quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Quarta MeiaEntrada - Brian de Palma

Por Vinix

Uma vez a cada 18 ciclos Jupterianos a Folha traz uma boa entrevista. Como isso é caso de se comemorar, vejam aqui um trecho da entrevista que o Brian de Palma concedeu pro jornal. Ele fala do novo filme dele, o polêmico “Redacted”, que fala da invasão do Iraque, mais especificamente do caso de um esturpo de uma Iraquiana de 14 anos por soldados americanos, e do cinema de hoje em dia. Coisa fina.

Folha - Depois da primeira exibição de “Redacted”, a platéia parecia um tanto atônita, sem saber como reagir ao filme. Você já acompanhou uma projeção pública? O que achou da reação?
Brian de Palma - Antes de Veneza, mostrei o filme para poucos amigos, produtores e distribuidores. Notei essa mesma reação, em todas as exibições que fiz. Não sei bem por que, talvez por ser algo novo as pessoas ainda não saibam exatamente como processar o que viram. Quando você faz algo inovador, é natural que perguntem o que é isso. Mas, na verdade, só estou apresentando um material na forma como eu o descobri. Procurei determinadas informações, e a forma do filme evoluiu naturalmente dessa pesquisa. Fiz “Redacted” da maneira que me pareceu a mais correta para expor o tipo de material que encontrei.

Folha - Como foi o trabalho de pesquisa?
De Palma - Basicamente, usei as ferramentas de busca da internet. Juntei mais de cem páginas de material e descobri tudo o que você vê no filme, não inventei absolutamente nada. O que selecionei e o que ficou na versão final é baseado em material de plena confiança. Está tudo lá. Nem sempre pudemos identificar a origem de certos materiais, que por isso não foram usados. Mas apenas por uma questão legal, não duvidei da veracidade deles.

Folha - Além da pesquisa virtual, você chegou a conversar com soldados?
De Palma - Sim, vários. A pesquisa não se limitou à internet. E o mais impressioannte é que as histórias são as mesmas, exatamente as mesmas do Vietnã! Os veteranos se fazem as mesmas perguntas, dizem as mesmas coisas: “O que fomos fazer lá? Todo mundo parece me odiar! Que diabos é isso? Meu amigo expliodiu atrás de mim!”. É exatamente a mesma história que contei em “Pecados da Guerra”.

Folha - Você encontrou muitas barreiras legais enquanto desenvolvia este filme?
De Palma - Sim. Precisei consultar advogados para saber o que poderia ser usado o tempo todo. O material que cai na internet não é de domínio público se você for fazer um filme de ficção. E isso é uma loucura. Nunca entendi direito como funciona essa legislação. Em nosso país, se você faz uma obra de ficção baseada em algo que supostamente aconteceu de verdade, pode facilmente ser processado pelas pessoas que viveram a história _mesmo depois de essa história ter sido publicada, impressa e transmitida pela televisão infinitas vezes. O argumento utilizado é que o cinema é um meio comercial, mas então eu pergunto: a televisão não é um meio comercial? É difícil entender porque perdemos tanto tempo com isso... Gostaria, por exemplo, de usar uma frase dita por um soldado numa determinada situação, mas não pude fazê-lo. Tudo, no filme, é ficcionalizado, mas não menos verdadeiro.

Folha - Como foi esse processo de “ficcionalização”?
De Palma - No fundo, fácil, porque na verdade já fiz esse filme antes. Conhecia o material dramático. Só me reaproximei daquela história em um novo país, o Iraque, sem precisar me afastar do material real que chegou às minhas mãos.

