quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Quarta meiaEntrada - O Básico da MPB III

NOVOS BAIANOS


"Acabou Chorare"
Esse é um clássico, talvez o mais básico entre os “básicos” dessa lista. Tem muito de João Gilberto nesse disco, muita influência e, diga-se de passagem, é muito melhor ouvir quem pensa em João Gilberto do que ouvir o que o João pensa. É disco mais comedido do que muitos pensam (incluo aqui pra fazer parzinho com as mocinhas de saia rodada e todo o resto que eu to de saco cheio de repetir, mocinhos que falam manso, tem a barba malfeita e cabelo comprido e que também usam pouca maquiagem entre os que pensam, se é que pensam). Uma boa pra você soltar numa rodinha repleta desses mocinhos e mocinhas é que a influência do João foi muito mais direta do que se imagina, pois na época desse disco a maior parte dos Novos Baianos morava no rio, no mesmo hotel onde morava o João e eles trocaram muitas informações musicais durante a gravação de “Acabou Chorare”. Os violões mais contidos nesse disco (perceba ao ouvir, a suavidade da faixa que dá título ao disco) refletem essa troca de informações. Aproveite também e mostre aos mocinhos de fala mansa, barba mal feita, cabelo comprido e pouca maquiagem que você não se limita a ficar fechado no Brasil e que sabe que esse disco também é considerado o melhor disco de música brasileira de todos os tempos pela Rolling Stone. Desse disco é possível dizer também que há a ratificação do termo “Baianidade” e todos as suas ramificações, para mal e para bem. Merece bastante atenção a versão de “Brasil-Pandeiro” (um samba dos anos 40 do também baiano Assis Valente), a magnífica “Mistério do Planeta, talvez a melhor composição da banda, e a clássica “Preta Pretinha”. O Pepeu Gomes estava na melhor fase dele, é só isso já seria o suficiente pra torna “Acabou Chorare” básico.
Outra curiosidade: O título do disco e da faixa dentro do disco se refere a filha do Galvão (letrista da banda), que vivia junto com o Novos Baianos, que por sua vez vivam juntos de muitos bolivianos, chilenos e outros latino-americanos, numa espécie de comunidade Hippie. A menina, na época com 2 ou 3 anos aprendia suas primeiras palavras em português e castelhano ao mesmo tempo, fazendo uma mistura das duas línguas, adicionada a sua própria interpretação criativa. Numa manhã, a menina se assustou ao ver uma abelha entrar em seu quarto. Socorrida pelo pai, ao se acalmar dizia a ele: “acabou chorare, pai”. A letra da música é justamente uma brincadeira com o modo de falar de menina.

Um comentário:

Tiozinho Vinil disse...

texto muito excelente, senhor doutor clone. Gostaria de saber se é da competência do senhor escrever um texto sério, sobre um assunto sério, com considerações sérias.

Sim, porque vendo o senhor doutor Vinix (ou vinistro como soube pelo submundo) escrevendo textos satíricos, podemos deduzir que ele sabe muito bem (assim como seus comparsas) parodiar um blog sério, legítimo, que trata de assuntos sérios e legítimos.

Estou ansioso por ver o senhor escrever sobre o que realmente faz diferença na Música brasileira (sim, com letra maiúscula). Fale do Latino, por exemplo, que é o código genético da musicalidade canarinha. ou sobre a pluralidade e ao mesmo tempo, singularidade, da sua pupila, a nossa senhora Kelly Key, que com tanto carisma e inteligência transformou o jeito de se fazer jazz no mundo inteiro.

Quem sabe uma série de posts a respeito da felpuda e pomposa e gorda contribuição musical que o Netinho legou à bossa-nova?

De qualquer forma, mesmo quando não fala de assuntos verdadeiros, mesmo quando trabalha com a paródia, o texto do senhor é excelente.

Parabéns meu cover.