segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Segunda-Avon - O Jeitinho Veja de ser

Nada como um intelectual e uma pesquisa acadêmica para legitimar um posicionamento político. Não resisti e fui ler a tão comentada matéria da revista Veja "Como pensam os brasileiros" (edição 2022 - 22/08/07). O autor dela, Ronaldo França, analisou o livro "A Cabeça do Brasileiro", em que o sociólogo Alberto Carlos Alemeida conduz uma pesquisa que pede aos entrevistados que concordem ou discordem de frases como: "é correto recorrer ao jeitinho para resolver problemas, como o de se livrar de uma multa". O resultado foi que, conforme a escolaridade aumenta, menor é a tolerância a práticas pouco republicanas. Com isso, a revista estampou numa das faixas da capa para as chamadas secundárias: "Um livro mostra que a elite é o lado bom do Brasil". Entretanto, basta lermos a matéria com um pouco de atenção que seu próprio conteúdo denuncia um caráter preconceituoso e elitista no pior sentido, ou seja, no da percepção de que tudo que é ruim no Brasil ocorre por causa dos mais pobres. O próprio autor da matéria ressalta que a pesquisa "não pretende, é importante ressaltar, revelar como agem [os brasileiros]". Eu me pergunto: num país complexo como o Brasil, o que tem mais peso na hora de se pronunciar um julgamento de valor sobre a realidade do país: o que seus membros pensam ou o que fazem? 500 anos de história não servem pra nada? A pesquisa foi realizada pelo DataUff (Universidade Federal Fluminense), financiada pela Fundação Ford e optou pela metodologia utilizada pela General Social Survey, uma pesquisa social realizada pela Meca do pensamento neoliberal, a Universidade de Chicago. Entre os pensadores mais influentes da instituição, basta citarmos o falecido economista Milton Friedman (1912-2006), guru de Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Augusto Pinochet. A revista imputa aos menos escolarizados, ou seja, os mais pobres, alta tolerância à corrupção e simplesmente ignora que para burlar uma licitação, por exemplo, é necessário bem mais do que a 4ª série do ensino fundamental. Ou que os que julgam casos de corrupção e crimes de colarinho branco e freqüentemente liberam os acusados por "falta de provas" ou por simples prescrição são juízes formados em instituições de respeito e recebedores dos mais altos salários do funcionalismo. Além desses lapsos, a revista produz um malabarismo semântico digno de riso ao afirmar que elite é sinônimo de classe média: "...acelerar a marcha rumo à modernidade - o que significa ampliação da classe média, ou seja, da elite". Ah, a classe média. Sempre querendo ser elite. Se a revista considera a universalização da educação tão importante para a valorização da coisa pública, por que será que ela não se juntou à Jornada Nacional em Defesa da Educação Pública? Provavelmente porque devia estar falando mal de seus organizadores: MST, UNE, Conlutas, CPT, Intersindical, Andes, PSTU, entre outros membros da “esquerdalha liberticida”. Só mesmo os arrivistas pra levar a sério essa revista.

17 comentários:

Julia disse...

Nossa, Elton, eu li essa reportagem e é absurda! Descaradamente tendenciosa e manipuladora, ridícula ao cubo. Me pergunto ainda como isso se denomina jornalismo... Ridículo ao cubo.

Julia disse...

Peraí. Ao cubo não expressa a minha revolta.

À décima potência serve?

Anônimo disse...

caraca, tem coisa podre mesmo por aí hein???
foda é que tem quem lê e põe na cabeceira da cama.

Elton disse...

Décima potência ainda é pouco. Qudo eles publicaram uma edição sobre o MST - A tática da baderna - se não me engano de maio de 2000, eu tinha prometido nunca mais lê-la. Infelizemente para fazer uma crítica a gente tem que se submeter a esse tipo de leitura.

Tio Vinix disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tio Vinix disse...

Voces precisam ver a tentativa de desmoralizar o Gramsci que eles tem feito periodicamente...
Veja é revista de advogado da PUC, de economista da FEA(mas eu estou generalizando, a minha vontade mesmo é que alguém me desminta, o que eu duvido)...

Julia disse...

Não quero te desmentir, nem posso! Vinix, impssível estar mais correta sua constatação.

Carol M. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol M. disse...

A Veja é panfletária, minha gente, bem como grande parte da mídia no Brasil. Causa-me náuseas.
Porém, não me admira que tudo o que seja publicado nessa imprensa tupiniquim seja aclamado como verdade absoluta, daí os bordões 'eu li na Veja', 'eu li na Folha/Estado' e por aí vai. Se ao menos as pessoas tivessem senso crítico, mas não: notícia fast food: me dá o número 1. Pra viagem.

Arrasou, Elton!

Julia disse...

Panfletária, político eleitoreira, tendenciosa, falaciosa, e por aí vai... Mas eu leio o Estadão (sim, e assumo!) porque prefiro ler um jornal que se assuma como mídia de direita que um jornal que se diz imparcial mas é o mais parcial de todos. O Estado, pelo menos, tem colunistas bons no Caderno2. Hoje o Jabor (que nem gosto hein) tá ótimo. Mas o Marcelo Rubens Paiva da semana retrasada tava DEMAIS. Vale a pena também pelo Calvin e pelo Sudoku...

Anônimo disse...

Fantastico! Parabens Bezerra!
Sei que o assunto nao é esse, mas tenho uma pergunta pra ti: que vc achou da materia do Globo com a foto dos "msn" dos juizes e a materia da Folha sobre a conversa no celular dentro de um restaurante? A Midia tem direito de levar ao publico noticias de ambiente privado?

Elton disse...

Discordo num ponto: o plenário do STF e o restaurante são lugares públicos, não privados. Não houve nenhuma violação de intimidade nem de privacidade em nenhum caso e o conteúdo de ambos eram de interesse da socieade. Podemos discutir como a mídia noticiou esses fatos e a implicação política deles, mas não creio nesse caso tenha havido irregularidade no sentido de violar a privacidade dos ministros.

Ministro Puskas disse...

Conversa telefonica e conversa em computador pessoal não são consideradas publicas. Independente de eu usar meu computador naminha casa ou na praça da republica

Tatu disse...

tem uma reportagem semelhante na folha de são paulo, vou tentar ver e discuto aqui.

A folha é de domingo passado, não hoje.

boa pedida elton, aproveita e lê "classe média" do max gonzaga do festival da cultura.

fui.

Anônimo disse...

e a folha? olhaí que bonito:

http://www.youtube.com/watch?v=FLda5jlX59c

Roberto B. disse...

Engraçado, as pessoas fazem uma leitura de segunda mão, e acham que o livro fala aquilo que a VEJA diz que fala. Eu li o livro, e, surpresa, não é bem assim!

Esse povo tem que ter um pouco mais de paciência e formar suas idéias a partir da fonte direto. Acreditar em resenha de revista, francamente...

Elton disse...

Caro, Roberto. É pertinente a sua colocação. Por isso mesmo que comento a revista Veja, não o livro.