sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Sexta Literária: Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra

Como prometido semana passada, fecho por este ano minha participação no tantaprosa com um livro genial para o fim do ano, por dois motivos:

- Rápido e fácil de ler apesar das 260 páginas;
- Mágico, realista e cheio de símbolos.
Um bom ano a todos os tantaproseanos e a todos os leitores (as) do tantaprosa, ano que vem tem mais...E dizem as más línguas que o Tio vinix vai matar um boi pelo novo ano, veremos.



O Romance Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra de (2003)Mia Couto desenrola-se no cenário de Luar-do-Chão uma terra criada pelo escritor cercada por um rio que carrega extrema importância do começo ao fim da narrativa.
Diferentemente de Terra Sonâmbula, que tem duas histórias que se entrelaçam, em Um rio chamado tempo uma casa chamada terra o cenário passa a ser o da ilha do começo ao fim.
Podemos pensar a todo instante que Luar-do-Chão é um ambiente muito semelhante à Moçambique pós-colonial e para evidenciar que esta história ocorre nesse período moçambicano de guerra civil, em que as pessoas estão sendo envolvidas pelo capitalismo, vemos necessidade de lucro obsessivo e a necessidade de transformar tudo em mercadoria para venda, as pessoas querem passar por cima das outras perdem seus valores e isso é evidenciado com o comportamento do Tio Ultímio, um dos filhos do falecido Dito Mariano, o patriarca da família.
Vale lembrar que a história inicia-se com a possível morte de Dito Mariano, os filhos do mesmo se mobilizando (Ultímio, Abstinêncio, Fulano Malta) os netos não se manifestam com excessão de Marianinho que larga os estudos da faculdade e vai a ilha de Luar-do-Chão para observar os últimos momentos de seu avô. Quem narra a história é Marianinho.
Ao chegar na ilha a avó Dulcineusa realiza todos os rituais possíveis e confirma diante de todos que a vontade de Dito Mariano era a de que Marianinho o enterrasse, por isso que fora chamado às pressas, olhares invejosos ocorrem com essa revelação da avó, e Marianinho aceita tal empreitada sem saber o porque. A verdade é que o corpo de Dito Mariano é velado do começo ao fim da narrativa e só enterrado por Marianinho quando todos as coisas mal resolvidas daquela família são resolvidas através das cartas mágicas enviadas por Dito Mariano falecido ao neto.
Marianinho é aquele que veio de fora para poder interagir na realidade local da ilha. Trata-se da representação do novo, da representação da nova casa, a tentativa de através do místico e da volta ao passado reconstruir os valores perdidos na família e na sociedade como os de justiça, sinceridade, fortalecendo as crenças de que um futuro melhor e diferente é possível para os seres humanos daquele local.
As cartas assinadas por seu avô são inusitadas para Marianinho e com o passar da trama o leitor percebe que só o neto conseguia ler as cartas e em tom confessional o avô Dito Mariano revelava coisas sobre os familiares, verdades escondidas inclusive sobre a verdadeira origem do neto e de seus familiares. Trata-se mais uma narrativa em que o Realismo Mágico se faz presente em Mia Couto, como já ocorrera em Terra Sonâmbula (1995).
Vale a pena ler, em uma tacada quem pega lê o livro e fica pensando mais uns dois dias sobre a história que inteligentemente é construída por Mia Couto.
Duas passagens pra criar mais um gostinho:

No fim da narrativa duas passagens são me chamaram a atenção, a primeira é um diálogo entre Marianinho e o tio Ultímio o ganancioso, após o enterro do avô Dito Mariano:

-Vai sair tio?
- Vou. Mas volto logo para tratar da compra da Nyumba-Kaya.
- O tio não entendeu que não pode comprar a casa velha?
- Pois, escute bem, eu vou comprar com meu dinheiro. Essa casa vai ser minha.
- Essa casa nunca será sua, Tio Ultímio.
- Ai não?! E porquê?, posso saber?
- Porque essa casa sou eu mesmo. O senhor vai ter que me comprar a mim para ganhar posse da casa. E para isso, Tio Ultímio, para isso nenhum dinheiro é bastante. (P.249)


e na página 247 como as coisas se estabeleceram:


Regresso a Nyumba-Kaya. A cozinha se enche de luminosidade e, junto ao fogão, estão sentadas a Avó Dulcineusa e a Tia Admirança. Estão contemplando o álbum de família (...)
A casa tinha reconquistado raízes. Fazia sentido, agora, aliviá-la das securas. Admirança se levanta, me segura as mãos e fala em suspiro como se estivesse recitando sagrado:
- Já falamos com Fulano, ele vai-se mudar para aqui, para Nyumba-Kaya. Ficamos guardadas, fique descansado. E a casa fica guardada também.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Direitos Ocidentais Universais

Última semana antes do ano novo. Desejos de paz e prosperidade pipocam através dos veículos de comunicação, proclamando, com boas intenções, uma convivência pacífica entre os povos do planeta. É sobre essa universalidade que vou falar hoje. Elaborei um texto comprido, sério e bem polêmico, mesmo sabendo que nessa época do ano poucos irão se dispor a ler. O eixo central da discussão é sobre direito, sobre a elaboração das leis, sobre a validade de um conjunto de regras para toda a humanidade e a crença em regras “naturais” que regem o mundo. Para isso utilizo as declarações dos direitos universais do homem, através de uma análise histórica, discutindo as intenções teóricas e práticas de alguns países que lutam para a implementação desses direitos em todas as nações. Vamos averiguar então, utilizando as declarações universais de 1793 e 1948, as claras noções históricas de alguns direitos e a necessidade de estabelecer aqueles que já foram determinados na declaração, mas que ainda estão longe de serem cumpridos por muitos Estados nacionais modernos. Sobre a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, feita primeiramente em 1789 durante o inicio da Revolução Francesa, e depois reelaborada em 1793 num período de intensificação da força popular no movimento, podemos considerá-la como a primeira tentativa de estabelecer direitos considerados universais à todo homem. Essa tentativa de universalidade levou o documento a ser escrito de maneira “aberta”, permitindo uma ampla interpretação de suas evocações; porém é preciso considerar certos pontos a respeito da época de sua criação. A Declaração dos direitos do homem e do cidadão não considerava as mulheres como sujeitas de direitos iguais aos dos homens. Em geral, em todas as sociedades do período, o voto era censitário e só podiam votar os homens adultos e ricos; as mulheres, os pobres e os analfabetos não podiam participar da vida política. Devemos também lembrar que estes direitos não valiam nas relações internacionais. Com efeito, neste período na Europa, ao mesmo tempo em que proclamavam-se os direitos universais do homem, tomava um novo impulso o grande movimento de colonização e de exploração dos povos extra-europeus; assim, a grande parte da humanidade ficava excluída do gozo dos direitos. Analisemos o artigo XXVII da Declaração de 1793, que diz: “Que todo indivíduo que usurpe a Soberania, seja imediatamente condenado à morte pelos homens livres”. Ao ler este artigo da declaração notamos que sua abrangência é bastante ampla, podendo ser interpretada de diversas formas, não havendo uma especificação mais completa que impedisse ambigüidades. A noção de soberania no artigo remete à cidadania e não mais ao rei (do antes conhecido Antigo Regime); a morte é declarada para qualquer um que tomar a soberania da nação para si em detrimento dos homens livres. Sabemos que ao não especificar as formas que essa usurpação poderia ser condenável, vemos através da história da própria França que, em menos de cem anos, tanto Napoleão Bonaparte quanto José Napoleão (ou Napoleão III), irão concentrar o poder sobre si mesmos, sendo proclamados Imperadores, sem que para tanto tenham sido condenados pela declaração. O artigo XXII – “A instrução é a necessidade de todos. A sociedade deve favorecer tom todo o seu poder o progresso da inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos” – apresenta um mesmo problema que o artigo anterior. Através de uma análise histórica percebemos que foi preciso especificar melhor esse direito para que não continuasse havendo negligencia por parte do Estado, responsável por tentar estabelecer uma sociedade mais justa e igualitária. Quando, após a experiência terrível das duas guerras mundiais, os líderes políticos das grandes potências vencedoras criaram, em 26 de junho de 1945, em São Francisco, a ONU (Organização das Nações Unidas) e confiaram-lhe a tarefa de evitar uma terceira guerra mundial e de promover a paz entre as nações, consideraram que a promoção dos “direitos naturais” do homem fosse a condição central para uma paz duradoura. Por isto, um dos primeiros atos da Assembléia Geral das Nações Unidas foi a proclamação, em 10 de dezembro de 1948, de uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, cujo primeiro artigo reza da seguinte forma:
“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São dotadas de razão e de consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”.
Os redatores tiveram a clara intenção de reunir, numa única formulação, as três palavras de ordem da Revolução Francesa de 1789: liberdade, igualdade e fraternidade. Desta maneira, a Declaração Universal reafirma o conjunto de direitos das revoluções burguesas (direitos de liberdade, ou direitos civis e políticos) e os estende a uma série de sujeitos que anteriormente estavam deles excluídos (proíbe a escravidão, proclama os direitos das mulheres, defende os direitos dos estrangeiros, etc.); afirma também os direitos da tradição socialista (direitos de igualdade, ou direitos econômicos e sociais) e do cristianismo social (direitos de solidariedade) e os estende aos direitos culturais. É oportuno lembrar que a Declaração Universal foi proclamada na plena vigência dos regimes coloniais e que, mesmo após subscreverem a declaração de 1948, as velhas metrópoles colonialistas continuaram remetendo tropas e armas para tentar esmagar as lutas de libertação e, em praticamente todos os casos, só se retiraram após derrotados por esses povos. Só como exemplo da falta de aplicação dos Direitos declarados, peguemos três artigos:
Artigo III - Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Artigo IX - Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.
Artigo XXV - §1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.
Através de uma breve análise, percebemos que os três artigos refletem uma realidade eurocentrica ocidental. A maioria dos países orientais sequer estão estruturados de maneira a atingirem esses objetivos, enquanto que países como os Estados Unidos simplesmente ignoram todos os três em suas políticas intervencionistas; o que chamamos atenção é para a necessidade de discutir a noção de universalidade dos direitos de 1948, levando em conta as especificidades históricas de outras realidades, e principalmente das nações menos desenvolvidas (em grande parte decorrência da exploração dos países ditos “desenvolvidos”). Este olhar “de baixo”, dos excluídos, das vítimas, pode e deve ser a nossa contribuição para uma reconstrução da história dos direitos do homem menos unilateral e simplista do que geralmente aparece nos manuais de divulgação da história dos direitos humanos, os quais apresentam a trajetória da Revolução Americana e Francesa do Século XVIII para concluir finalmente com a Declaração Universal das Nações Unidas do Século XX. A Europa e o Ocidente aparecem, assim, como o espaço onde progressivamente, ainda que com contradições, se forja a emancipação do homem, que é, posteriormente, estendida a toda a humanidade como modelo a ser seguido. O resto do mundo constitui o agente passivo, marginal, é o “outro” que não é “descoberto”, mas “ocultado” e recebe a voz dos Direitos Humanos do Ocidente civilizado.