Folha - Por que a maior parte dos americanos não chegou a esse material, se ele está todo disponível na internet?
De Palma - Isso é curioso. Não sei por que, mas toda a forma como a informação circula mudou, e muita gente ainda não sabe como chegar até ela. Do Vietnã para cá, acho que o aspecto do mundo que sofreu a maior transformação foi a mídia, que hoje não informa, mas esconde a informação. É preciso fazer um filme sobre isso: o que aconteceu com a mídia? Que tipo de transformação se efetuou? A primeira Guerra do Golfo, por exemplo, foi impressionante. Parecia um show de fogos de artifício. Ninguém via onde as bombas caíam, eram apenas luzes no céu. Mas, Deus do céu, aquelas bombas estavam caindo sobre pessoas!

Folha - Ter feito esse filme em vídeo foi um ato político?
De Palma - Não, o vídeo não é político por ser vídeo, é apenas um meio que está aí, disponível. O fato é que surgiu toda uma nova indústria criativa a partir do vídeo e da tecnologia digital e nós não fazemos idéia de onde ela vai parar. Toda vez que me conecto na internet, descubro alguma coisa nova. Há correspondentes de televisão em várias partes do mundo que transmitem programas ao vivo, de suas próprias casas. Hoje, cada um pode ter seu próprio programa de TV. Isso é uma revolução.

Folha - Como você espera que seu filme seja recebido nos Estados Unidos?
De Palma - Fiz esse filme o mais silenciosamente possível, não queria que a notícia vazasse e algo pudesse atrapalhar nosso processo de trabalho. Tenho certeza de que “Redacted” vai desagradar muita gente. Sua primeira exibição está sendo aqui no Festival de Veneza. Acredito que, nos Estados Unidos, a reação vai ser bastante polarizada. A direita vai chamá-lo de propaganda comunista. Será uma reação forte. Já está sendo, aliás, antes mesmo do filme ser exibido.

Folha - É possível voltar à ficção depois de um filme como esse?
De Palma - Não sei... Quero ainda fazer muitos filmes, mas filmes que sejam do meu interesse, do coração. Estou cansado de lidar com todo o “mambo jambo” do cinema. Todos os executivos de Hollywood, hoje, vieram da televisão. Veja bem: há muita coisa boa na televisão, principalmente na TV a cabo, mas esses executivos simplesmente não entendem nada de cinema. Eles querem produzir coisas que possam passar no horário nobre.(MATOU A PAU!!!)

Folha - Como vê as perspectivas de sua carreira, daqui para adiante?
De Palma - Qual é o objetivo de uma carreira cinematográfica hoje? Fazer um sucesso atrás do outro? Mas por quê? Depois que você juntou um certo dinheiro, qual é o sentido em ganhar mais dinheiro? Essa é a grande questão. Quando fiz “Missão Impossível”, meu filme de maior sucesso, Tom Cruise veio me perguntar se queria fazer “MI2”. Mas por quê? O que pode haver de interessante criativamente aí? Vejam Sam Raimi, um diretor tão talentoso, e o que ele tem feito? Vai passar o resto da vida fazendo “Homem-Aranha”! Vão fazer mais três filmes! Sinceramente, esse é um preço alto demais para ganhar 1 bilhão de dólares... Na minha idade, aproveito o que me resta. Estou feliz com os filmes que fiz, e quero fazer com que todos os dias sobre este solo que piso sejam bons dias.(MATOU A PAU DE NOVO!!!!)

4 comentários:

Julia disse...

E eu que nem gostava tanto do DePalma (como pessoa hein? Porque Os Intocáveis é um dos meus filmes prediletos), nossa, ele me impressionou nessa entrevista! Fodido, muito bom...

Tatu disse...

julia: vc tá falando muito palavrão no tantaprosa daqui a pouco teremos que bani-la.

vinix,
depois dizem que meu post que é grande, minha nossa...dei uma de macunaíma agora aih que preguiça.

salvaterra disse...

e eu sempre tive pés e passos e pulos atrás com o brian de palma. missão marte não desse até hoje. tirando alguns ápices de originalidade e coisa boa, o resto eu sempre acho que já vi em outro lugar. que cara mais doido esse aí.

Julia disse...

É mesmo Ivan? Vai se f%#&*