?

3 comentários:

Tio Vinix disse...

Vou tentar usar uns exemplos das letras e poemas feitos em Cabo Verde(Cesária Évora) e em Moçambique(Lukoa Kanza, se eu não me engano) na quarta pra defender que há síntese sim. O problema é o que vc pode definir como síntese nesse contexto. Se vc fizer uma análise europeizada(eita palavrinha feia, se for com "z" mesmo...), vai ser obviamente limitado no entendimento, já que a cultura africana não segue os padrões de compreesão europeus.

Anônimo disse...

Olha nao posso falar muito a respeito. O que sei é que a professora qu tive dos meus cursos sobre Africa nem sequer era historiadora e sim uma Antropologa metida a historiador (muito comum isso).:p

Érica Antunes disse...

Olá, Ivan!
Tudo bem?
Preciso fazer uma observação: o nome do autor do conto "Godido" é JOÃO DIAS e não José Dias como vc anotou, ok?
Um abraço,
Érica Antunes