* Com auxilio do texto de Giuseppe Tosi - site da UFPB

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

PÁRA TUDO MINHA GENTE!!! É ANIVERSÁRIO DA MUSA!!!!



Após a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis filhos de Urano, conhecidos como titãs, foi solicitado a Zeus que se criassem divindades capazes de cantar a vitória e perpetuar a glória dos Olímpicos. Zeus então partilhou o leito com Mnemósine, a deusa da memória, durante nove noites consecutivas e, um ano depois, Mnemósine deu à luz nove filhas em um lugar próximo ao monte Olimpo. Criou-as ali o caçador Croto, que depois da morte foi transportado, pelo céu, até a constelação de Sagitário. As musas cantavam o presente, o passado e o futuro, acompanhados pela lira de Apolo, para deleite das divindades do panteão. Eram, originalmente, ninfas dos rios e lagos. Seu culto era originário da Trácia ou em Pieria, região a leste do Olimpo, de cujas encostas escarpadas desciam vários córregos produzindo sons que sugeriam uma música natural, levando a crer que a montanha era habitada por deusas amantes da música. Nos primórdios, eram apenas deusas da música, formando um mavioso coro feminino. Posteriormente, suas funções e atributos se diversificaram.

Clio (a quem confere fama) era a musa da História, sendo símbolos seus o clarim heróico e a clepsidra. Costumava ser representada sob o aspecto de uma jovem coroada de louros, tendo na mão direita uma trombeta e na esquerda um livro intitulado "Tucídide". Aos seus atributos acrescentam-se ainda o globo terrestre sobre o qual ela descansa, e o tempo que se vê ao seu lado, para mostrar que a história alcança todos os lugares e todas as épocas.
Euterpe (a que dá júbilo) era a musa da poesia lírica e tinha por símbolo a flauta, sua invenção. Ela é uma jovem, que aparece coroada de flores, tocando o instrumento de sua invenção. Ao seu lado estão papéis de música, oboés e outros instrumentos. Por estes atributos, os gregos quiseram exprimir o quanto as letras encantam àqueles que as cultivam.
Tália (a festiva) era a musa da comédia que vestia uma máscara cômica e portava ramos de hera. É mostrada por vezes portando também um cajado de pastor, coroada de hera, calçada de borzeguins e com uma máscara na mão. Muitas de suas estátuas têm um clarim ou porta-voz, instrumentos que serviam para sustentar a voz dos autores na comédia antiga.
Melpômene (a cantora) era a musa da tragédia; usava máscara trágica e folhas de videira. Empunhava a maça de Hércules e era oposto de Tália. O seu aspecto é grave e sério, sempre está ricamente vestida e calçada com coturnos.
Terpsícore (a que adora dançar) era a musa da dança. Também regia o canto coral e portava a cítara ou lira. Apresenta-se coroada de grinaldas, tocando uma lira, ao som da qual dirige a cadência dos seus passos. Alguns autores fazem-na mãe das Sereias.
Érato (a que desperta desejo) era a musa do verso erótico. É uma jovem ninfa coroada de mirto e rosas. Com a mão direita segura uma lira e com a esquerda um arco. Ao seu lado está um pequeno Amor que beija-lhe os pés.
Polímnia (a de muitos hinos) era a musa dos hinos sagrados e da narração de histórias. Costuma ser apresentada em atitude pensativa, com um véu, vestida de branco, em uma atitude de meditação, com o dedo na boca.
Urânia (celeste) era a musa da astronomia, tendo por símbolos um globo celeste e um compasso. Representam-na com um vestido azul-celeste, coroada de estrelas e com ambas as mãos segurando um globo que ela parece medir, ou então tendo ao seu lado uma esfera pousada uma tripeça e muitos instrumentos de matemática. Urânia era a entidade a que os astrônomos/astrólogos pediam inspiração.
Calíope (bela voz), a primeira entre as irmãs, era a musa da eloqüência. Seus símbolos eram a tabuleta e o buril. É representada sob a aparência de uma jovem de ar majestoso, a fronte cingida de uma coroa de ouro. Está ornada de grinaldas, com uma mão empunha uma trombeta e com a outra, um poema épico. Foi amada por Apolo, com quem teve dois filhos: Himeneu e Iálemo. E também por Eagro, que desposou e de quem teve Orfeu, o célebre cantor da Trácia.

E a Julinha!!!!!!!

Suas moradas, normalmente situadas próximas à fontes e riachos, ficavam na Pieria, leste do Olimpo (musas pierias), no monteHelicon, na Beocia (musas beocias) e no monte Parnaso em Delfos (musas délficas). Nesses locais dançavam e cantavam, acompanhadas muitas vezes de Apolo Musagetes (líder das musas - epíteto de Apolo). Elas eram bastante zelosas de sua honra e puniam todos os mortais que ousassem presumir igualdade a elas na arte da música. O coro das musas tornou o seu lugar de nascimento um santuário e um local de danças especiais. Elas também freqüentavam o Monte Hélicon, onde duas fontes, Aganipe e Hipocrene, tinham a virtude de conferir inspiração poética a quem bebesse de suas águas. Ao lado dessas fontes, as Musas faziam gracioso movimentos de uma dança, com seus pés incansáveis, enquanto exibiam a harmonia de suas vozes cristalinas.

Parabéns, Musaaaaa!!!!

(A inspiração do tantaprosa)


Contim de Aniversário

Há um pouco mais de dois mil anos atrás...

- Ele nasceu, Senhor... Senhor?
- Hum? Ah... É menino, né?
- Sim, mas, não sabia? Pensei que o Senhor tivesse escolhido um menino pra essa missão tão importante pra nós
- Na verdade não, Gabriel, eu preferia uma mulher. Mas Aquele que tem mais contato com os homens me aconselhou que uma mulher nos tempos em que estes homens estão não seria ouvida. Na verdade segundo Ele, até um filho meu terá dificuldades para ser ouvido. Tanto que eu concedi a Ele o direito de passar ao meu filho alguns truques, que serão chamados pelos crédulos de “Milagres”. Sempre difíceis esses homens, sempre interessantes.
- Mas Senhor, Ele o está ajudando ainda? Ele não ficou triste com o senhor quando soube da imagem que Ele terá na cabeça dos homens?
- Ele que deu a idéia, Gabriel. Você sabe que ele sempre foi apaixonado pelos Homens de forma geral. A importância que Ele terá no imaginário coletivo a partir do que o Meu filho fizer na Terra o transformará na Minha antítese, em um ser que será para os mortais quase tão poderoso quanto eu, ou melhor, quanto eles julgam ser eu poderoso. Ele terá liberdade para interceder aos homens muito mais depois do meu filho, que ele preferiu que fosse homem... Mas já tenho outro plano...
- Para o seu filho? Pretende enviar outro? Outra? Mas e...
- Calma, meu.
- ...
- Eu tenho planos para o dia seguinte o nascimento do meu filho, para as minhas filhas... Vai ser assim: O Meu filho levará a Minha palavra para todo o mundo. As mulheres nascidas um dia depois da data de nascimento e aniversário do Meu filho serão a inspiração à quem tiver o que mostrar aos seres da Terra. Elas serão como as Musas de Apolo, assim como será Madalena para o meu filho. Aliás sempre achei que Zeus e Apolo eram caras com boas idéias, devia aproveitar mais coisas deles.
- Certo, entendi. Mas não existe a possibilidade dessas mulheres se destacarem demasiadamente entre os outros homens, despertando entre eles sentimentos mais materialistas e mesquinhos?
- Pois é. Aí que está o charme da coisa. Para que essas mulheres não se destaquem demasiadamente, assim como você bem colocou, meu caro Gabriel, essa qualidade será a elas inerente e não controlável. O resultado disso será que nem elas saberão ou acreditarão no próprio talento. Será como um desafio aos homens descobrir a força bruta que estará adormecida nessas mulheres. E um desafio a elas mesmas descobrir o quanto elas podem ser inspiradoras.
- É. Bem pensado, Senhor. Vai querer um anúncio para isso também?
- Não, Gabriel. Deixa no gelo.
- ???
- Ai... Esquece.
- Senhor, permita-me somente mais uma pergunta, por favor.
- Hum.
- Se o Senhor é um Deus único, que história era aquela de Zeus?
- Ah meu caro Gabriel, você tem ouvido demais as estórias dos homens. Agora deixe-me aqui, a admirar o meu filho, e as minha filhas.

Quarta MeiaEntrada - Raspa do tacho

Na Lista dos Melhores do Ano de 2007 faltou esse aqui:


Por dois motivos o disco do Radiohead entra na lista:

1- Os caras fizeram a melhor jogada de propaganda do ano: Soltaram o disco na internet primeiro, deixaram o público pagar quanto quiser e baixar, no mais puro estilo Casas Bahia (QUER PAGAR QUANTO???), porque eles sabiam que tendo a fama que eles tem, logo uma gravadora iria contrata-los distribuir o disco. Com isso eles tiveram, pela iniciativa uma cobertura muito maior da imprensa do que teriam se tivessem feito o lançamento de "In Rainbows" de forma convencional, além de ficarem bem na foto com o público, que em sua grande maioria considerou o lançamento exclusivo pela rede como uma coisa de vanguarda, como se fossem radicais contra o mercado das gravadoras, coisa que não são. Dois coelhos numa paulada só.

