quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Movimento Estudantil

Faço aqui algumas observações pessoais sobre o movimento estudantil hoje no Brasil. Baseio-me nos 4 anos de vida acadêmica no curso de história da USP.
Divido o movimento estudantil de modo esquemático em 3 grandes grupos. Os que pertencem a organizações políticas e/ou partidárias, como PSOL, PSTU, PT, PC do B, PCO, NN (Negação da Negação), LER-QI (Liga Estratégica Revolucionária – Quarta Internacional); os Anarquistas; e os Independentes.
Na maioria das vezes que pude observar, a direção do movimento foi disputada entre os membros de organizações político-partidárias e os anarquistas. Coube a esses dois grupos a iniciativa de ações concretas, as falas ao microfone e a defesa de propostas. Isso se explica devido à formação intelectual mais sólida que eles possuem, pois, para defender uma ideologia ou uma agremiação política de modo vigoroso como fazem, devem dominar de modo razoável a literatura política, e muitas vezes já estão acostumados a debates internos dentro de seus grupos. Os independentes compõem um grupo bastante heterogêneo, que abrange conservadores querendo fazer média com os colegas, antigos membros ou simpatizantes de partidos desiludidos com a agremiação (ex-petistas, principalmente), uma minoria de tucanos e democratas enrustidos tentando conduzir, sem efeito, o movimento nos bastidores, os angustiados que não sabem o quê defender mas sabem contra o quê lutar e os oportunistas que aparecem nessas ocasiões mais para xavecar alguém ou fazer amigos do que pela causa em si. Os independentes são essenciais para compor o movimento, pois lhe dão corpo e expressão numérica. As ramificações e subdivisões nesses grupos são praticamente infinitas, mas há uma forte tendência anarquizante no movimento, dado principalmente pela força que os próprios anarquistas ainda têm e a desconfiança que grande parte dos independentes possuem em relação às agremiações políticas. Se na década de 60 era fácil fazer uma lista de lideranças estudantis, dificilmente temos hoje alguém que poderia se enquadrar nessa categoria. Vladimir Palmeira, José Dirceu e José Serra (que coisa, hein?) já eram conhecidos quando agitavam a cena política nacional (devido à publicidade gerada pela perseguição que sofriam dos militares e pela representatividade de que desfrutavam as entidades estudantis com suas bases) ao passo que hoje, apesar das ocupações de reitoria que se espalharam pelo país, não temos um grupo que possamos chamar de líderes do movimento. O próprio conceito de “ação direta” está muito mais atrelado ao movimento anarquista do que socialista ou comunista. Sendo os últimos compostos por organizações na maioria das vezes extremamente hierarquizadas e, conseqüentemente, dependentes de uma cúpula, a desconfiança que os Independentes e demais estudantes depositam sobre os comunistas e socialistas vinculados a organizações é enorme. As próprias assembléias e comissões implementadas durantes os processos de luta também têm características anarquistas: geralmente são abertas a qualquer um que queira participar. As conseqüências são basicamente duas:
Primeiro, estrategicamente a ausência de lideranças torna o movimento mais dinâmico, posto que, se um membro cai, a renovação é menos dolorosa, pois não ocupava um cargo essencial para o processo. Além disso todo ano tem Vestibular e um número pequeno mas bastante ativo de descontentes entra na Universidade.
Segundo, o processo se torna mais dinâmico porém mais caótico, pois não possui uma orientação clara a não ser o posicionamento contrário a determinada situação. Por exemplo, contra os decretos de José Serra, ou contra a reforma universitária do governo Lula. Fora esses pontos em comum, as divergências entre Político-Partidários, Anarquistas e Independentes são enormes. De qualquer maneira, considerando que se vive uma “crise das utopias” e que a juventude hoje é caracterizada como apática, deu pra ver que o movimento estudantil é muito mais rico e complexo do que faz supor uma observação despreocupada sobre as manchetes da TV, dos jornais e das revistas.

Um comentário:

Tio Vinix disse...

sempre quis usar "ao passo" num texto meu...

o que acontece tb é que hj os movimentos estudantis são cada vez mais fechados em si, vc não ve nenhum dos grupos pelo menos tentar contato com as camadas não-estudatis. Pra mim isso é um erro fatal, que faz com que esse movimentos sigam a maré individualista dostempos em que estamos, ou seja na verdade não fazem mesmo muita diferença, e não se preocupam em fazer.