E não é que a USP criou moda com a invasão de reitorias! Pois é, agora a UNB (Universidade de Brasília) é quem usa desse artifício para conquistar suas reivindicações. Eu confesso que, no inicio, fui contra a ocupação da mesma. Mas Ministro, o senhor não foi a favor da ocupação na USP? Por que foi contra à da UNB? É, acontece que a ocupação da reitoria na USP foi feita por questões internas à universidade. A luta era por melhores moradias, comida e reformas nos prédios de algumas faculdades. Em Brasília o problema era outro. O pedido de renuncia do reitor Timothy Mullholand envolve um escândalo de corrupção e mau uso do dinheiro público. Ou seja, os protestos não deveriam limitar-se ao espaço da UNB, porque não foi ela a única lesada. Greves e manifestações em toda cidade (como passeatas, por exemplo) seriam bem mais interessantes a meu ver. Mas tudo bem, os alunos da UNB acabaram reivindicando algo interno à instituição apenas (o uso do dinheiro para construção e reforma de moradia estudantil), o que por um lado legitimaria a invasão da reitoria, mas por outro afastaria a mesma universidade de uma participação mais ativa da sociedade em geral. Dessa forma presenciamos em Brasília os mesmos problemas que as universidades públicas de São Paulo enfrentam: falta de reconhecimento dos cidadãos sobre a importância e a necessidade de defenderem um patrimônio e instituição pública capaz de oferecer serviços de excelência a eles. Esse processo de não identificação da universidade com a sociedade a sua volta acaba por prejudicar em muito a legitimação dos atos em prol da luta por melhorias, ou por questões de corrupção mesmo, afinal a população além de não saber o que ocorre lá dentro, sequer consegue acesso à universidade. A chance que a UNB teve de usar um problema mais amplo (o uso de dinheiro público) para agregar seu espaço com a população de Brasília foi descartado, preferindo-se somente envolver órgãos e instituições ligados a atividade intelectual da mesma. É uma pena que uma oportunidade dessas acabou sendo deixada de lado. Agora resta ver se, através de suas forças internas apenas, a universidade conseguirá seus intentos (voltados somente a ela).
quinta-feira, 10 de abril de 2008
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5 comentários:
algumas observações:
1 - a ocupação da reitoria da USP ocorreu principalmente contra os decretos do governador José Serra, que foram entendidos como interferência na autonomia universitária. Moradia e reformas constavam da pauta, mas não eram o cerne da questão. Tanto é que foi a questão da autonomia que propiciou a aglutinação inicial, com debates sobre o tema em diversas unidades da USP que normalmente têm atividades políticas bem mais frias que a FFLCH, como a FEA, a Poli e o Direito.
2- É pertinente sua crítica ao caráter interno do movimento na UNB e a ausência de relações mais orgânicas entre a comunidade acadêmica e sociedade em geral, porém creio que a ocupação da reitoria tem uma eficácia política muito maior do que uma passeata na rua. Duvido muito que o reitor abandonasse seu posto caso os estudantes, em vez de tomarem a reitoria, fossem às ruas. Em 2005, em SP, qdo professores e estudantes organizaram uma greve e promoveram passeatas contra o veto do governador ao aumento do repasse do ICMS às universidades, a Av. Paulista foi fechada, houve confronto com a PM, e mesmo assim o veto foi mantido. Ao passo que, com a ocupação da reitoria da USP, houve algumas conquistas pontuais (bandejão e circular aos domingos, reformas e ampliação da moradia), e o decreto, apesar de não ter sido revogado, foi, digamos, "alterado" por um ato declaratório.
Ah, sim. Uma conquista muito importante da ocupação da reitoria da USP foi o esvaziameto da Secretaria de Ensino Superior, entendida como interferência do Governo do Estado na autonomia universitária. Havia tb um ponto muito polêmico que direcionava a educação a um ensino "operacional."
A discussão era muito além de prédio e comida, pois passava tb pelo modelo de educação que desejamos e esperamos de uma universidade pública.
Mesmo assim... a USP não fez manifestações sobre desvio de dinheiro publico pela administração de sua reitoria. Corrupção, uso de dinheiro para reformas particulares... essas coisas tiveram um impacto na mídia muito grande, tanto que os jornais, em sua maioria, não estão transformando o movimento da UNB numa coisa anarquica e marginal como o caso da USP. Como eu disse, apoio a invasão da UNB pelo simples fato de converterem as exigencias para um âmbito mais interno à instituição. Mas a greve, nesse caso, poderia ser eficaz por contar com apoio da população, veiculos de comunicação e mesmo a justiça que através do MP está abrindo processos atrás de processos de investigação do reito Mulholland.
Todas essas discussões infelizmente que não passaram ou melhor, não se estenderam pra fora do círculo universitário, o que conribui de forma talvez involuntária para o isolamento das questões estudantis, deixando elas a vista do grande público como problemas que não fazem parte da estrutura do país, o que é ao meu ver, o grande golpe de quem detém o poder sobres estas Universidades.
No caso da USP era bem dificil mesmo extrapolar os limites do Butantã... na UNB, pra mim, foi uma escolha infeliz, mas que deu certo... Certo entre aspas, pq poderia ter quebrado justamente isso que vc chama a atençao (Vinix), o isolamento.
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