2- O disco é bom pra caralho, um dos melhores dos caras, eles acharam o estilo deles, finalmente.

Sim eu também baixei na internet, mas não pelo site da banda. Rá!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Um fósforo nas trevas

Alguns meses atrás, o alerta já havia sido dado, quando o MASP teve a luz cortada por falta de pagamento. No entanto, somente depois que se roubaram um Picasso e um Portinari a imprensa jogou um pouco de luz sobre a obscura situação do museu. Um grupo de sócios o administra, e ninguém sabe quem são. Recebem dinheiro da prefeitura - R$ 1,7 milhão por ano - sem que se saiba como aplicam. Diz Adib Jatene, presidente do conselho consultivo, que o museu não é um órgão público, e que "os sócios são os donos do museu". Resumo típico das elites ilustradas de nossa pátria mãe gentil. Privatizam-se os lucros e socializa-se o prejuízo. Tudo sob as barbas do poder público, que agora promete cobrar da gestão do museu maior transparência. Ao calor da hora, promete-se pressão maior, que deve durar enquanto houver divulgação na mídia, ou seja, vai durar a queima de um fósforo.

Feliz Natal a todos e até 2008!

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007



Ao lermos Terra Sonâmbula, observamos que as duas histórias que se cruzam ocorrem em ambientes distintos. A história de Tuahir (um velho) e Muidinga (uma criança) ocorrem em uma estrada em que a mudança dos cenários é observada de tempos em tempos por Muidinga. O velho Tuahir não consegue notar essa transitoriedade dos cenários, mesmo estando os dois parados dentro de um autocarro (machimbombo) incendiado, Muidinga percebe que há mudanças.
“Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam.” (p.10). Essa composição inicial do livro é importante para explicar ao leitor que Mia Constrói seu romance em um cenário conturbado. As afirmações do narrador se desenrolam com intuito de caracterizar o velho, o menino, o local em que estão e o tempo em que estão vivendo.
“O jovem se chama Muidinga. Caminha a frente desde que saíra do campo de refugiados” (p.10). Com o passar das páginas do romance, podemos observar as características da escrita de Mia Couto. Entendemos que trata-se de um romance que apresenta como pano de fundo Moçambique e os acontecimentos daquela realidade, com intuito de apontar os valores existentes nesse período conturbado do pós-guerra colonial.
Enquanto Muidinga e Tuahir esparramam-se num autocarro queimado (machimbombo) para descansarem e fazerem de lá a morada ideal contra emboscadas na estrada, encontram dentro do autocarro cadáveres de uma explosão recente e são obrigados a enterrar os mortos. Muidinga acha uma mala ao lado do corpo de um dos mortos experimenta abri-la com auxílio do velho Tuahir e encontram um caderno de anotações do jovem Kindzu. O caderno apresenta-se em primeira pessoa, diferentemente da história de Muidinga e Tuahir que apresenta uma narrador em terceira pessoa que vai tramando e colocando o leitor a par de tudo.
Os cadernos de Kindzu fazem os capítulos do livro e vão influenciando os leitores Muidinga e Tuahir tanto até chegar ao ponto em que as duas histórias se cruzam e passam a existir no mesmo cenário.
Kindzu inicia seus cadernos coma descrição de lugares como: aldeia em que viveu sua infância levando relações familiares agradáveis. Com sua partida dessa aldeia na tentativa de tornar-se um naparama (guerreiro feiticeiro) descobre personagens, com os quais se relaciona em diversos cenários.
Observamos portanto que Kindzu inicia uma caminhada embusca de algo, uma fuga de sua realidade para atingir seu objeto almejado, busca o seu objeto de valor: ser um naparama. Kindzu tem o desejo de tentar acabar com a guerra como esclarece a seu falecido pai (Taímo) numa conversa rodeada de misticismos.


Vale a pena conferir, andaram me dizendo sobre o filme baseado no livro, sei não...é melhor ler o romance.
É bom esclarecer para quem não conhece Mia Couto, que estamos falando de um baita escritor moçambicano branco e que é confundido algumas vezes por mulher, pelo nome que carrega.
Reza a lenda que mandaram um vestido de presente pelos seus excelentes textos e ele enviou uma carta dizendo "muito obrigado minha mulher vai adorar" (hahaha)...Se der ainda hoje falo de um outro romance dele, de qualquer forma semana que vem tem mais.


Mia Couto de perfil.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Quarta MeiaEntrada – Vilões e Heróis



Aproveitando o mote sobre anti-heróis que lancei solitariamente na semana passada, resolvi fazer uma varredura mental sobre heróis e vilões que eu não esqueci. A primeira impressão que eu tive disso (e creio que essa é uma impressão coletiva) foi que heróis substancialmente heróis, cristãos, absolutamente corretos e dogmáticos são facilmente esquecidos, a não ser que façam ponte para um antagonista que seja memorável. Quem chama mais atenção em “Matrix”, o escolhido Neo ou o obsessivo Agente Smith? Por muitas vezes durante toda a trilogia, o vilão era muito mais humano do que o pobre e insosso mocinho e essa era a sua graça. Bons cineastas já perceberam que um bom protagonista de uma aventura não é uma pessoa totalmente correta, muitas vezes é muito mais interessante uma pessoa que tem em sua cabeça mais problemas do que soluções. O policial feito por Al Pacino em “Fogo Contra Fogo” é um herói tão perturbado quanto o vilão feito pelo Robert De Niro, aliás, o grande mérito desse filme (que é a obra prima do Michael Mann) é colocar o herói e o vilão em situações onde ambos são praticamente iguais, mas cada um de um lado da lei e, tendo além disso uma vida como qualquer outra pessoa, no caso específico como qualquer outra pessoa perturbada. Isso gerou uma das grandes cenas do Cinema dos anos 90, quando o Al Pacino, já em grave crise com sua mulher ao chegar na sua casa de manhã vê o amante comendo torradas, usando o seu roupão e assistindo a pequena televisão de cozinha. Ele vai ao amante do lado da mulher e diz “Quer comer a minha mulher na minha casa? Não me importo. Quer ficar aqui até de manhã e comer torradas com a mulher? Não me importo. Quer usar o meu roupão? Não me importo. Agora, assistir a porra da minha TV sem me avisar não!!!” Ele pega a TV e vai embora da casa.

Um outro herói que eu não esqueço é o Ethan Edwards, O Cowboy solitário que parte numa busca obsessiva a sua sobrinha, raptada pelos índios. O personagem de John Wayne nesse filme é a princípio o típico herói estadunidense dos filmes de faroeste; Solitário, implacável, macho, matador de índios. O que fará esse herói quando, após anos de buscas, encontrar sua sobrinha já adolescente (ela era uma criança quando raptada) vivendo entre os índios e defendendo-os? O que o tornará herói agora? A vingança contra quem agora é a família de sua sobrinha? Só um dos maiores mestres da história do cinema como John Ford poderia trazer essa angústia do Herói de forma tão inteligente, e fazer escola. O filme no caso, indispensável, chama-se “Rastros de Ódio” (The Searchers).

Um causo do John Ford

Para as filmagens de “Rastros de Ódio”, Ford chamou um alemão para a direção de fotografia. Ao chegar no estúdio, o tal sujeito foi logo avisando que americanos nada entendiam de cinema de arte e que para esse faroeste, segundo ele “gênero menor”, trabalharia como num filme do Ingmar Bergman. A resposta de Ford veio em duas etapas: A primeira logo ao ouvir o chilique do alemão foi: “Quem é Ingmar Bergman? Nunca ouvi falar”. A segunda veio no dia seguinte. Ao chamar o diretor de fotografia para o seu escritório, Ford disse: “Eu lembrei quem é esse tal de Bergman. É esse aqui né?” E mostrou uma entrevista concedida pelo Bergman a uma revista francesa, onde ele dizia que o melhor diretor que ele já viu no mundo se chamava John Ford.

Discão da semana





Metallica: St Anger

Bom para se ouvir na expectativa de um terremoto, seja ele de qualquer ordem

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O Clube do Silêncio

A cobertura das eleições nacionais na Argentina e na Rússia vieram acompanhadas do tradicional “raio-x” econômico dos países, com destaques para os números do PIB, crescimento, reservas e por aí afora. Kirchner e Putin saíram vitoriosos dos pleitos. O primeiro elegeu a mulher e o segundo conseguiu maioria no Parlamento. As análises mais comuns relacionam as vitórias ao forte crescimento econômico verificado nos últimos anos. Entretanto, algo mais une esses dois países além dos dólares provenientes de commodities: o calote. Em 1998 a Rússia decretou moratória e só voltou a pagar a dívida com o Clube de Paris em 2006. 8 anos devendo. O caso argentino foi mais dramático. Envolveu congelamento de contas (corrallito), manifestações de rua (panelazos) e deposição de presidentes. Decretada a moratória em 2001, a Argentina teve a dívida renegociada somente em 2005, impondo condições aos credores. Em alguns casos, pagou apenas 25% do que devia. A turma de Davos ensaiou um choramingo, mas se contentou com a banana que recebeu dos hermanos. Não fosse o calote, o Estado e as empresas dificilmente sustentariam o crescimento que Argentina e Rússia presenciaram. Basta verificarmos que a maioria dos analistas concorda que, se o Brasil reduzisse a meta de superávit primário, teria condições de crescer muito mais. Só que a informação do calote e de seu desdobramento poucas vezes é assunto de destaque. Quando é, o tom é de crítica. O Clube de Paris agradece ao Clube do Silêncio.

Rumo a 2010

Manchete interna do caderno dinheiro da Folha de 12/12/2007: “Serra prevê investir R$ 41,5 bi até 2010”.
Só faltou a tarja de Informe Publicitário. Crítica do ombudsman da Folha: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ombudsman/criticadiaria/ult10000u354640.shtml

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Sexta Literária, é o Lima na cabeça.

(O acadêmico Lima Barreto: do jeito que a academia gosta)

(Lima Barreto "louco alucinado"?)

(Nascimento de Lima Barreto - não sei por qual artista plástico)


"País rico

Lima Barreto

Não há dúvida alguma que o Brasil é um país muito rico. Nós que nele vivemos; não nos apercebemos bem disso, e até, ao contrário, o supomos muito pobre, pois a toda hora e a todo instante, estamos vendo o governo lamentar-se que não faz isto ou não faz aquilo por falta de verba.
Nas ruas da cidade, nas mais centrais até, andam pequenos vadios, a cursar a perigosa universidade da calariça das sarjetas, aos quais o governo não dá destino, o os mete num asilo, num colégio profissional qualquer, porque não tem verba, não tem dinheiro. É o Brasil rico...
Surgem epidemias pasmosas, a matar e a enfermar milhares de pessoas, que vêm mostrar a falta de hospitais na cidade, a má localização dos existentes. Pede-se à construção de outros bem situados; e o governo responde que não pode fazer porque não tem verba, não tem dinheiro. E o Brasil é um país rico.
Anualmente cerca de duas mil mocinhas procuram uma escola anormal ou anormalizada, para aprender disciplinas úteis. Todos observam o caso e perguntam:
- Se há tantas moças que desejam estudar, por que o governo não aumenta o número de escolas a elas destinadas?
O governo responde:
- Não aumento porque não tenho verba, não tenho dinheiro.
E o Brasil é um país rico, muito rico...
As notícias que chegam das nossas guarnições fronteiriças, são desoladoras. Não há quartéis; os regimentos de cavalaria não têm cavalos, etc., etc.
- Mas que faz o governo, raciocina Brás Bocó, que não constrói quartéis e não compra cavalhadas?
O doutor Xisto Beldroegas, funcionário respeitável do governo acode logo:
- Não há verba; o governo não tem dinheiro.
- E o Brasil é um país rico; e tão rico é ele, que apesar de não cuidar dessas coisas que vim enumerando, vai dar trezentos contos para alguns latagões irem ao estrangeiro divertir-se com os jogos de bola como se fossem crianças de calças curtas, a brincar nos recreios dos colégios.
O Brasil é um país rico... "


-.-.-.-.-

As ironias e críticas socias estão às soltas e o Brasil é um país rico (hahaha).
Continuando as postadas sobre o carioca Afonso Henriques de Lima Barreto, aproveito para fixar imagens sobre o escritor que não deixava barato pra ninguém. Além de "O Homem que sabia Javanês", acompanhem "Bruzundangas", um dia falo mais sobre essa obra...
Nesta semana que passou informalmente realizamos um bate-papo em sala de aula sobre a foto e conseqüente imagem veiculada no Jornal Folha de São Paulo quando do relançamento da coleção de Lima Barreto. A foto "apresentada" no caderno Ilustrada era do "louco" Lima Barreto com olhar perdido, alucinado pelas mazelas de uma sociedade burocrata, preconceituosa, capitalista e opressora...
Seria mais fácil naquele momento impregnar pela mente do coletivo imaginário das pessoas a foto do escritor como um "ser isolado da sociedade", pois é, assim que fora visto na tal reportagem e pela sociedade burguesa de sua época.
Na dita maior Universidade do Brasil, não analisamos ou se quer discutimos em sala de aula sobre a obra do escritor carioca, resta-nos pesquisar nas bibliotecas obras escondidas do escritor "pedra no sapato das elites".É bom lembrar que Lima Barreto fez o caminho contrário: Acadêmico, funcionário público e decidiu meter a boca no mundo...Seu fim foi num hospício, visto como louco por toda uma sociedade...Penso que louca era a sociedade e quem não curte seus escritos. Penso que louco é quem não se afeta co mseus textos ou pensa em algo de novo...Ele tinha razão, por isso mais Lima Barreto no tantaprosa pra vosmicês se esbanjarem de tanta crítica social.
-.-.-.-.-

A parte final da vida de Lima Barreto:

1912 - Lima Barreto colabora no jornal A Gazeta da Tarde, onde publica, além de relatos folhetinescos, a sátira Numa e a Ninfa.
1914 - Venceslau Brás chega ao poder em meio a grave cri­se econômica. Em agosto, Lima Barreto é recolhido pela primeira vez ao hospício.
1916 - Abusando do álcool e levando uma vida desregrada, é internado para tratamento de saúde, interrompendo sua atividade profissional e literária.
1917 - Crises e greves operárias alastram-se pelo país. Li­ma Barreto atua na imprensa anarquista, apoiando a plataforma libertária dos trabalhadores.
1918 - Por ter sido considerado "inválido para o serviço público", e aposentado de seu cargo na Secretaria da Guerra.
1919 - Epitácio Pessoa assume a presidência da República. Aparece o romance Vida e Morte de M. F. Gonzaga de Sá. Lima Barreto é novamente recolhido ao hospício.
1922 - Semana de Arte Moderna em São Paulo; Lima Barreto morre em sua casa, no Rio de Janeiro, de colapso cardíaco.
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Não deixem de conferir os artigos publicados em "Bagatelas" e "Marginália" é lá que o coro come...O cara não tinha medo nem de falar mal da sombra dele...Outro conto interessante é "Nova Califórnia" e "Universidade" ainda bem que tive essas influências agradeço a última e mais nova importância da minha vida por tais influências...Fico imaginando o que Lima Barreto falaria sobre: CPMF, mensalões, educação básica, educação assistencialista, sucateação da Universidade Pública, corrupção no futebol, imagine o que ele falaria sobre as políticas públicas de incentivo a cultura e literatura...minha nossa, acho que nem falaria...tomaria uma no bar, seria melhor, não vale nem a pena.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Política Bang Bang

Por que o Governo foi derrotado em primeiro turno para aprovação da CPMF? Porque achou que, com os escândalos de corrupção rondando o Legislativo, ele, executivo, poderia facilmente impor sua vontade. Grande engano! Lula e seus ministros deveriam compreender melhor a sociedade que representam, talvez assim não subestimassem tanto seus adversários, chegando ao cúmulo de propor votação antes de negociação. O PSDB e o DEM não foram muito inteligentes na manobra política, aliás nem precisaram! Qualquer idiota sabia que a população estava descontente com o imposto, e mesmo ele sendo necessário para a manutenção dos gastos sociais, aboli-lo significaria ganhar as graças da opinião pública. Claro que a derrubada da CPMF não foi algo simples de se fazer, exigiu grandes esforços e muitas ameaças para desvirtuar senadores governistas e manter os opositores na chapa da oposição. Mérito dos DEM, pois o PSDB já estava (como sempre) pendendo a uma posição neutra, “em cima do muro”, ocorrendo rachas aqui e ali, algo natural de um partido que não tem mais um projeto a seguir. A mídia deu o mérito ao senador Arthur Virgilio (AM) pela coesão dos tucanos, mas eu prefiro dar crédito a algo muito mais eficaz em Brasília, a ameaça! Lançada pelos DEM na votação da CPMF, a coisa se constituía assim: votar pela prorrogação do imposto seria ir contra o partido, logo um processinho poderia se desencadear e o tal político perder seu maravilhoso cargo e todas as mordomias parlamentares. Do outro lado o governo ameaçava dizendo que, aos que barrassem a CPMF, fossem punidos com diminuição do orçamento nos estados que governassem. Escolha simples a se fazer: ou perder o cargo ou ter menos dinheiro para investir na população; derrota certa para o Governo! Quem sabe da próxima vez o Lula não aprende que as Câmaras dão prioridade sempre a si mesmas, em detrimento de “Bolsas Famílias”, Saúde, Educação, saneamento básico e etc.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

HOJE VAI TER UMA FESTA!!!!!!!!

SABEM POR QUE?????
SABEM????
PORQUE HOJE É ANIVERSÁRIO DO MINISTRO PUSKAS!!!!!!!!!!

Queimem os fogos!!!! Salva de tiros!!!!! Estourem os Canhões!!! Toquem a Abertura 1812!!!!!

Eis aqui pra vocês uma breve galeria de Fotos do nosso querido e idolotrado ministro.
Jovem, com seu tambor polonês

No futebol se exercitando
(reparem na camisa estaile do Real Madrid)


No seu Ministério, entre um crítica e outra...


Parabéns cara!!!!!!!!!!!!
Felicidades!!!!



Quarta MeiaEntrada - Enquanto isso na TV...

Hugh Laurie, aka Doc House


Se vocês repararem, ultimamente aqueles filmes de roteiro mediano com orçamento mediano e atores medianos, de onde vez ou outra saíam boas histórias e grandes atuações de quem ainda não tinha tido a liberdade que esses filmes proporcionam ao seu elenco, acabaram. O cinema tem reservado 99% do seu espaço a grandes produções e produções independentes e/ou estrangeiras. Os filmes “menores” que eram feitos pelas grandes produtoras há até uns 10 anos atrás parecem eminentemente fadados a extinção, por culpa da TV.

E isso é ruim? Do meu ponto de vista não. Porque os produtores de TV resolveram dar um salto a frente desses filmes acima citados e criaram séries que ficam no limite do cinema, muitas vezes com orçamentos semelhantes, e que o telespectador pode ver sem sair de casa. Um bom exemplo disso: Em vez de ir a uma locadora ou a um cinema para ver um policial mediano, gênero onde muitas vezes se acham boas histórias, o telespectador pode ficar em casa e aguardar até a hora do próximo C.S.I., onde muitos bons roteiros são lançados, principalmente na sua vertente original (nada contra o CSI Miami, ou o Nova York, mas prefiro o de Las Vegas). É claro que os roteiros novelescos ainda proliferam na telinha e fazem sucesso entre as massas, caso do ridículo “Grey’s Anatomy”, que mesmo sendo fraquinho, fraquinho, faz parte da linha da evolução do Médico-Herói na tela pequena, que começa com o bonitão George Clooney pagando uma de pediatra em “E.R.” (segundo a Globo, “Plantão Médico”), ele e os médicos que só preocupam com os pacientes, heróis acima de quaisquer suspeitas, segue com os doutores que são uma espécie Deuses-Fofoqueiros em “Grey’s, uma mistura de “Barrados no Baile” com “E.R.”. Aliás, me dando a liberdade de uma digressão, “Barrados" é outra série que faz parte de uma linha do tempo de séries "jovenzinhas" que vai culminar em “O.C.”, caso vocês estejam interessados em saber a minha opinião sobre essas séries, digo que prefiro “Malhação”, acho que é o suficiente pra vocês entenderem a gravidade, né?. Mas voltando aos médicos, eis que, nessa onda de séries que são como filmes, um cara chamado Bryan Singer resolve bancar uma nova série sobre o dia-dia de médicos num hospital. O Bryan, pra quem não sabe é um cara que começou justamente nesse filão de filmes medianos, com o notável (porém superestimado) “Suspeitos” e depois, devido ao sucesso, ganhou a tarefa dificílima de adaptar a HQ “X-Men” para o cinema, e a fez com maestria nos dois filmes da série que dirigiu. Após isso e uma escorregadinha em “Super-Homem”, o cara resolveu ir para a TV bancar a tal série de médicos e talz... Só que ele resolveu inovar: Tendo em vista o que tem sido tendência no cinema e não na TV, apostou num Anti-Herói como protagonista, ou seja um médico que não se preocupa com os pacientes, nem com os outros, só com a doença em si e sua cura, o cúmulo do narcisismo de certa forma, e também muito mais realista. Tinha assim, ponto de partida para um bom roteiro em mãos, e precisava de um bom ator. Que tal um inglês totalmente fora dos padrões do estereotipo do Galã convencional (viu que jeito legal de dizer FEIO?), e que tinha tido a sua melhor oportunidade no cinema no filme “Stuart Little”?

Então... Alguém? Alguém?

Hugh Laurie era o alguém necessário para ser o protagonista dessa empreitada. Seu personagem? O doutor Gregory House, cujo sobrenome deu título a série. Um médico egoísta, arrogante, inescrupuloso, sádico, que acredita que todos os seus pacientes por serem humanos mentem (por sinal, mentir é uma das coisas que House mais faz durante a série) e que parte de princípio de tentativa e erro para curar seus pacientes, pra piorar na maioria dos casos, acerta.

Pois um personagem tão dúbio e tão bem interpretado (acreditem, a atuação do Hugh Laurie é quase perfeita) como o doutor House, aliado a bons roteiros, que não são repetitivos e fazem (por incrível que pareça) muitas vezes reflexões acerca do que é um comportamento correto em sociedade e quais os seus limites fazem dessa série um dos maiores sucessos da TV estadunidense. E ela (a série, não a TV estadunidense) é muito boa mesmo. Aqui a gente pode ver ou pela Universal (no cabo) ou pela Record.

Em vez de bom filme, boa série.

Discão da Semana

Tom Jobim é assim: Você ouve e paga um pau. Grandes letras com figuras nacionais, arranjos com uma qualidade e complexidade que estão acima de qualquer músico que já surgiu no Brasil.
Tá no meu Toca-CD nessa semana.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Terça mochilão

Hoje apresento um texto inédito do nosso correspondente (convidado!) em Israel, Maurício Schuartz. Vez ou outra teremos textos lúcidos desse brasileiro que passou o último ano em Israel, viu muita coisa, sentiu outras tantas e está a desmistificar certas visões sobre os velhos conflitos na região. Divirtam-se.

No meio do caminho

Não é que ninguém tenha ouvido falar. Nem que ninguém saiba, na verdade isso que eu vi está em qualquer jornal, é manjado e talvez nem seja assim tão diferente do que acontece todos os dias aqui do lado, no Capão Redondo. Mas é que eu fui longe pra ver o que estava acontecendo. Eu cruzei muros, medos e checkpoints e coloquei o meu avantajado nariz judaico no solo palestino, Ramallah pra ser mais preciso.
A distância de Jerusalém não é certamente o motivo pelo qual judeu nenhum que eu conheço jamais tenha posto os pés lá. "O que você foi fazer lá?" Se eu não fosse até lá como é que eu iria saber. E não foi uma vez, foram três. Primeiro por curiosidade, depois por uma quase-necessidade (não seria também curiosidade?) e por último porque eu queria mais (curiosidade pura!). Mas até que há um certo argumento judaico pra ir a Ramallah: lá tudo é 25% mais barato que em Israel. Mas os israelenses não podem cruzar pra lá. E a desculpa do bom negócio - a que sempre colava até entre os mais radicais - não justificava tantas idas e vindas. É que a simples peregrinação à Terra Santa me parecia óbvia demais. E foram esses dias aí quando eu passei medo, euforia e matei os meus preconceitos que fizeram toda a diferença. Por que esse testemunho ocular vale milhares de editoriais de internacional. O mapa do caminho, o controle de Jerusalém, os assentamentos, os acordos de paz, tudo é menor quando sente o ódio no olho, tensão na rua e a saudosa hospitalidade do oriente médio te quebra as idéias pré-concebidas de um povo amargo. Café em Ramallah é lei! Passar o tal muro da Cisjordânia dói e muito. É que brasileiro que se preze sabe bem que muro não resolve problema nenhum. Só isola uma realidade que é inevitável. E checkpoint é curral humano. Parece que tudo leva a uma desumanização constante, e a repressão chega aos níveis mais doentios. Fotos? Proibido! E descobri do jeito duro, com uma soldada de dedo no gatilho mandando uma menina apagar as fotos dela. Se ninguém vir, não aconteceu.
E a violência traumatiza, amadurece e depois vira só aquela pedra no meio da minha cabeça. Não da pra dizer que eu não estive lá. A verdade é que dificilmente me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha um checkpoint, tinha um checkpoint no meio do caminho.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Covardia no Sebo

Perto de onde moro, no bairro da Freguesia do Ó, existe um sebo que freqüento com certa regularidade. No último sábado, encontrei um pacote com dois livros de Paulo Francis, “Cabeça de Negro” e “Cabeça de Papel”, a R$ 18,00. Na contracapa, Daniel Piza e Diogo Mainardi indicavam a leitura. Para minha sorte, quando estava na iminência de efetuar o pagamento, eis que avisto “A Regra do Jogo”, de Cláudio Abramo, a inacreditáveis R$ 8,00. Orelha de Jânio de Freitas e prefácio, maravilhoso, de Mino Carta. Coloco os 3: Mino, Cláudio e Jânio como a santíssima trindade do jornalismo brasileiro. Se alguma coisa presta na imprensa nativa, muito se deve a eles. Compará-los a Daniel Piza, Diogo Mainardi e Paulo Francis é covardia. Considerações sobre o livro em breve.
Entrevista bacana com o Janio no site http://www.fazendomedia.com/novas/politica210905a.htm
"Os meios de comunicação manipulam mesmo a opinião pública. Manipulam, não adianta dizer que não. Independente ou não-independente, vendido ou não-vendido, manipulam sim. Queira ou não queira, manipulam."

Agora, compara com a do Diogo Mainardi:
http://www.digestivo.com.br/entrevistas/imprimir.asp?codigo=18
"A verdadeira liberdade de expressão está na Veja"
"Se quem me chama de “nova direita” é o esquerdismo lulista, tudo bem: eu me enquadro."

Referendo na Venezuela

Jornal, jornalzinho meu, quem é mais democrático do que eu?
Um presidente que submete uma proposta de reeleição a referendo popular ou aquele que a conquista com a compra de votos de parlamentares?

Dentre os diversos problemas que a cobertura do referendo na Venezuela apresentou, destaco dois. Primeiro, embora importante, não se tratava apenas da reeleição de Chávez. A impressão geral que se tem é que o referendo tratava somente disso. Contudo, dentre as demais propostas, uma realmente ousada e historicamente importante para o pensamento de esquerda tratava da criação de comunas, espécie de conselhos populares dotados de orçamento liberado pelo Executivo. Um paralelo com a idéia de orçamento participativo (que o PT nunca mais encampou) seria interessante. Segundo, que, logo após a vitória da oposição, por estreita margem de votos (50,7 % x 49,29%), logo vieram as reportagens com a opinião da população a respeito do resultado, nas quais predominaram os depoimentos de quem votou pelo “não”, numa editorialização velada do acontecimento.
O referendo da Venezuela abarcou diversos pontos que, se abordados, suscitariam um debate bastante interessante a respeito da participação política e das relações entre sociedade civil, classes sociais e poder. Pena que se privilegiou apenas um tópico.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Porque hoje é Sábado - alheio

Achei esse texto maravilhoso. Reforço o Tio Fabio, um dos motivos para nos desiludirmos tanto é que nos iludimos demais.

Esse é o texto que eu queria ter escrito pro Tanta, nessa coluna semanal que tá sempre tentando, mas acho que nunca consegue.

Leiam que entenderão.


















(foto muito apropriada: Federico Fellini & Giulietta Masina)


Texto: Fábio Hernandez

Outro dia eu estava falando sobre o final de um dos meus filmes favoritos, Annie Hall (Noiva Nervosa, Noivo Neurótico; ou vice-versa), de Woody Allen. Ah, não estava? Não faz mal. Falo agora. Poucos filmes, acho, conseguiram captar com tanta riqueza, tanta intensidade a dificuldade de um relacionamento. No final, abandonado por sua mulher (o melhor papel de Diane Keaton), o protagonista (ele, claro: Woody) fala sobre os relacionamentos. E usa uma parábola psicanalítica.


É mais ou menos assim: um homem que acredita botar ovos vai ao psicanalista. Este tenta convencê-lo do absurdo que é pensar que bota ovos. O homem até que concorda, mas diz que não vai mudar. “Por quê?”, pergunta o psicanalista. “Porque não posso viver sem os ovos.” Os ovos, no final do filme, fazem as vezes dos relacionamentos. A gente sabe que são absurdos, mas não consegue viver sem eles. (Me perdoem se errei alguma coisa nessa transcrição cinematográfica de cabeça. Prometo, em todo caso, ver o filme de novo antes de voltar a falar dele.)


Ah, antes que esqueça: Diane Keaton cantando Seems Like Old Times, num barzinho de Manhattan, é uma cena absolutamente maravilhosa. Seems like old times/Having you to walk with. (Parece como nos velhos tempos, ter você andando a meu lado.) Mas eu queria falar é da dificuldade dos relacionamentos. Meu Tio Fabio, um homem sábio do interior, costuma dizer o seguinte: “Uma das razões pelas quais nos desiludimos tanto na vida é que nos iludimos demais”. Simples e irretocável, como tudo que Tio Fabio fala. Aquilo vale para tudo: ilusões demais, desilusões demais. Nas relações amorosas a coisa é exatamente assim.




Costumamos iniciar cada romance com a expectativa de um conto de fadas. Nada menos que isso pode ser satisfatório: um conto de fadas em que todos terminemos felizes para sempre. Em que todos somos, eternamente, príncipes e princesas. Queremos do outro que resolva todos os nossos problemas. Todas as nossas frustrações. Que preencha todos os nossos vazios. E, quando isso não acontece, nos sentimos imensamente fracassados. E projetamos no outro toda a responsabilidade pelo fracasso. É o começo do inferno.




Eu diria o seguinte. Um bom passo para tentar um relação melhor é diminuir as expectativas. Contos de fada não existem. Mas existem romances divertidos, intensos e marcantes. Que não precisam necessariamente durar uma vida inteira. Pretensões menores geram decepções menores. Quando vejo um amigo dizer que está vivendo um legítimo conto de fadas, pressinto logo o tombo. Raramente me enganei.




Calma lá. Não estou fazendo uma ode à acomodação. Não estou sugerindo a ninguém que se conforme com uma relação morna como aquela água que você esquece fora da geladeira no verão. Isso é torpor, não romance. Apenas estou recomendando que a dose de expectativa se razoável. Razoável quer dizer: que caiba dentro dos limites da razão. Não da ilusão.




O resto é tentar. Considero “tentar” um dos verbos mais lindos do idioma: denota esforço, sacrifício, combate. Mais de uma vez pensei que meu epitáfio bem que poderia ser este: “Fabio Hernandez – Ele tentou”. Tentar. Sempre tentar, ainda que tantas vezes, em certas noites escuras e frias, tenhamos vontade de dizer: chega, chega, chega. Mesmo porque – bem, nós não podemos viver sem os ovos, podemos?

Nove Verdades Incontestáveis

Me disseram por aí que nos meus posts eu tô sempre choramingando:

- às vezes você dá uma choradinha (dá ou não dá???)

Eu ando escrevendo uma série de poemas chamados "Verdades Inconvenientes", e achei coincidência isso que encontrei em outro blog, que aqui reproduzo.

Pra não choramingar mais, aí vai um texto de outra choraminguenta!

Texto: Luciana von Borries
Nove Verdades Incontestáveis

1. O tempo não perdoa ninguém, nem a Luma de Oliveira.
2. Nadica nesta vida é para sempre, por pior que hoje possa parecer.
3. Você nunca conhece um homem até vê-lo enfrentar um problema de verdade.
4. Apesar de todas as fotos do Orkut tentarem provar que não, no fundo todo mundo é inseguro.
5. Nada como uma grande crise ou dificuldade pra descobrirmos quantos amigos realmente temos.
6. Os maiores problemas da vida nunca poderão ser resolvidos com dinheiro.
7. Quanto menor é a expectativa, maior é a felicidade.
8. A maneira como você enxerga o mundo é tão peculiar quanto o seu paladar. A droga é que a gente sempre esquece disso numa discussão, em vez de pedir logo o cardápio.
9. As coisas tendem a ser exatamente do jeito que começaram. Comece o projeto de uma casa com erros e ela sairá toda torta. Comece uma relação com mentiras e nunca haverá confiança. Comece escrevendo um texto sobre verdades absolutas e logo vai aparecer quem queira contestá-las. Então fiquem à vontade pra discordar de tudo. Afinal, este é um Arquivo aberto, apesar das minhas inseguranças.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

ANTI-EVASÃO

(Ovídio Martins)

Pedirei
Suplicarei
Chorarei

Não vou para Pasárgada

Atirar-me-ei ao chão
e prenderei nas mãos convulsas
ervas e pedras de sangue

Não vou para Pasárgada

Gritarei
Berrarei
Matarei

Não vou para Pasárgada

Trata-se de um poema do escritor Ovídio Martins de Cabo-Verde. Momento literário para repartir com vocês, a vida é aqui e agora , não em Pasárgada. Diálogo direto com Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros.

Nossos oferecimentos...RAVE CULTURAL

CASA DAS ROSAS É REINAUGURADA COM RAVE CULTURAL

Com realização da Secretaria de Estado da Cultura e produção da APAA (Associação Paulista dos Amigos da Arte), a Casa das Rosas reabre neste sábado, dia 8, a 2ª edição da Rave Cultural. Com 18 horas de programação totalmente gratuita, o evento ocupará todos os cômodos do casarão com espetáculos de música, teatro, literatura, performances e poesia. Entre os pontos altos do evento está a inauguração da biblioteca Haroldo de Campos, doada à instituição e que passa a ficar aberta para pesquisa pública."A Casa das Rosas ficou fechada por quatro meses, quando esteve ocupada pela mostra Casa Arte & Design no Brasil. A parceria público-privada inédita resultou em benfeitorias permanentes e fundamentais para a conservação do patrimônio. Juntos, realizamos uma reforma elétrica, revisão da hidráulica, a instalação de elevador para cadeirantes e rampas de acesso para portadores de deficiência física e ainda restauramos a edícula, transformada agora em um café. A Rave de reinauguração comemora a volta do público ao casarão”, afirma Frederico Barbosa, diretor da Casa.18 horas de programação

14h – No jardim da Casa das Rosas - TEATRO - Marragoni – A peça é uma recriação do texto “Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny”, de Bertolt Brecht e Kurt Weill e será apresentada pelo Núcleo de Teatro de Rua da ELT, sob direção de Ana Roxo. Conta e canta a história de Paulo Pimenta, lenhador da Amazônia que chega a Marragoni, a cidade dos sonhos e ilusões. Duração: 60 min. Vagas: ilimitadas.

16h – No subsolo da Casa das Rosas – Inauguração da BIBLIOTECA.Todos são convidados para o subterrâneo do casarão, onde o Governador José Serra e o Secretário de Estado da Cultura, João Sayad inauguram a Biblioteca Haroldo de Campos para visitação pública. Logo em seguida, os convidados seguem para o hall da Casa das Rosas, quando ex-diretores da instituição como José Roberto Aguilar, Cláudio Tozzi e Cildo Oliveira são recebidos pelo atual Frederico Barbosa em uma sessão de lembranças da construção deste projeto cultural da cidade de São Paulo. Duração: 60 min.

17h – No hall da Casa das Rosas – Série de LITERATURA - Desconcertos – A idéia é apresentar ao público novos proseadores brasileiros. Na Rave Cultural, o autor Paulo de Tarso, sob curadoria de Claudinei Vieira, lerá textos consagrados que influenciaram sua obra atual e em seguida apresentará ao público um texto inédito de sua autoria. Um bate-papo informal é aberto com a platéia. Duração: 60 min. Vagas: 100 lugares.

18h – No hall da Casa das Rosas – SHOW - três integrantes da banda Coisa Linda de Deus se juntaram com outros três músicos da Banda do Canil, formada por estudantes de música da USP, para formar o sexteto que se apresenta no dia 8 de dezembro. Com um repertório repleto de choros e temperados pelos timbres adocicados da flauta transversal de Nicolas Brandão e da escaleta do pianista Henrique Gomide, o grupo pretende apresentar, além dos choros, alguns sambas clássicos de Geraldo Pereira, Vinícius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque. Os músicos: Henrique Gomide (teclado e escaleta), Zé Motta (vocais), João Fideles (percussão), Gustavo Angimahtz (violão), Lucas Nobile (cavaquinho) e Nicolas Brandão (flauta transversal). Duração: 60 min. Vagas: ilimitadas.

19h – No hall da Casa das Rosas - SARAU Chama Poética - A “alegria” é o assunto dos versos que os poetas Antonio Lázaro de Almeida Prado e Cássio Junqueira são convidados a declamar para o público presente. A curadoria deste momento da Rave é de Fernanda de Almeida Prado. Além disso, o Sarau vai contar com a presença do grupo No Mesmo Barco, e dos músicos Ozias Stafuzza, Mariana Avena, Neno Miranda, Aurora Maciel e Cristina Pini. Duração: 60 min. Vagas: 100 lugares.

20h – No hall da Casa das Rosas – LANÇAMENTO – O poeta Glauco Mattoso lança, pelo selo Dix Editorial, o segundo volume da série "Mattosiana", intitulado "A aranha punk". Além das temáticas sugeridas pelo título, os sonetos deste livro homenageiam o personagem Níquel Náusea, do quadrinhista Fernando Gonzalez, que assina a ilustração da capa. Duração: 15 min. Vagas: 100 lugares.

20h15 - No hall da Casa das Rosas – SHOW Música e Poesia de Alice Ruiz – Uma pré-estréia do cd “No País de Alice” será realizada na Rave Cultural. A poetisa e cantora Alice Ruiz apresenta-se ao lado de Rogéria Holtz. No repertório, composições musicais feitas por Alice em parceria com pesos-pesados da música como Alzira Espíndola, Arnaldo Antunes, Itamar Assumpção, Rogéria Holtz, Zé Miguel Wisnik e Waltel Branco. Duração: 60 min. Vagas: ilimitadas.

21h – No hall da Casa das Rosas - MULTIMÍDIA - José Roberto Aguilar e a Banda Performática apresentam durante duas horas o melhor da invenção e performance multimídia. Formado pela necessidade de Aguilar - “filho” da vídeoarte e da performance - em pintar o mundo, a banda que nasceu em 1981 tem entre os integrantes Giba (guitarra), Marcos (baixo), Marcelo (bateria), César Maluf (teclados), Loop B (percussão), Daniela, Gabi e Aguilar (vocais), Nelson (vídeo) e Lenira (coreógrafa). Duração: 120 min. Vagas: ilimitadas.

21h – Na sala 1 da Casa das Rosas – VIDEOARTE - Paralelamente ao início da apresentação de José Roberto Aguilar e a Banda Performática, o vj Fábio Vietnica começa maratona de quatro horas de performances de imagens e sons lounge, criando um espaço para a videoarte e a música ambiente, que ocupa o espaço durante a madrugada. Duração 200 min. Vagas: 100 lugares.

22h30 – Na sala 2 da Casa das Rosas – PERFORMANCE Cama e Poesia – Dirigida por José Roberto Aguilar, a atriz Denise Passos protagoniza performance. Duração: 30 min. Vagas: 50 lugares.

23h – No hall da Casa das Rosas – RECITAL – O poeta Luiz Roberto Guedes apresenta Limericks eróticos de sua autoria, acompanhado do escritor Marcelino Freire e da banda formada pelos músicos Matheus Prado, Lu Horta, Luiz Gayotto e Marcelo Ferretti, que ficam para a atração seguinte. Duração: 15 min. Vagas: 100 lugares.

23h15 – No hall da Casa das Rosas – INTERAÇÃO - No "Saraokê", ao invés de cantar, o público é convidado a recitar poemas com um fundo musical especialmente criado pelos músicos Matheus Prado, Lu Horta, Luiz Gayotto e Marcelo Ferretti. Esta é uma ousada e divertida experiência de improvisação coletiva. Duração: 60 min. Vagas: ilimitadas.

1h – No hall da Casa das Rosas – SARAU - Rascunhos Poéticos. Apresenta o resultado do trabalho desenvolvido por grupos de criação poética dirigidos por Carlos Savasini e Osvaldo Pastorelli há dois anos. Dez novos autores vão ler trabalhos inéditos, com livre temática. Duração: 60 min. Vagas: 100 lugares.

2h – No hall, no primeiro andar e no jardim da Casa das Rosas - SHOW - Trio Zabumbão – O grupo de forró formado por Flavio Lima (Triângulo e voz), Chambinho (Acordeom) e Fabinho (Zabumba) coloca todo o público para dançar, em todos os espaços da Casa das Rosas. Duração: 120 min. Vagas: ilimitadas.

4h – No hall da Casa das Rosas – SARAU da Vacamarela - Coletivo formado por jovens poetas, que busca divulgar as tendências da poesia contemporânea. Além de promover o debate literário FLAP, a Vacamarela edita o jornal literário O Casulo. Duração: 60 min. Vagas: 100 lugares.

5h – No hall da Casa das Rosas – SHOW de Pedro Osmar e Amigos - Apresentam o melhor da música de invenção. Com a presença de Zeh Rocha, Vicente Barreto, Rafa Barreto, Gleiziane Pinheiro e Fábio Barros. Duração: 60 min. Vagas: 100 lugares.

7h – No hall da Casa das Rosas – CAFÉ DA MANHÃ – Para encerrar a maratona de shows, literatura, saraus, um café da manhã com pães, bolos, sucos, frios, café, leite, chocolate e chás será servido ao público, gratuitamente.

Novo site – Com a Rave Cultural, a Casa das Rosas inaugura também o novo site da instituição, no qual a nova programação do espaço poderá ser conferida pelo público. O site, além de informações de serviço aos freqüentadores, contém espaço para vídeos, notícias sobre o mundo literário, galeria de fotos, o histórico da Casa das Rosas, a biografia de Ramos de Azevedo e de Haroldo de Campos.

Diretor: Frederico BarbosaAv. Paulista, 37 -Bela VistaFone: 11 3285-6986/ 3288-9447Funcionamento: Aberta de terça a domingo, das 11h às 21h.
www.casadasrosas.sp.gov.br

Os nossos oferecimentos no Balcão TantaProsa da Sexta Literária

IV Festival de Música Beneficente do Jardim Jangadeiro traz Rappin´Hood, Leci Brandão e participação especial de Stanley Jordan

Grandes nomes irão se apresentar para um público de
10 mil pessoas no Capão Redondo

Um Grande Festival de Música na Periferia. Essa é a proposta do IV Festival de Música Beneficente do Jardim Jangadeiro, que acontece no dia 8 de dezembro no Capão Redondo, com 14 horas de show e mais de 15 bandas. O Festival irá representar nossa música com grandes nomes, como Rappin' Hood, Leci Brandão, Izzy Gordon, Johnny MC, Thulla, Manu Bantú e Sandália de Prata e ainda conta com o guitarrista norte-americano Stanley Jordan, grande nome do jazz internacional. Outros expoentes do hip hop, samba, charme, reggae e samba rock também prestigiarão o público do Jangadeiro.

A Dado Macedo Produções (DMP), realizadora do evento, pretende levar música popular de qualidade a um público composto por mais de 10 mil pessoas, que poderá apreciar as batidas bem marcadas de nossa brasilidade apenas com a doação de um quilo de alimento, que será revertida para a própria comunidade. A entrada gratuita é uma forma de possibilitar o acesso de qualquer cidadão ao evento e, de uma forma mais ampla, democratizar a cultura.

A iniciativa conta com o apoio do setor empresarial, que acredita na potência desse Festival como uma forma de engajamento e de ação política e social. Sérgio Morrison, da Social Moda, acredita que o show representa um investimento na própria comunidade, na medida em que a música tem um papel totalmente transformador. “Acredito muito no projeto, mesmo porque têm pessoas muito sérias envolvidas”, diz.

O Festival Jardim Jangadeiro, que já se encontra em sua quarta edição, reforça a opção pela aproximação da comunidade local com a arte, promovendo a inclusão social e artística de seus moradores. Além das apresentações, o público irá dispor dos quatro elementos do hip hop, DJ, grafitagem, break e MC´s e ainda beat box, free stile e low rider,

Negro Rauls, idealizador do festival, produziu os festivais passados somente com a verba para o transporte dos artistas e somente neste ano conseguiu patrocínio da Petrobras, através do 1º Edital Petrobras de Festivais de Música, projeto articulado pelo Ministério da Cultura e coordenado pelo Instituto Moreira Salles. Negro Rauls, morador do Capão Redondo, pretende presentear sua comunidade com um dia de muita celebração e muita música. “Quando o Negro Rauls nos apresentou o projeto do Festival imediatamente abraçamos a idéia”, explica Dado Macedo, da DMP.

Segundo Dado, o “Festival Jangadeiro é muito mais que um mero festival de música, ele é a pura manifestação de uma pessoa que se recusa a aceitar passivamente toda a injustiça e desamparo que o Estado impõe a todos nós”. Negro Rauls é ainda produtor cultural de inúmeros artistas e mentor e idealizador da ONG Janga + Ação.

O Festival propõe ser um espaço de coletividade para a diversidade cultural, um espaço legítimo de construção de identidades e de democratização. “É sempre bom poder tocar pro povão, que não tem dinheiro. Tem muita molecada aí que nunca conseguiria ir a um show como esses se não existisse esse Festival”, discursa Rappin´Hood.

Capão Redondo

O distrito de Capão Redondo, no qual o Bairro Jardim Jangadeiro está inserido, possui um dos índices de violência mais altos da cidade. Isto é demonstrativo da falta de investimento e ações sociais na região. O Festival de Música do Jardim Jangadeiro visa suprir parte desta lacuna, promovendo um espaço de paz e humanização.




Artistas convidados: Rappin' Hood - Cindy (Antonia) - Leci Brandão - Johnny MC - Izzy Gordon - Sandália de Prata - Tuca da Silva - Thulla –Manu Bantú - Império Z/O - Código Fatal - Os Guerreiros - Ruanda - Recepção - Coisa Da Antiga - DJ Marco - B-boy Nelson Triunfo - Grafiteiro Bonga – MC Locutor Adielson
Participação Especial: Stanley Jordan


Serviço:
IV Festival de Musica Beneficente do Jardim Jangadeiro
Praça do Jardim Jangadeiro
Rua João José Rodrigues - Capão Redondo
Dia: 8 de dezembro de 2007
Horário: a partir das 14h – Informações: fone: (11) 5870-1073
Site:
www.festivaljangadeiro.com.br
Credenciamento de Imprensa:
e-mail:
imprensa@dadomacedo.com.br
Denise Amaral e Vanessa Café – fone: (11) 2828-5231/ 5232

Javanidades na sexta toda prosa

O Homem Que Sabia Javanês é um conto de Lima Barreto escrito em 1911 (um ano depois da fundação do glorioso timão), em que dois personagens incluindo o que sabia falar Javanês e Castro sentam numa mesa de confeitaria e começam a papear sobre coisas da vida. Lembrou-me muito essas conversas dos tantaproseanos na mesa de bar...Acontece que o fim do conto é um tanto quanto esperado, mas mesmo assim não deixa de ser um bom texto.
O Homem do Javanês explica a seu amigo Castro como que conseguiu sucesso na vida mesmo sem saber falar Javanês:

"- Eu tinha chegado havia pouco ao Rio estava literalmente na miséria. Vivia fugido de casa de pensão em casa de pensão, sem saber onde e como ganhar dinheiro, quando li no Jornal do Comércio o anuncio seguinte:
'Precisa-se de um professor de língua javanesa. Cartas, etc.' Ora, disse cá comigo, está ali uma colocação que não terá muitos concorrentes; se eu capiscasse quatro palavras, ia apresentar-me. Saí do café e andei pelas ruas, sempre a imaginar-me professor de javanês, ganhando dinheiro, andando de bonde e sem encontros desagradáveis com os "cadáveres". Insensivelmente dirigi-me à Biblioteca Nacional. Não sabia bem que livro iria pedir; mas, entrei, entreguei o chapéu ao porteiro, recebi a senha e subi. Na escada, acudiu-me pedir a Grande Encyclopédie, letra J, a fim de consultar o artigo relativo a Java e a língua javanesa. Dito e feito. Fiquei sabendo, ao fim de alguns minutos, que Java era uma grande ilha do arquipélago de Sonda, colônia holandesa, e o javanês, língua aglutinante do grupo maleo-polinésico, possuía uma literatura digna de nota e escrita em caracteres derivados do velho alfabeto hindu.
A Encyclopédie dava-me indicação de trabalhos sobre a tal língua malaia e não tive dúvidas em consultar um deles. Copiei o alfabeto, a sua pronunciação figurada e saí. Andei pelas ruas, perambulando e mastigando letras. Na minha cabeça dançavam hieróglifos; de quando em quando consultava as minhas notas; entrava nos jardins e escrevia estes calungas na areia para guardá-los bem na memória e habituar a mão a escrevê-los.
À noite, quando pude entrar em casa sem ser visto, para evitar indiscretas perguntas do encarregado, ainda continuei no quarto a engolir o meu "a-b-c" malaio, e, com tanto afinco levei o propósito que, de manhã, o sabia perfeitamente.
Convenci-me que aquela era a língua mais fácil do mundo e saí... "


Sabemos da existência de figurinhas tarimbadas no nosso mundão de uspianidades que só pelas três letras atingem um mar de possibilidades de empregos. O conhecimento está aí para todos acessarem, mas títulos não indicam nada. Numa conversa informal pude defender a idéia de que na vida é necessário saber se comunicar, dialogar, argumentar e saber ouvir pensando rápido e não deixando que a paixão tome conta de suas palavras a todo instante...Bingo! tá aí uma das regras de comunicação do Grice e suas máximas conversacionais e o Princípio de Cooperação: "seja claro, seja breve, seja relevante, seja verdadeiro e seja feliz".
O personagem bom de papo pseudo-sabedor de Javanês por algum momento não foi verdadeiro para o mundo, mas não enganou a si próprio e acreditou até o fim que seria possível conseguir sucesso ensinando Javanês mesmo sem saber ao certo como funcionava essa língua.
A máxima de Grice sobre a verdade ao meu ver deve ser seguida que foi furada em passagens do conto...sei não...Penso realmente que todas as máximas conversacionais devem ser levadas em conta com isso a possibiliddade de felicidade com a comunicação quase-perfeita é bem maior.


Mais um pouco do conto para servir de argumento...

"Ao cabo de dois dias, recebia eu uma carta para ir falar ao doutor Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de Jacuecanga, à Rua Conde de Bonfim, não me recordo bem que numero. E preciso não te esqueceres que entrementes continuei estudando o meu malaio, isto é, o tal javanês. Além do alfabeto, fiquei sabendo o nome de alguns autores, também perguntar e responder "como está o senhor?" - e duas ou três regras de gramática, lastrado todo esse saber com vinte palavras do léxico.
Não imaginas as grandes dificuldades com que lutei, para arranjar os quatrocentos réis da viagem! É mais fácil - podes ficar certo - aprender o javanês... Fui a pé. Cheguei suadíssimo; e, Com maternal carinho, as anosas mangueiras, que se perfilavam em alameda diante da casa do titular, me receberam, me acolheram e me reconfortaram. Em toda a minha vida, foi o único momento em que cheguei a sentir a simpatia da natureza...

(...)
Esperei um instante o dono da casa. Tardou um pouco. Um tanto trôpego, com o lenço de alcobaça na mão, tomando veneravelmente o simonte de antanho, foi cheio de respeito que o vi chegar. Tive vontade de ir-me embora. Mesmo se não fosse ele o discípulo, era sempre um crime mistificar aquele ancião, cuja velhice trazia à tona do meu pensamento alguma coisa de augusto, de sagrado. Hesitei, mas fiquei.
- Eu sou, avancei, o professor de javanês, que o senhor disse precisar.
- Sente-se, respondeu-me o velho. O senhor é daqui, do Rio?
- Não, sou de Canavieiras.
- Como? fez ele. Fale um pouco alto, que sou surdo, - Sou de Canavieiras, na Bahia, insisti eu. - Onde fez os seus estudos?
- Em São Salvador.
- Em onde aprendeu o javanês? indagou ele, com aquela teimosia peculiar aos velhos.
Não contava com essa pergunta, mas imediatamente arquitetei uma mentira. Contei-lhe que meu pai era javanês. Tripulante de um navio mercante, viera ter à Bahia, estabelecera-se nas proximidades de Canavieiras como pescador, casara, prosperara e fora com ele que aprendi javanês.
- E ele acreditou? E o físico? perguntou meu amigo, que até então me ouvira calado.
- Não sou, objetei, lá muito diferente de um javanês. Estes meus cabelos corridos, duros e grossos e a minha pele basané podem dar-me muito bem o aspecto de um mestiço de malaio...Tu sabes bem que, entre nós, há de tudo: índios, malaios, taitianos, malgaches, guanches, até godos. É uma comparsaria de raças e tipos de fazer inveja ao mundo inteiro.
- Bem, fez o meu amigo, continua.
- O velho, emendei eu, ouviu-me atentamente, considerou demoradamente o meu físico, pareceu que me julgava de fato filho de malaio e perguntou-me com doçura:
- Então está disposto a ensinar-me javanês?
- A resposta saiu-me sem querer: - Pois não."


No fim da conversa o suposto proessor de Javanês conta a seu amigo como continuou a se dar bem, só com discursos e puro convencimento...minha nossa, depois de dar o conto mamão com açúcar de colher na boca pra vocês, agora só lendo o final.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Um País Chamado Futebol!

Chegamos a Dezembro, mês de férias em Prosatantsky. Como todo bom político, o Ministro aqui gosta de viajar, e nada melhor do que relatar no blog minha visão sobre os lugares maravilhosos que visito. Desta vez não fui para nenhum país do Atlas terrestre, preferindo conhecer um pouco das terras míticas que circundam o lar dos utópicos. Como tudo por aqui é novo e complicado de descrever em nosso vocabulário, farei uma comparação entre o país “Futebol” e o último lugar que visitei fora de Prosatantsky, o Brasil. A começar que em Futebol tudo funciona! Aqui temos uma espécie de organização coletiva inconsciente, onde as pessoas sabem exatamente como se estabelecer em seus territórios, não havendo invasão de terras, nem ocupação de propriedades. Aliás, isso ocorre porque cada família tem sua própria casa, aqui chamada de estádio. No Brasil já não, pois apesar de ter um território maior que a Europa Ocidental inteira, grandes extensões de terras estão concentradas nas mãos de algumas poucas famílias, deixando um bando de seres humanos a viver sem um lar. Outra coisa que me chamou atenção em Futebol são os problemas relacionados à segurança. Nada tão grave quanto o crime organizado do Brasil é claro, mas não posso negar que aqui não ocorra violência. É costume em Futebol que uma família convide outra para sua residência a fim de conversarem amistosamente, ocorrendo em muitos casos até uma confraternização mais íntima, representada pela troca de camisas entre os convidados. Porém, como as famílias são numerosas, de vez em quando ocorrem brigas e desavenças que extrapolam para alguns chutes e pontapés. O interessante é que o núcleo familiar, chamado de “time”, sempre desaprova e faz verdadeira campanha contra essas brigas. No Brasil já não! Quase sempre as brigas são resolvidas na justiça, dando causa ganha a quem possuir mais dinheiro. Agora o que mais me orgulhei de ver em Futebol foi a consciência política de seus cidadãos. Quase toda a população busca se informar a respeito de seu time, lendo jornais (assunto dos mais vendidos no país), consultando internet, assistindo noticiário, e pasmem, criticam vorazmente as noticias que recebem, comentando nas praças, coletivos, bares e em qualquer outro lugar que vão. Fiquei feliz em chegar num momento oportuno em Futebol, pois pude presenciar o povo em massa rumando ao diretório de uma das maiores famílias do país, a “Corinthians”. Invadiram a sede exigindo mais respeito com o nome que carregavam, cobraram mudanças e fizeram ameaças a seus dirigentes. O Brasil deveria urgentemente se espelhar em Futebol! Talvez assim resolvesse os problemas com seu Senado corrupto e sua população preguiçosa que só sabe reclamar sentada em frente à televisão.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Quarta MeiaBoca...

AAAAAI QUE PREGUIÇA


To muito displicente com as minhas quartas, mas prometo pra vocês que as coisas irão mudar. PORÉM, ENQUANTO NÃO MUDAM vai mais uma criticazinha pequinininha sem vergonhazinha que eu tinha feito há um tempo e não tinha publicado:


E VICE-VERSA



Essa semana, eu assisti pela primeira vez “O bebe de Rosemary” do Polanski. E me espanta que 39 anos depois, com toda a grana que as produtoras de hoje disponibilizam para um filme de terror, com todos os efeitos especiais e mirabolâncias que a gente vê, os monstros feitos em CG, as japonesas-de-cabelo-na-cara que ficam saindo das Tvs alheias e tudo mais, um filme sem nenhum recurso do tipo e que trabalha só na base sugestão dá de mil a zero em qualquer outro cheio de balangandãs. A quantidade de referencias e mensagens que passam durante as 2 horas a pouco de filme é impressionante, tanto que me instigaram a assisti-lo de novo. E sem aqueles closes do tipo “Olha aqui!!! Uma cruz de ponta cabeça!!!”. O Polanski, diferente dos diretores de hoje em dia, sabe que o espectador não é burro, sabe que você não precisa de uma “música de susto” nem precisa mostrar tudo o que há de referencias ao satanismo no filme com tomadas desesperadas. Se você tem uma atriz em boa forma (Mia Farrow), um elenco bom o suficiente pra segurar a onda (John Cassavetes, Ruth Gordon-a velhinha mais intrometida da história do cinema- Sidney Blackmer...) e um consultor de satanismo a disposição (como Polanski tinha), é só colocar as coisas lá, entre as cenas nós veremos e nos assustaremos, pois a nossa imaginação é sempre muito mais criativa do que qualquer monstro de borracha ou Flash. Clássico é clássico...

Título Original: Rosemary's Baby
Gênero: Terror
Tempo de Duração: 142 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 1968
Estúdio: Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures
Direção: Roman Polanski
Roteiro: Roman Polanski, baseado em livro de Ira Levin
Produção: William Castle e Dona Holloway
Música: Christopher Komeda
Direção de Fotografia: William A. Fraker
Desenho de Produção: Richard Sylbert
Direção de Arte: Joel Schiller
Figurino: Anthea Sylbert
Edição: Sam O'Steen e Bob Wyman
Elenco
Mia Farrow (Rosemary Woodhouse)
John Cassavetes (Guy Woodhouse)
Ruth Gordon (Minnie Castlevet)
Sidney Blackmer (Roman Castlevet)
Maurice Evans (Edward "Hutch" Hutchins)
Ralph Bellamy (Dr. Abe Sapirstein)
Victoria Vetri (Terry Gionoffrio)